*Por Siobhan Burke
Nesta época do ano, a bailarina Erica Lall, membro do American Ballet Theatre, normalmente se preparava para oito semanas de apresentações na Metropolitan Opera House. Mas, em meados de março, quando a empresa decidiu cancelar sua temporada de primavera, ela se viu de volta à sua cidade natal, Cypress, no Texas, dispondo de tempo livre.
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Não demorou muito para que Lall, longe de sua vida movimentada em Nova York, decidisse abrir o TikTok, um aplicativo que já havia usado antes, mas que ainda não tinha explorado muito a fundo. "Estava entediada e pensei: 'Tudo bem! É hora de experimentar uma dessas danças''', disse ela.
Lall, de 22 anos, estava se referindo aos desafios de dança viral que circulam no TikTok: sequências curtas de coreografia, baseadas em músicas, criadas por usuários individuais – ou tiradas de outras plataformas de vídeo – e replicadas, às vezes, por milhões de outras pessoas ao redor do mundo.
Desde seu lançamento, em 2017, o TikTok se tornou uma plataforma popular de dança, especialmente entre os adolescentes, com ferramentas que facilitam o ato de se autofilmar dançando ao som da música, integrar efeitos especiais e compartilhar os resultados. (O usuário com mais seguidores é Charli D'Amelio, uma dançarina de competição, de Norwalk, em Connecticut.)
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O TikTok não pegou tão amplamente entre os entusiastas de dança mais velhos. Mas isso está começando a mudar. Nas últimas semanas, o aplicativo atraiu um número pequeno, mas crescente, de bailarinos profissionais na faixa dos vinte e trinta anos, que estão mais acostumados a se apresentar no palco do que na tela.
Até então, eles não tinham tempo para explorar o aplicativo ou interesse em se familiarizar com ele, ou talvez pensassem que eram velhos demais para usá-lo. Contudo, na ausência de atividades que normalmente preenchem seus dias – aulas, ensaios, apresentações, trabalhos convencionais não relacionados à dança –, esses recém-chegados estão aproveitando sua alegria e questionando como o TikTok pode moldar o futuro de sua indústria.
Lall, que cresceu estudando uma variedade de estilos de dança, já estava criando vídeos curtos e divertidos para o Instagram, no qual tem quase vinte mil seguidores. No TikTok, porém, ela expressa um lado diferente de sua arte: mais hip-hop e menos balé.
Em um de seus primeiros posts de dança, ela encarou o desafio ondulatório "If I Back It Up", de quinze segundos, da "Vibe (If I back It Up)", de Cookiee Kawaii; e o enfático desafio "Savage", iniciado pela dançarina de 19 anos Keara Wilson, para a música de mesmo nome de Megan Thee Stallion. Ela também se divertiu com a vasta paleta de efeitos especiais para criar suas próprias microcoreografias para a câmera do iPhone.
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"Gosto de ter um lado mais casual, mais hip-hop, e mostrar isso. O balé pode ser tão rigoroso e gracioso, e todos devem ser precisos. É divertido relaxar e fazer um TikTok", comentou.
Para alguns dançarinos novos no aplicativo, a idade tem sido uma barreira para a entrada, pelo menos psicologicamente. Quanto mais velho você for, mais conflituoso poderá se sentir com esse impulso de "simplesmente relaxar".
"Parece quase inadequado que eu esteja lá. Sinto que a maioria das pessoas tem metade da minha idade", disse Maggie Cloud, de 32 anos, bailarina freelancer em Nova York.
Nos últimos anos, Cloud, que dançou para coreógrafos contemporâneos como Beth Gill e Pam Tanowitz, deixou de se apresentar para frequentar uma escola de acupuntura. Mas, quando os amigos começaram a postar vídeos do TikTok, ela ficou intrigada.
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"Vi em outras pessoas uma sensação de brincadeira e de prazer que senti quando estava aprendendo as coreografias, e essa redescoberta foi realmente muito emocionante. Não há tanta pressão, apostas ou trabalho pesado. E descobri que isso meio que eleva meu ânimo", continuou a bailarina.
Para Emma Lutz-Higgins e Meghan Herzfeld, colegas de quarto e colaboradoras artísticas que moram no Brooklyn, o TikTok também tem sido uma fonte inesperada de prazer em um momento de grande incerteza. Falando juntas pelo FaceTime, elas descreveram como, durante essas semanas de recolhimento em casa, o aplicativo se tornou uma parte satisfatória de sua rotina diária.
"Fiz um TikTok em meu quarto de manhã", disse Lutz-Higgins, de 27 anos. "Em seguida, ela me ensina", acrescentou Herzfeld, de 25 anos.
Como bailarinas-coreógrafas millenials, as duas são versadas no Instagram, no qual costumam compartilhar clipes de ensaios e improvisações. Mas elas disseram que, ao conhecer o TikTok, passaram a gostar da clareza de seu objetivo: apresentar-se para um público.
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"O Instagram pode parecer velado com diferentes intenções de como as pessoas o usam; já o TikTok é bastante direto. Eu me apresento para você e não preciso fingir que não estou fazendo isso. Está tudo aberto. É estranhamente libertador", comentou Lutz-Higgins.
Para Krystal Collins, bailarina e coreógrafa de Silver Spring, em Maryland, o TikTok também oferece uma sensação de liberdade que outras mídias sociais não oferecem. "Simplesmente, faço minhas coisas sem me preocupar com quem está vendo. Às vezes, o Instagram parece ser seu portfólio, seu currículo", disse ela.
Collins, de 24 anos, entrou no TikTok em parte para se manter conectada com seus alunos do ensino médio para os quais ela dá aula no Dance Place, em Washington, D.C. Embora relutante no início, ela admitiu que se rendeu a "essa nova classe de coreógrafos de 16 anos ou menos".
"Fiquei alegre em saber que há bailarinos que podem ou não levar a sério a dança como uma opção de carreira, mas que estão fazendo coisas muito difíceis e complexas", afirmou ela. E observou que todas as faixas etárias podem ser sensacionais no TikTok; pessoas com mais de 50 anos, disse ela, "são minhas favoritas no aplicativo".
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Juntamente com a surpresa e com o prazer, o TikTok também introduziu questões mais sérias na vida de bailarinos cuja carreira, até agora, girava em torno da performance ao vivo.
Marc Crousillat, de 29 anos, ex-membro da Companhia de Dança Trisha Brown, estava se apresentando na remontagem de "West Side Story" na Broadway quando os teatros de Nova York fecharam. Fã de Jennifer Lopez há muito tempo, ele decidiu aprender o desafio de J. Lo – um trecho de sua recente rotina no intervalo do Super Bowl, coreografada por Parris Goebel – e publicá-lo no TikTok.
"Nunca recebi muito – como se diz? – suporte ou resposta. Foi um momento estranho de espanto, de como a dança é vista? E o que tenho de fazer para ser visto? Preciso fazer mais desafios? Isso é interessante? Esse é o futuro?", perguntou ele.
A coreógrafa nova-iorquina Gillian Walsh, de 31 anos, também se pergunta se o TikTok é o futuro, ou até que ponto. Com tantas perguntas sobre quando e como a performance ao vivo será retomada, Walsh, cujo trabalho, formalmente, é a antítese do TikTok – longo e lento –, está considerando a possibilidade de usar o aplicativo para um projeto virtual. "Não acho que essa seja a resposta, mas acho que faz parte da conversa. É uma plataforma de dança pronta para ser usada, por isso deve ser levada em consideração."
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Qualquer que seja o futuro, o TikTok está atendendo a certas necessidades imediatas dos bailarinos, como a necessidade de suar a camisa. Os entrevistados para essa matéria concordaram: um desafio do TikTok é um bom exercício.
"Você esquenta o corpo, respira pesado e é bom ter esse fator de motivação externa", disse Joanna Warren, de 25 anos, amiga e vizinha de Herzfeld e Lutz-Higgins.
E depois há a necessidade de se apresentar. A bailarina Maria Kochetkova, de 35 anos, recentemente deu sua contribuição ao meme do TikTok de fazer uma coisa, qualquer coisa, com o refrão "I'm bored in the house and I'm in the house bored" (Estou entediado em casa e estou em casa entediado, em tradução literal), entoado pelo rapper de 18 anos Curtis Roach. O que ela fez? Uma série de voltas fouetté – a principal característica de "O Lago dos Cisnes" – em sua sala de estar em Copenhague. "No fim das contas, sou uma artista, e sinto falta de me apresentar", afirmou Kochetkova.
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