“Estou me sentindo como o protagonista de A Metamorfose, de Franz Kafka, que de um dia para outro se transforma num inseto e passa a ser perseguido pelos outros”.
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Essa teria sido a frase proferida por Henrique Pizzolato à época em que estourou o escândalo do Mensalão, em 2005, quando foi acusado por permitir o repasse de recursos à empresa de publicidade de Marcos Valério.
Quem ouviu tal referência ao clássico da literatura foi um dos melhores amigos do foragido, um senhor sexagenário e aposentado pelo Banco do Brasil (BB) que prefere se identificar apenas como A.Z. Morador de Concórdia, o senhor, num primeiro momento, se nega a conversar com a reportagem, afirmando que nada tem a acrescentar à história. Cede quando percebe a oportunidade de defender seu amigo.
– Eu acredito que Henrique é inocente. Como diretor de marketing do BB, os repasses para empresa de publicidade deveriam ser autorizados por meio de notas técnicas. Ao todo eram quatro notas. O Henrique assinava uma, mas outras pessoas também assinavam. Por que só ele foi considerado culpado? – questiona A.Z, como se estivesse repetindo a defesa que Pizzolato um dia lhe dissera.
A.Z e Pizzolato se conheceram ainda jovens. Participaram juntos de um grupo de jovens e depois dividiram o mesmo local de trabalho quando Pizzolato foi admitido na agência do BB em Concórdia, onde começou sua carreira como auxiliar de escriturário.
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Pizzolato saiu do pequeno município do Oeste catarinense pela primeira vez para prestar serviço militar em Brasília. Após um breve retorno à sua cidade natal, partiu para o Rio Grande do Sul para estudar Arquitetura e continuar trabalhando no BB. Anos depois, já em Toledo (PR), Pizzolato galgava posições de liderança no sindicato dos bancários e, filiado ao PT, saiu candidato ao governo paranaense em 1990.
– Ele sabia que não ia ganhar. Aquela eleição já estava para o Roberto Requião. Henrique estava cumprindo sua missão de divulgar o PT no Estado, onde a sigla estava começando a crescer. Anos depois ele se candidatou à prefeitura de Toledo, mas também não conseguiu se eleger.
Para A.Z., o Supremo Tribunal Federal cometeu um grave erro e agiu de forma autoritária.
– Tenho a esperança de que algum dia o ministro Joaquim Barbosa reconheça o erro que cometeu e que haja um novo julgamento justo para o Henrique.