Educar financeiramente as crianças é uma tarefa dos pais, mas as escolas também podem ajudar. E muito. E o quanto antes a garotada aprender a lidar com questões relacionadas a consumo, poupança e dinheiro, melhor.

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Na rede municipal de ensino de Joinville, a educação financeira já é realidade para aproximadamente 20 mil estudantes dos 3º, 5º, 7º e 9º anos, de 47 escolas, que fazem parte de um projeto-piloto coordenado pela Associação de Educação Financeira do Brasil (AEF-Brasil), com o Banco Mundial. Ao lado de Manaus (AM), Joinville é pioneira na implantação desse projeto na rede municipal.

Confira a página especial do projeto Joinville que Queremos

A novidade foi lançada em fevereiro deste ano e já colhe resultados interessantes, com a mudança de comportamento de crianças e até dos pais, que começam a ser influenciados por elas. Encontramos alguns exemplos na Escola Municipal Professora Lacy Luiza da Cruz Flores, no bairro Itinga, onde cinco turmas trabalham o tema de maneira diferente. Além das séries indicadas para participar do projeto, a iniciativa está sendo aplicada nas turmas do 1º ano, com crianças de seis anos.

A professora Adriana Rafaela Corrente Pereira afirma que viu uma grande oportunidade ao inserir os pequenos nesse aprendizado. Além de assimilarem desde cedo a diferença entre o que é realmente necessário consumir e o que é supérfluo, por exemplo, a expectativa dela era de que também pudessem ajudar os pais a gastar menos, principalmente neste momento da economia. Nessa idade, as crianças já começam a cobrar da família atitudes coerentes com aquelas que aprendem na escola.

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– O resultado é maravilhoso. A gente vê a transformação na atitude dos alunos e, pelo relato de alguns pais, a mudança está acontecendo na família – ressalta Adriana.

Os estudantes Luiza Gonçalves e Gustavo Santos, os dois com 14 anos, participam das aulas de educação financeira e confirmam que mudaram a forma de pensar quando o assunto é dinheiro.

– Aprendi a economizar. Quando ganho algum valor, sempre guardo 50%, pois estou planejando para comprar um carro – sonha Gustavo.

Luiza afirma que começou a prestar mais atenção a gastos menores, aqueles pagos com moedas, porque, quando somados, fazem muita diferença no final do mês.

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– Também comecei a poupar, pensando lá na frente, quando entrar para a universidade – conta.

Material didático é nacional

Os alunos da rede municipal de Joinville estão trabalhando com materiais didáticos revisados e validados pelo Grupo de Apoio Pedagógico (GAP), integrado por representantes dos setores educacional e financeiro e presidido pelo Ministério da Educação.

O grupo dá apoio ao Comitê Nacional de Educação Financeira (Conef) para o desenvolvimento da Estratégia Nacional de Educação Financeira.

O modelo não prevê uma disciplina específica para desenvolver os conteúdos da educação financeira. O que acontece é que os conceitos podem ser aplicados em todas as disciplinas, sendo uma experiência interdisciplinar. De acordo com Dalva Maria Alves, coordenadora de ensino fundamental da Secretaria Municipal de Educação de Joinville, o projeto passará por uma avaliação em novembro, quando os alunos das 47 escolas participarão de um teste com questões sobre educação financeira.

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Noções da vida real

Aluno Vitor Matheus Burg / Foto: Claudia Baartsch (especial)

Outro exemplo de educação financeira na sala de aula vem do Sesc de Joinville, que firmou uma parceria com o Sebrae e, desde o ano passado, desenvolve o Projeto Jovens Empreendedores – Primeiros Passos, por meio do qual alunos do 1º ao 5º ano aprendem noções de educação financeira uma vez por semana dentro e fora da sala de aula.

Nas aulas práticas, os alunos planejam e montam uma loja para a venda de determinado produto como se fossem empreendedores de verdade. Segundo Magali Larson, coordenadora do ensino fundamental do Sesc Joinville, as atividades são muito bem aceitas pelos alunos, que vivenciam decisões do dia a dia, como guardar dinheiro ou comprar, por exemplo.

– Quanto mais cedo a criança aprender a ter disciplina financeira e saber poupar, melhor. Sem essa orientação, os pequenos vão crescer pensando que tudo o que querem podem comprar – acredita Magali.

Mas é importante que os pais expliquem aos filhos o motivo de não comprarem determinado item por ser supérfluo, estar mais caro do que o preço de mercado ou porque a família não tem dinheiro naquele momento, orienta a coordenadora.

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Outra recomendação é expor o orçamento familiar. Os integrantes da família devem saber quanto têm de dinheiro, quanto se pode gastar e quanto está programado para ser poupado. Assim, a tendência é formar crianças menos consumistas.

O pequeno Vitor Matheus Burg, nove anos, conta que participar do projeto no ano passado o fez parar de ficar pedindo tudo o que queria para os pais.

– Hoje, até consigo guardar um pouquinho do que eu ganho de mesada no cofrinho – diz.