Uma geração se define por suas características que surgem, normalmente, de modo gradual. Crenças e comportamentos se desenvolvem continuamente. No entanto, atualmente observamos uma tendência sem precedentes na história da humanidade. A partir de 2012, mudanças abruptas nos perfis emocionais e comportamentais dos adolescentes passaram a ser notados. As grandes diferenças para a geração que a antecedeu foram a maneira de se ver o mundo e como eles passam o seu tempo. Radicalmente diferente de tudo o que já ocorreu, essa nova geração mudou de modo drástico exatamente quando a proporção da população que possui um smartphone ultrapassou 50%. Alguns psicólogos já a chamam de iGen, moldados claramente pela influência das mídias sociais: estão crescendo com seus telefones, têm uma conta no Instagram e não conhecem o mundo antes da internet. Neste ano, uma pesquisa americana mostrou que três entre quatro adolescentes têm um iPhone.

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O impacto dessa dependência não tem sido devidamente avaliado. Mas já existem evidências da mudança radical na vida dos adolescentes em termos de saúde mental e interação social. Psicologicamente, eles se mostram mais vulneráveis: índices de depressão e suicídio têm substancialmente aumentado desde 2011 e não é um exagero descrever a iGen como uma população responsável por uma nova crise mental. Sabemos que apenas um simples fator não define uma geração: o comportamento dos pais importa, o currículo escolar, a cultura, etc. Mas a associação dos smartphones e das mídias sociais tem causado um abalo de magnitude nunca antes vista. Os encontros se dão muito mais pelos textos escritos do que pela conversação.

Nos EUA está ocorrendo um declínio da atividade e do início da vida sexual dos adolescentes (pesquisas mostram que o primeiro encontro sexual está ocorrendo um ano depois da geração anterior). Também se observa um declínio na vontade de tirar a carteira de habilitação para dirigir. Outro fator interessante é o prolongamento da adolescência: pessoas de 18 anos vêm agindo cada vez mais como se tivessem ainda 15. Imersos em seus telefones, a vida se passa presa ao tempo atual. Tudo o que precisam é uma boa conexão de internet e um quarto isolado.

A transição para as responsabilidades de um adulto está sendo adiada. O número de adolescentes que convivem pessoalmente com seus amigos caiu 40% de 2000 a 2015. Mas o pior já se faz sentir: a pesquisa The Monitoring the Future tem feito a vários jovens todos os anos desde 1975 um questionamento se eles se sentem felizes e como passam o seu tempo. Hoje é clara a infelicidade e ela está ligada às frustrações de mensagens não respondidas, fotos não curtidas etc. 56% dos pesquisados passam mais de 10 horas por dia em frente a seus celulares. Não sabemos os adultos que se formarão em algumas décadas, mas uma sociedade que não conhece o contexto social está fadada ao fracasso

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