Não é de hoje que o meio político catarinense olha para a família Kuerten. Além do ex-tenista Guga, a mãe dele, a assistente social Alice Thümmel Kuerten, 73 anos, teve o nome citado por diferentes governos como grande potencial para ocupar a cadeira da área social. Coube ao governador Jorginho Mello (PL) o feito de atraí-la.

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Uma das fundadoras do Instituto Guga Kuerten (IGK), dona Alice, como é popularmente chamada, tomou posse na última segunda-feira, dia 23, como secretária de Estado da Ação Social, Mulher e Família. A cerimônia simples e rápida, ocorreu na Casa da Agronômica, onde o governador tinha outros compromissos, e chegou a ser adiada por problemas de saúde de dona Alice, que nos últimos dias de 2022 foi hospitalizada devido a um aneurisma. Com autorização médica, voltou bem e disposta a trabalhar.

Dona Alice parece com os pés no chão. Sabe do papel importante da pasta, que é o de dar apoio e suporte às secretarias municipais e quem de fato estão na ponta dos serviços aos mais vulneráveis. Nesta entrevista, ela conta sobre a estratégia de articulação para a retomada de um trabalho que foi interrompido nos últimos anos, tanto em nível federal como estadual.

– O fortalecimento desta articulação com as gestões municipais é um dos nossos grandes objetivos, entendendo que o papel da Secretaria também é dar suporte técnico às equipes de todas as políticas públicas das quais é responsável (Assistência Social, Direitos Humanos, Habitação e Segurança Alimentar e Nutricional). A principal estratégia será efetivar uma aproximação de fato entre as equipes da Secretaria e dos municípios, iniciando por encontros regionalizados para realizar o levantamento das principais demandas e sugestões, bem como capacitar os técnicos nas áreas de interesse.

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Disse mais:

– Entendemos também a importância de fortalecer os Conselhos de Políticas e de Direitos, que têm um papel importantíssimo na definição e monitoramento das políticas públicas. Estamos diante de um grande desafio, pois nossa secretaria conta com uma equipe enxuta e, por isso, se estuda termos equipes vinculadas à Secretaria em macrorregiões do Estado, assim como acontece na Saúde e na Educação. Por fim, entendemos que principalmente no caso da Política de Assistência Social, a atuação precisa estar alinhada com as ações planejadas das Políticas de Educação e Saúde. O objetivo é uma articulação sistemática entre as Secretarias de Estado – explica a secretária.

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Com a experiência de quem atuou como voluntária em 13 instituições e que à frente do IGK conheceu pelo menos 230 dos 295 municípios de Santa Catarina, dona Alice sabe que o Estado é formado basicamente por pequenos municípios. O vaivém mostrou a ela que muitas ações são pensadas como se Joinville, Florianópolis e ou Blumenau, por exemplo, tivessem mesmas demandas do que Romelândia, Maravilha ou Caibi.

A realidade mostra que mais do que equipamentos sociais, é necessária estratégia de integração e mobilização das comunidades. Além disso, capacidade de gestão: – Precisamos de um levantamento das necessidades reais para podermos privilegiar também os pequenos. Atualmente, a secretaria, por meio da diretoria de Assistência Social vai iniciar o processo de regionalização dos Serviços de Proteção de Média Complexidade da Política de Assistência Social, pactuação aprovada ano passado na CIB por todos os municípios e pelo governo do Estado. Será um recurso financeiro investido justamente para atender os municípios que não possuem esse serviço por serem de pequeno porte.

O envelhecimento da população é um desafio a ser enfrentado

A questão do idoso também está em pauta. A população catarinense, assim como a brasileira, está envelhecendo.

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– Acreditamos que esse é dos grandes desafios da atualidade. Quando se refere por exemplo, ao segmento das pessoas com deficiência, o aumento na qualidade de vida deles por meio dos atendimentos especializados que recebem, possibilitam a ampliação da longevidade deste público, ocasionando um problema social: quando os familiares ou pessoas de apoio dessas pessoas falecem, quem será o vínculo protetivo desse público?

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A secretária lembra que, por meio da atuação na Federação das Apaes, foi identificado que não há uma oferta abrangente de serviços públicos de acolhimento especializado para este público, gerando institucionalizações inadequadas, como em Comunidades Terapêuticas.

– Sabe-se que o poder público não consegue atender toda essa demanda, e o terceiro setor, assim como em outras frentes, acaba oferecendo esse tipo de atendimento. Por isso, essa também se torna uma das grandes alternativas de atendimento. A questão do envelhecimento precisa ser trabalhada intersetorialmente. Já estamos em articulação com a Secretaria de Estado de Saúde para criação de frentes de atendimento na área.

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Por problemas de saúde, Alice assumiu o comando da pasta após a autorização médica (Foto: Eduardo Valente, Secom, Divulgação)

“A questão da moradia é uma das demandas mais emergentes”

Outro desafio é a questão da moradia de famílias catarinenses. Uma pesquisa da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) aponta que temos “uma Joinville sem-teto”, ou seja, mais de 500 mil pessoas sem moradia ou morando em risco. O governo federal promete retomar o Minha Casa Minha Vida.

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– Esse é um enorme desafio, diria que um dos mais complexos, porque o direito à moradia é fundamental. Nosso objetivo é montar uma equipe técnica adequada na secretaria e sim, unir forças com todos os entes federados para a definição dos melhores caminhos a serem seguidos. Temos a informação que em Santa Catarina, há um déficit habitacional que atinge em torno de 206.532 famílias, sendo que 53.549 delas estão em situação de risco. Quanto à regularização fundiária, há em torno de 151 mil famílias vivendo em áreas irregulares. Não temos dúvidas que essa é uma das demandas mais emergentes – reconhece dona Alice.

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Já antes da eleição e mais recentemente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou que se reunirá com todos os governadores para ouvir deles três obras consideradas prioridades e ou projetos a serem tocados. Dona Alice defende que as ações de governo do Estado precisam ser articuladas, porque os habitantes de Santa Catarina necessitam e utilizam várias políticas públicas.

– Tratamos como cidadão integral e não há como dissociar as suas necessidades. Desta forma, essa será uma definição estratégica junto ao Colegiado de Secretários que compõem o atual Governo do Estado. Entende-se que Educação, Saúde, Assistência Social e Infraestrutura são prioritários por serem consideradas como fundamentais para a qualidade de vida desenvolvimento social e econômico da população.

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Historicamente Santa Catarina sofre com fenômenos climáticos. Nos últimos anos, fenômenos decorrentes das mudanças climáticas têm interferido cada vez mais nos cotidianos das cidades e de seus moradores que têm suas vidas atravessadas por chuvas, ventos, enxurradas.

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– Há muito tempo acompanho este tipo de situação de calamidade e cada vez mais acredito que é necessário unir forças de várias frentes, não só governamentais, mas de toda a sociedade. As respostas não são imediatas, porque quando acontece uma catástrofe as necessidades emergenciais geralmente mobilizam a sociedade como um todo, mas os problemas estruturais não, como é o caso do déficit habitacional, o qual necessita de um planejamento e investimento maior.

“Meu lema de vida: Ser alguém para alguém”

A trajetória da assistente social de Alice Kuerten a coloca como um dos nomes mais respeitados para a pasta. Em anos anteriores, a secretaria tem sofrido loteamento por parte dos governos que a utilizam para beneficiar partidos políticos que integram as coligações e acabam implantando diferentes linhas de trabalho.

Até a última gestão, por exemplo, chamava-se Secretaria de Estado do Desenvolvimento Social. No governo Raimundo Colombo (2014-2018) era Assistência Social, Trabalho e Habilitação. A troca de nome nem é tudo, já que cada governo pode ter um entendimento. A questão que gera mais crítica por parte do movimento social é a sucessiva troca de secretários, como ocorreu entre os anos 2011 (primeiro governo Colombo) e a gestão Carlos Moisés (2018-2022): 11 secretários, média de um por ano. Três desses somente nos últimos quatro anos.

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Dona Alice destaca o fato de o nome dela ter sido escolhido por ser uma técnica da área:

– Acredito que a possibilidade vai ao encontro do meu lema de vida: “Ser alguém para alguém”. Este lema me levou a desenvolver ações em vários segmentos, desde quando era servidora da Telesc, depois como voluntária no IGK e no segmento das APAEs. Essas experiências me levaram a conhecer o Estado praticamente inteiro e articular ações em benefício de várias frentes. Meu objetivo é continuar servindo a sociedade para que possamos construir um mundo melhor – conclui a secretária.

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