Amamentar é pensar no futuro

Dois dias depois de Camile Koche nascer, a mãe Marichele Koche, de 24 anos, também precisou recorrer a profissionais que trabalham no Banco de Leite da Maternidade Darcy Vargas.

A menina não estava sugando corretamente o leite da mãe e, além do sentimento de frustração e impotência por não conseguir alimentar a filha, Marichele também sofria com as dores causadas pelas fissuras.

– Minha preocupação era que ela não conseguisse mais mamar -, conta, enquanto se prepara para mais uma tentativa no Banco de Leite.

Como a pequena Camile nasceu na Darcy Vargas, a mãe tinha sido informada sobre a assistência que o local presta nesses casos e procurou ajuda assim que percebeu que algo estava errado.

– Me mostraram como amamentar corretamente e agora ela está sugando direitinho. Até já ganhou um pouco de peso -, comenta, feliz, com a filha nos braços.

Neste ano, a Campanha Nacional de Amamentação, que integra a 21ª Semana Mundial de Amamentação, aconteceu na primeira semana de agosto com o slogan “Amamentar hoje é pensar no futuro”.

Essas essas ações de incentivo visam a reduzir a mortalidade infantil, já que o leite materno é um dos maiores aliados nesse combate. Só na última década, a taxa praticamente caiu pela metade no País, reduzida em 47%.

– A amamentação é um processo que está sendo reaprendido, é natural em todos os mamíferos, mas na década de 1940, com a Revolução Industrial, começou a se produzir leite industrializado e as pessoas passaram a oferecer esse tipo de leite para as crianças. Acontece que as pessoas sem poder aquisitivo o usavam de uma maneira inadequada, normalmente diluído com água. Com isso, houve um retrocesso completo e a morte por desnutrição cresceu de maneira espantosa – , explica o pediatra Edmundo Weber Filho.

Para mudar esse cenário, a partir dos anos 1970 foram criadas ações para mostrar a importância do aleitamento materno em todo o mundo, e os índices foram revertidos.

O pediatra explica que crianças amamentadas exclusivamente com leite materno até os seis meses _ período estabelecido pela Organização Mundial da Saúde _ têm maior imunidade contra uma série de doenças, como alergias, otites, problemas digestivos, cardiovasculares, diabetes e alguns tipos de linfoma, entre outros, além de benefícios nutricionais, emocionais, por criarem um maior vínculo afetivo com a mãe, e psicológicos.

– Existem vários trabalhos que provam que crianças que mamaram exclusivamente no peito até os seis meses possuem quociente de inteligência maior em até 7,1 pontos percentuais. Além disso, outras pesquisas apontam que essas crianças têm um índice muito menor de problemas com a Justiça -, acrescenta o médico.

As vantagens não são apenas para as crianças. As mamães que amamentam também são beneficiadas com redução de incidência de câncer de mama e ovário, menor índice de osteoporose, diminuição de sangramento do pós-parto porque o útero se contrai mais rápido e, consequentemente, têm menor risco de anemia, além de ficarem mais próximas do filho.

– Vale lembrar que se a mãe conseguir manter o aleitamento por tempo prolongado, os benefícios continuam para ela, para a criança e para a sociedade porque uma criança saudável e mais inteligente diminui os gastos com sistema de saúde e, com certeza, ajuda na construção de um país melhor -, conclui o pediatra.