Entre tantas profissões, como psicologia e jornalismo, Ana Paula Silva, 34 anos, escolheu fazer engenheira mecânica. Mesmo diante do preconceito e do machismo enfrentado diariamente, ela conquistou o seu espaço e há oito trabalha na área. Ana foi uma das mulheres inspiradoras para as mais de 100 alunas de três escolas públicas de Florianópolis que participaram de um encontro promovido pela ONG Inspiring Girls na manhã desta terça-feira, 6, na Eletrosul.
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— Se uma dessas meninas conseguir ver a engenharia, a geologia ou qualquer outra área que é estereotipada como masculina, e ver o nosso exemplo como uma possibilidade para o futuro, já alcancei o meu objetivo — diz.
Segundo Ana, a área das engenharias ainda é dominada pelos homens — na Eletrosul, por exemplo, cerca de 80% do quadro profissional é formado por homens — mas ela vê nas novas gerações a mudança dessa realidade.
— Quando eu fiz estágio na França, dos 60 alunos, 23 eram mulheres, no Brasil eram apenas quatro. Não é uma limitação por ser mulher, o problema é muito mais social, a sociedade impõe que é masculino, mas o que realmente é masculino? Acho que as nova geração está mais preparada e mudando isso.
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Jhulian Rodrigues Corrêa, 14 anos, aluna da Escola Básica Batista Pereira, no Ribeirão da Ilha, já pensa diferente, inclusive, decidiu que vai seguir a carreira de engenheira civil. No entanto, mesmo na adolescencia, já enfrenta as barreiras do mercado de trabalho.
— Eu me inscrevi em vários sites para trabalhar como Jovem Aprendiz e tá bem difícil. Já vi meninos sendo contratados e eu não. Por isso, fiquei impressionada como elas sofreram por acharem que não iam conseguir porque são mulheres. E o pior é saber que isso ainda existe. Mas a gente tem que correr atrás do que quer e não parar de estudar por achar que é coisa só de homem.
A aluna da Escola Básica Professor Anísio Teixeira, Shaiany Alves Constante, 12 anos, acredita que qualquer profissão pode ser exercida por todos, seja mulher ou homem, mas também tem receio do preconceito.
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— Não imaginava que seria tão legal poder trabalhar como engenheira mecânica ou engenheira em outras áreas, que elas nem ligam para o que os homens falam, que enfrentaram tudo para conseguir estudar e poder estar trabalhando, eu achei super empolgante. Mas a gente ainda tem aquela insegurança porque o homem se acha superior a mulher.
ONG amplia horizontes
A palestra com quatro profissionais das áreas de engenharia mecânica, engenharia elétrica e geologia foi promovida pela ONG Inspiring Girls em parceria com a Eletrosul. A representante do coletivo no Brasil, Corinne Giely-Eloi, explica que a intenção é ampliar os horizontes de alunas da rede pública para que elas criem coragem e escolham a profissão que quiserem.
— Já fui em várias escolas apresentar profissões de tecnologia, cientista de dados, analista de dados, pessoas que criam redes na internet, como o Facebook e Twitter. Elas nem sabem que tem uma profissão por trás disso e quando descobrem ficam animadas, porque gostam de mexer no mundo digital. Além disso, estes serão os empregos do futuro, vai ter muito emprego, e vai ter só homens escolhendo esses estudos? Então, falando mais com elas e ampliando o horizonte, isso pode mudar.
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A ONG foi criada há três anos na Inglaterra com a proposta de discutir questões de igualdade de gênero. No Brasil, começou a atuar no final de 2017 e já impactou mais de 500 alunas de escolas públicas de Florianópolis.
— São mulheres inspiradoras, que tem perfil de engenharia, tecnologia, entre outras áreas ditas masculinas, que vão até as escolas ou empresas inspirar essas meninas, que geralmente têm muitas limitações com relação a escolha profissional.