Visto pelo mundo inteiro ao lado de Jorge Bergoglio na quarta-feira, quando o argentino apareceu na sacada da Basílica de São Pedro e se apresentou como papa Francisco, o cardeal brasileiro dom Cláudio Hummes, hospedado em um quarto na casa provincial dos franciscanos, em Roma, perfila-se como possível ocupante de cargos relevantes no Vaticano. Cogita-se, inclusive, que ele possa vir a ser secretário de Estado.

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Os sinais nesse sentido já vão além da antiga amizade entre os dois religiosos, que se tornaram cardeais juntos. Dom Cláudio não sairá da capital italiana até que sejam definidos os nomes da equipe do novo papa.

Gaúcho de Brochier, o cardeal brasileiro tem crescido nas especulações. Ele teria sido determinante nas articulações que levaram o argentino a ser eleito. A relação entre os dois teria se estreitado ainda mais.

No dia do anúncio de Bergoglio, na quarta-feira, Zero Hora ouviu comentários a esse respeito na Cúria de São Paulo, onde dom Cláudio já foi arcebispo.

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– Ele vai embora no dia 23, se não me engano. Em princípio, está esperando que o Papa confirme os cargos. Ele (dom Cláudio) tem uma reunião aqui no dia 22 (a definição dos cargos deve anteceder o encontro) – disse o frei Nestor Schwerz, representante em Roma da América Latina na ordem franciscana. – Dom Cláudio é muito próximo dele, sentavam-se juntos, lado a lado, no conclave, e depois, na saída da Capela Sistina, o novo Papa convidou-o para estar ao seu lado na sacada. Criou-se uma relação de amizade, de partilha.

Frei Nestor ressalva, porém, que a ausência de comentários por parte de dom Cláudio não significa a inexistência de um convite. Sinaliza apenas que o cardeal gaúcho evita comentar esse tipo de assunto.

– Ele está muito contente com o novo Papa e com o fato de ter escolhido o nome Francisco, que vai ter uma relação mais próxima com o povo, que haverá uma mudança de estilo (no Papado) – disse Nestor.

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Amigo de Bergoglio desde 1974, o padre espanhol Jesús Hortal, que vive há 54 anos no Brasil (25 deles no Rio Grande do Sul, entre Porto Alegre e São Leopoldo), faz referência ao que considera um empecilho para a escolha de dom Cláudio: a idade. Diz que, aos 86 anos (na verdade, dom Cláudio tem 79), os religiosos não ocupam cargos como o de secretário de Estado.

Presença do brasileiro na sacada com o Papa é emblemática

Hortal elogia o amigo, com quem continuou mantendo encontros por anos afora (especialmente nas suas viagens a Buenos Aires), pela simplicidade demonstrada já nos primeiros momentos após a eleição para o papado.

Outro jesuíta, o padre Attilio Hartmann, que também trabalha como livreiro em Porto Alegre, discorda de Hortal a respeito de dom Cláudio. Comenta que os jesuítas se entendem pelo olhar, pela simbologia dos gestos. Acha possível a cooperação entre o papa e o hoje arcebispo emérito de São Paulo.

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– Quis passar uma mensagem, dar visibilidade a essa opção por Francisco. Dom Cláudio é franciscano. Os dois são amigos – interpreta.

Jornal italiano ressalta papel de dom Cláudio

A influência do cardeal Cláudio Hummes junto ao Vaticano ganhou ontem uma confirmação de peso. O jornal italiano Il Messaggero atribuiu a assunção do papa Francisco às costuras políticas executadas pelo ex-arcebispo de São Paulo. O título da publicação: “O amigo brasileiro do Papa desbloqueou o conclave”.

Na reportagem, o Il Messaggero revela que dom Cláudio foi “infatigável e paciente” ao construir uma rede de apoios, até consolidar uma plataforma de consenso em torno do nome de Jorge Mario Bergoglio. O momento surgiu quando os candidatos favoritos – o italiano Angelo Scola, o brasileiro Odilo Scherer e o americano Sean O?Malley – começaram a decair na cotação.

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– Certamente é o seu maior eleitor e amigo fiel – informa o jornal, referindo-se a dom Claudio.

O bispo brasileiro teria percebido que havia resistências em relação aos favoritos, especialmente por parte dos cardeais italianos. Ao convidar dom Claudio para acompanhá-lo à sacada do Vaticano, quando foi apresentado como novo papa, Bergoglio reconheceu a ajuda recebida.

O brasileiro dom João Braz de Aviz conta que presenciou quando o papa Francisco convidou dom Claudio para ficar ao seu lado no balcão.

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– Isso, pra nós, foi de uma beleza muito grande. É um sinalzinho bonito pra nós (brasileiros), pra gente se ajudar e se querer bem – observou dom Aviz.

Entre os outros cardeais brasileiros que participaram do conclave, os laços entre dom Claudio e o bispo argentino nunca foram novidade. Um dos papáveis, dom Odilo Scherer lembrou que dom Claudio também é franciscano, ordem fundada por São Francisco de Assis, a quem o papa homenageou com a escolha do nome. O cardeal disse:

– São amigos, ligados, próximos, já participaram do outro conclave também (em 2005).

Se a informação do jornal italiano for acertada, a eleição do argentino Bergoglio mostraria uma divisão entre os bispos brasileiros. A aliança não seria geográfica, mas por afinidades.

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* leo.gerchmann@zerohora.com.br

nilson.mariano@zerohora.com.br