O catarinense começa a sentir as consequências da alta do dólar, que teve valorização de 12% sobre a moeda brasileira em um mês. Entre os produtos que já tiveram o aumento do custo repassado ao consumidor estão o combustível e produtos de alimentação básica, como carne bovina. Algumas entidades catarinenses consideram que outros preços podem subir nas próximas semanas, como reflexo do encarecimento da importação, das commodities e do custo de transporte rodoviário.

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A pedido do Diário Catarinense, a Associação Catarinense de Supermercados (Acats) realizou um levantamento de preços com os fornecedores das cinco regiões mais populosas do Estado. O estudo indicou que carne bovina, papéis, batata frita congelada e produtos derivados do trigo e soja foram reajustados entre 8% a 10% nos supermercados por causa da alta do dólar.

Ainda há expectativa que outros produtos tenham aumento de 6% a 12% nos próximos dias, repassando para o consumidor o acréscimo do custo dos materiais que chegam aos supermercados. Conforme a Acats, a lista inclui plásticos e lâmpadas, materiais de higiene pessoal como shampoo, material de limpeza e máquina lavadora de roupas.

O presidente da Acats, Paulo Cesar Lopes, explica que a maior parte dos produtos que tiveram reajuste estão relacionados com commodities, que têm a cotação vinculada à moeda norte-americana. A médio prazo, há o risco de que o aumento na cotação do petróleo cause reajuste de itens de perfumaria e higiene, que usam seus derivados do petróleo, e do aumento do frete das mercadorias.

— O Brasil importa a metade do trigo que consome então neste caso haverá repasses. Agora o diesel é diferente. Ele afeta toda a cadeia de preços porque o aumento do frete acontece em todas as etapas do ciclo, desde a produção até a ponta final do consumo, que são as gôndolas, onde o consumidor toma contato com as variações de preços — explica o dirigente.

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Como a Nova Política de Preços da Petrobras determina que a gasolina e o óleo diesel vendidos são atrelados à cesta de óleos internacional e têm oscilação diária, há repasse imediato do aumento do custo para o consumidor e as empresas que realizam o transporte de cargas. Dessa forma, é questão de tempo para que outros produtos também sejam reajustados nas prateleiras do supermercado.

— Há impacto direto na economia porque o aumento do dólar encarece o transporte, o que afeta produtos desde a cesta básica até comércios em geral. Sempre que o preço sobe, o mercado desaquece e o consumo diminui, afetando o preço de tudo. Tanto que a baixa do consumo e a dificuldade em manter um negócio saudável em momentos de crise como esse acabaram fechando inúmeros postos de combustível — explica o presidente do Sincombustíveis, Giovani Alberto Testoni.

Alta do dólar causa preocupação para entidades catarinenses

Após alguns meses aumento de forma gradativa, o dólar começou a sua “escalada” em agosto. A cotação da moeda norte-americana passou de R$ 3,70 no dia 3 de agosto para R$ 4,15 em 3 de setembro. De acordo com especialistas, a variação é causada pela incerteza política do Brasil com a chegada do período eleitoral e problemas no cenário mundial, como as crises da Turquia e da Argentina, que afetam os países emergentes.

Essa mudança está afetando diversos setores da economia catarinense, como a indústria, o comércio, o combustível, o supermercado e os restaurantes. O discurso é praticamente o mesmo: preocupação por conta do aumento no custo de importação de produtos e a possibilidade de aumento de preços, o que pode afetar o poder aquisitivo dos consumidores. A exceção são os profissionais do setor turístico, que têm expectativa positiva com a possibilidade de que Santa Catarina se torne um destino ainda mais atrativo.

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Bruno Breithaupt, presidente da Fecomércio-SC, analisa que a desvalorização do real e as altas taxas de juros causam efeitos negativos para o comércio de Santa Catarina e atrasam a retomada da economia. Ele considera que algumas empresas até estão aumentando a competitividade, mas que isso não está ocorrendo pelo caminho ideal do aumento da produção e sim pelo empobrecimento dos consumidores.

Já o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc), Mario Aguiar, avalia que a variação na cotação da moeda norte-americana é positiva para alguns segmentos e prejudicial para outros. Enquanto as indústrias madeireira e metalúrgica comemoram o aumento do faturamento com as exportações, os setores de tecnologia, cobre e plástico são prejudicados pelo aumento no preço de importação. E o dirigente avalia que esse desequilíbrio é prejudicial para a economia estadual.

— Esperamos que após as eleições a moeda possa retomar a patamares inferiores de hoje. Nós nunca somos favoráveis quando ocorrem essas elevações muito bruscas, porque Isso acaba desarranjando todo o sistema produtivo. O bom é quando há crescimento de todos de forma que as empresas possam se planejar. Embora alguns setores estejam aplaudindo, outros estão sendo penalizados. Então essas mudanças nunca são boas pra economia — afirma o presidente da Fiesc.

Além dos supermercados, os bares e restaurantes também são afetados com o aumento no custo de alimentos e bebidas, principalmente no caso de produtos importados. Caso os preços de transporte e do comércio aumentem, o represente em Santa Catarina da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Raphael Dabdab, acredita que o consumidor deve utilizar menos dinheiro para os serviços de lazer por causa do aumento no custo de vida.

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— A gente está passando por uma queda de receita e aumento de custos desde 2016. Então é uma das crises mais longas da história do setor, que ainda não percebeu recuperação. A situação está desafiadora, com aumento de custos acima da inflação e queda de consumo porque a população está com menos poder de compra. E isso explica o alto índice de mortalidade de restaurantes em Santa Catarina — lamenta o empresário.

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