Os primeiros refugiados sírios recebidos no ano passado pelo Uruguai querem deixar o país, mas vários outros países latino-americanos se dizem dispostos a acolher uma parte dos milhares de refugiados dos conflitos do Oriente Médio.

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Acostumado a fazer declarações ressonantes, o presidente socialista da Venezuela, Nicolás Maduro, fiel apoiador do regime de Bashar Al-Assad, declarou na noite de segunda-feira querer que “venham 20.000 sírios, famílias sírias, à nossa pátria venezuelana”, que já conta com “uma grande comunidade síria”.

Mas seu anúncio não está isento de segundas intenções, comenta Elsa Cardozo, professora de Relações Internacionais em Caracas, para quem “o governo tenta maquiar com isto os danos provocados pelo estado de exceção e pelas deportações coletivas de colombianos” há três semanas, incluindo alguns que gozam do estatuto de refugiados.

A presidente Dilma Rousseff assegurou na segunda-feira que estava disposta a receber “de braços abertos” os refugiados que, “expulsos de sua pátria queiram vir viver, trabalhar e contribuir para a prosperidade e a paz do Brasil”.

Com mais de 2.000 refugiados sírios, o Brasil é o país da América Latina que acolheu mais cidadãos desta nacionalidade desde que começou a guerra em 2011.

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Há dois anos, o governo brasileiro flexibilizou os procedimentos de imigração para os sírios e se dispõe a prorrogar a medida.

“Tragédia”

“Durante os últimos quatro anos, passamos de 4.000 para 8.400 refugiados”, explica à AFP Beto Vasconcellos, funcionário do ministério da Justiça e do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare) do Brasil.

Contudo, o número de sírios que chegam a este país é “reduzido”. “No Rio, por exemplo, os refugiados mais numerosos vêm da República Democrática do Congo”, destaca o analista Fernando Branco, da Fundação Getúlio Vargas.

Outra situação ocorre no Chile, onde até o momento não chegou nenhum refugiado. Esta semana, o ministro das Relações Exteriores, Heraldo Muñoz, confirmou que “a decisão (de receber refugiados) foi tomada pela presidente Michele Bachelet” (esquerda).

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Bachelet havia dito na segunda-feira que o governo estava “trabalhando para acolher um importante número de refugiados, porque entendemos que a tragédia que está acontecendo é uma tragédia da humanidade”, embora não tenha dado nenhum detalhe sobre a origem ou o número de pessoas que o Chile receberá, nem em quais condições.

“Se nos pedirem, com muita satisfação estamos dispostos a abrir as portas”, disse no mesmo dia o presidente do Panamá, Juan Carlos Varela.

Na Argentina, um programa oficial destinado aos sírios em vigor desde outubro de 2014 permitiu receber 90 pessoas.

Alberto Adrianzén, representante do Peru no Parlamento Andino (que inclui também legisladores de Equador, Colômbia e Bolívia) propôs na segunda-feira criar um “visto humanitário” para os sírios. “Não podemos ficar de braços cruzados”.

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Nem tudo são flores

O Uruguai, ao contrário, um dos primeiros países da região em colocar em vigor, em 2012, um programa para receber 117 refugiados sírios, está tendo problemas com o asilo de refugiados.

Na segunda-feira, cinco famílias com crianças depositaram seus pertences em frente à sede da presidência, em Montevidéu, e pedem para abandonar o país, onde dizem encontrar dificuldades para se integrar e sérios problemas econômicos, apesar dos subsídios oficiais que recebem, que podem chegar até 2.000 dólares mensais, de acordo com o número de membros das famílias.

“Não deixamos a guerra para morrer aqui na pobreza”, declarou à AFP Maher el Dis, de 36 anos. “É um lugar que não está adaptado para os refugiados”, afirmou.

Fernando Branco acredita que, apesar da boa vontade governamental, no Brasil “não há uma política consolidada para receber refugiados. O Brasil não tem uma secretaria para se ocupar do tema e depende do ministério da Justiça. Até o momento, “isto segue sendo bastante caótico”, completa.

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O Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur) anunciou na terça-feira que ao longo do ano 380.000 migrantes originários de países em conflito chegarão à costa europeia após cruzar o Mediterrâneo.

A guerra civil na Síria, segundo a Acnur, obrigou 3,8 milhões de pessoas a fugir do país e outros 7,6 milhões se deslocaram internamente.

* AFP