Pelo menos dois cursos de graduação a distância da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) estão suspensos neste semestre. Alunos relatam que as aulas, que deveriam estar em andamento, não começaram ainda. O problema ocorre após a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes) suspender os repasses aos cursos oferecidos pelo programa Universidade Aberta do Brasil (UAB), alvo da Operação Ouvidos Moucos, que investiga suposto desvio de dinheiro no sistema.

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A direção da UFSC admite que não tem recebido as verbas, mas afirma que, mesmo sem os valores, por enquanto não há paralisação geral das atividades. No entanto, e-mails e mensagens trocadas entre alunos, professores e tutores da UAB obtidas pela reportagem revelam que as aulas estão suspensas nos cursos de Letras e Ciências Biológicas.

— Eles chegaram a passar um cronograma com matérias e horários do próximo semestre, mas depois veio outro dizendo que as aulas estavam suspensas e não tinha previsão de retomar. Não chegamos nem a fazer a rematrícula. Não nos dão data e nem justificativa, só pedem para aguardar — conta a estudante de Ciências Biológicas no polo de Araranguá, Bruna Fernandes.

E-mails de coordenadores e de tutores também indicam que a suspensão afeta todos os cursos, destacando que a própria administração da UFSC está buscando informações e uma solução junto à Capes. No curso de Letras, um email da coordenadora diz que não há data para as aulas começarem. O impacto chega também a polos da universidade catarinense fora do Estado, como em Pato Branco (PR).

— O retorno que tivemos aqui de professores e tutores é que está suspenso por falta de verba — diz a estudante Giseli Cristiane Aimi, que cursa Ciências Biológicas na cidade paranaense.

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O secretário de Educação a Distância da UFSC, Gregório Jean Varvakis Rados, confirma que o repasse não está ocorrendo e afirma que a universidade e a Capes estão mantendo diálogo na tentativa de retomar o fluxo financeiro do projeto. O professor alega que não há nenhuma decisão da UFSC sobre paralisar o programa e garante que os cursos estão funcionando normalmente.

— Neste momento, a Capes não está fazendo o pagamento das bolsas (aos professores e tutores da UAB). Isso pode trazer prejuízo aos cursos? Pode. Por isso, estamos buscando contato para o pagamento e para garantir a continuidade dos cursos. Não existe nenhuma decisão de suspensão. Se algum tutor está dando essa informação (de suspensão), é uma informação que ele está te dando e ela é irreal — declara.

Mais de 3 mil vagas em graduações

Atualmente, o programa UAB oferece pelo menos 3.080 vagas para cursos de graduação e 2.890 para especialização em 33 cidades do Estado, ministrados por meio de videoconferências transmitidas nos polos, algumas visitas presenciais dos professores por semestre, além de provas e trabalhos (veja mais no quadro).

Chefe de gabinete da reitoria da UFSC, o professor Áureo Mafra de Moraes informou que a universidade está buscando manter as atividades. Ele tem posição semelhante à do secretário de Ead quanto à suspensão do projeto neste momento:

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— A coordenação geral do UAB tem mantido reuniões, mas não houve ainda uma posição final coletiva. Parece que o que está havendo são decisões, supostamente, isoladas. Institucionalmente, ainda não esgotamos as tentativas de rever a posição da Capes. Por ora, a orientação é de não adotar medidas precipitadas. Se, isoladamente, coordenadores estão adotando tais medidas (de suspender), devem responder por cada curso.

Procurada, a Capes não respondeu aos questionamentos da reportagem sobre o assunto.