Um grupo de meninas tem inspirado os alunos da Escola Básica Herondina Medeiros Zeferino, nos Ingleses. Aos 14 anos e cursando o 9º ano do Ensino Fundamental, Júlia Sena Amaral da Silva e Júlia Pinheiro Schäefer desenvolveram um aplicativo que foi premiado no Pitch Technovation Challenge Floripa, competição mundial que estimula a criação de projetos de tecnologia feitos por meninas com idades entre 10 e 18 anos. A dupla ganhou uma bolsa e vai cursar programação nos próximos três anos na escola I Do Code.

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É a segunda vez que a escola participa e ganha destaque no concurso. Tanto que Júlia Pinheiro já havia participado do projeto no ano passado e, com a experiência, se sentiu motivada a tentar novamente. Encontrou na xará a parceria perfeita para desenvolver o Recycle Mapp, app que mapeia os locais que recolhem material reciclado na Grande Florianópolis. A ideia foi em conjunto e contou com ajuda de Rayany Wasem, 15 anos, a aluna e semifinalista do Technovation Challenge em 2016.

O apoio da veterana foi essencial. Rayany, que hoje está fazendo o curso de tecnologia, serviu de exemplo para as meninas. A professora Giselle Medeiros também tem papel fundamental no projeto. Ela e a professora de matemática Marijane de Souza Vieira da Silva contribuíram para que as meninas participassem de todos os workshops no Sebrae e as ajudaram em todo o processo, principalmente dando força para que elas acreditassem em si mesmas.

— Quando soube do Pitch resolvi participar e convidei a Júlia. Depois, aprendemos sobre programação e pesquisamos sobre meio ambiente quando definimos o tema. Começamos a gostar de tecnologia e hoje penso em seguir nessa carreira — conta Júlia Amaral.

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Mulheres na tecnologia

A outra Júlia também se interessa em trabalhar na área. A professora Giselle conta que a escola foi descoberta pelas mentoras do Pitch exatamente por incentivar os alunos a verem a tecnologia com outros olhos. Com 1,5 mil alunos, a Herondina Medeiros Zerferino mantém um site atualizado com as atividades que incluem jornalismo, astronomia e tecnologia, claro.

Para ela, o fato de as meninas enxergarem que podem atuar na área é muito importante. Florianópolis é um polo em tecnologia, porém, falta mão de obra qualificada no mercado. No Brasil, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), entre os profissionais da área de tecnologia da informação, apenas 20% são mulheres. Pouca gente sabe, mas a primeira pessoa a escrever um código de programação (que hoje serve para programar os computadores) foi a matemática Ada Lovelace. Ela fez isso em 1842 e, em parceria com o inventor Charles Babbage, desenvolveu o primeiro computador.

— As meninas não podem ouvir que “não conseguem”, que isso é coisa de menino. É importante que elas sintam-se motivadas a não apenas consumir tecnologia, mas também a produzir — completa Giselle.

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Popularizar a criação

As Júlias buscam incentivo para disponibilizar o aplicativo Recycle Mapp nas lojas Google Play e App Store. Elas mapearam toda a região da Grande Florianópolis para localizar informações sobre estabelecimentos que recolhem material reciclado.

Com ajuda da ferramenta App Inventor, disponibilizada pela Google, elas criaram o design levando em consideração questões como leveza, informações claras e fácil usabilidade. Além de apontar os locais, o mapa interativo dá informações como o tipo de material recolhido e contato. É possível saber onde descartar de óleo de cozinha usado, pilhas e baterias, remédios vencidos e eletrônicos, por exemplo.

O diretor Willian Marques Pauli acredita que a escola é um celeiro de futuros profissionais. Tanto que o projeto Jovens Tutores, da UFSC, escolheu a Herondina Medeiros Zerferino como piloto. Estudantes de diversas áreas vão à escola para ajudar alunos em diferentes projetos.

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— A competição é bacana, mas tem algo além disso: ajuda o jovem a se apropriar do conhecimento para começar a criar. Nosso objetivo é que tornar mais abrangente o conhecimento que era restrito. Isso é significativo para a escola pública — completa o diretor.

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