Sírio Jacó Lottermann acordou com uma conversa de vizinhas. “Que tragédia! Para morrer, basta estar vivo”, disse uma delas. Era manhã de terça-feira. Sem entender, levantou e foi até o muro de casa para ver onde o vizinho e amigo, Eli Miguel de Lima Pinto, costumava deixar o carro. A vaga improvisada sob a copa de uma árvore permanecia vazia. Ao meio-dia, ligou a TV para assistir a um telejornal quando viu a notícia de um acidente com cinco mortes envolvendo um carro de Blumenau no Paraná.

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:: Acidente envolvendo carro de Blumenau mata cinco pessoas da mesma família no Paraná

– Vi nas fotos que era um Siena e que o final da placa era 17. O mesmo do dele. Pensei: pronto, é o carro do Bimba.

Bimba era o apelido pelo qual Sírio tratava o amigo. Por volta das 5h de terça-feira, Eli e outras quatro pessoas morreram em um acidente de trânsito na rodovia BR-163, em Toledo, no Oeste do Paraná. Além de Eli, morador de Blumenau, estavam no carro outras quatro familiares que moravam na região metropolitana de Curitiba: a irmã dele, Seloir de Lima Pinto, 41, a sobrinha Carla Dinarte de Oliveira, 30 anos, e os dois filhos dela: uma menina de 11 anos e um bebê de 11 meses. Os cinco ocupantes morreram. O local da batida é um trecho de pista simples e faixa contínua e a causa da colisão ainda não foi identificada.

Eli havia ido para o Paraná no domingo para o velório de uma irmã. O enterro ocorreu na cidade de Cruzeiro do Oeste, que fica a cerca de duas horas do local do acidente. Eles voltavam do sepultamento no momento do acidente. As cinco vítimas foram veladas nesta quarta em Colombo (PR).

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Eli se mudou do Paraná para Blumenau há pouco mais de 20 anos, fazendo o mesmo caminho de alguns tios e primos que seguem até hoje na cidade. No começo, morou de aluguel e, há mais de 10 anos, residia em uma casa azul comprada no bairro Nova Esperança. No local em que ele mora, a maioria dos primos e vizinhos não chegou a ir ao funeral, mas mesmo assim o clima era de consternação. Era lá que passava a maior parte do tempo. Segundo a tia de Eli, Evanir Ledi Pinto, ele não gostava de sair. Falava pouco, mesmo com amigos e familiares, mas era bem-humorado e costumava dividir chimarrão com o amigo Sírio, com quem conversou pela última vez na sexta-feira.

– Foi tudo muito triste, na volta de um velório. Mas a vida é um relógio. A gente tem que aproveitar porque não sabe até quando estará por aqui – teoriza a tia Evanir.

Eli trabalhava como vigilante em casas da Rua Coronel Feddersen, no bairro Itoupava Seca, em Blumenau. Não era casado, mas tinha dois filhos – uma delas mora no Alto Vale e costumava visitá-lo. Na casa em que Eli morava, cuidava de uma pequena horta com cebolinha, alface e chuchu. A chuteira sob o armário e a toalha no varal até sugerem que o dono esteja prestes a voltar. No entanto, os planos de comprar um carro novo e de se mudar para um sítio no Paraná depois de se aposentar acabaram sendo interrompidos depois do acidente desta terça.

– É muito difícil acreditar, era uma pessoa boa, um amigo, estávamos sempre juntos – conta o vizinho e amigo, que não conseguiu dormir em razão do luto nesta quarta-feira.

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