A valorização de quase 20% do dólar nos últimos 12 meses traz algum alívio para os exportadores, mas a oscilação ainda não devolve a competitividade dos produtos brasileiros mais sensíveis ao câmbio.
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Na sexta-feira, a moeda norte-americana fechou a R$ 1,92, ante cotação de R$ 1,60 um ano atrás, conforme dados da BM&F Bovespa. O diretor executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein, avalia que o novo patamar do dólar, se não dá um novo impulso, pelo menos ajuda a estancar a redução dos embarques verificada nos últimos anos.
Para Klein, somente um câmbio entre R$ 2,10 e R$ 2,20 poderia fazer o país retomar o nível de US$ 1,8 bilhão de exportações de 2008. Ano passado, a cifra foi de US$ 1,3 bilhão.
– Este dólar (na casa de R$ 1,90) é mais favorável às exportações do que para frear as importações. O calçado asiático, ajudado pelo dumping, é tão competitivo que o câmbio não é determinante – explica.
Para o presidente da Associação das Indústrias de Móveis do Rio Grande do Sul (Movergs), Ivo Cansan, a valorização do dólar torna menos árdua a tarefa vender para o exterior por deixar o produto mais barato.
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Com a contribuição cambial, a estimativa da Movergs é reverter a queda das exportações de 2011 e fechar o ano com faturamento de US$ 230 milhões em exportações.
Na mesma linha, José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), entende que a taxa atual não dá grande empurrão na exportação de manufaturados, mas pode trazer alívio ao caixa das companhias.
– Muitas empresas exportam com prejuízo apenas para manter mercado. Então seria um alívio no sentido de reverter o prejuízo nestas operações – diz.
Para Castro, o câmbio deve se estabilizar entre R$ 1,80 e R$ 1,85. Apesar de existir margem para o câmbio continuar subindo, um dólar mais caro poderia impactar a inflação, tudo o que o governo não quer em ano eleitoral, entende. Com visão semelhante, o economista Fábio Silveira, sócio da RC Consultores, prevê um câmbio médio de R$ 1,85 este ano.
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Segundo Silveira, a alta do dólar só não afetou mais os preços porque, à exceção da soja, as demais commodities estão com uma tendência de baixa.
Compras no Exterior ainda valem a pena
Apesar da queda dos gastos dos brasileiros no Exterior por dois meses seguidos, a valorização do dólar está longe de causar um desestímulo às compras em outros países, afirma o advogado tributarista Miguel Silva, do escritório Miguel Silva & Yamashita Advogados.
Para o especialista, mesmo que a moeda americana alcance um patamar hoje considerado improvável de R$ 2,50, devido à alta carga tributária nacional continuaria saindo mais barato adquirir produtos fora do Brasil.
Dados do Banco Central (BC) mostram que depois de os gastos de turistas brasileiros no Exterior chegarem US$ 2 bilhões em janeiro, caíram para US$ 1,75 bilhão em fevereiro e US$ 1,62 bilhão em março. A queda, conforme o BC, seria reflexo do aumento do dólar.
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– Há um fator psicológico nisso. Apesar de existir o cartão pré-pago, muitas pessoas ainda compram com o cartão de crédito e, quando notam que o dólar está subindo, têm receio de serem surpreendidos na fatura – entende Silva.