O juiz Lalau – na vida “incivil” Nicolau dos Santos Neto – foi condenado por sentenças cumulativas de 26 anos, 6 meses e 20 dias. O que, no Brasil, quer dizer pouco. Na prática, o juiz viveu a maior parte da sua pena – de insondável dosimetria – livre, leve e solto.

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Cumpriu prisão domiciliar. Ou seja: passou a morar na sua mansão do Morumbi – e ainda deu despesas adicionais ao Estado brasileiro, pois a execução da pena requeria a vigília permanente de agentes e viaturas da polícia estacionadas todos os dias em sua porta.

O fundamento da pena caseira foi o “estado de saúde degenerativo” do apenado. Apesar da degenerescência, o juiz esteve vivíssimo para questionar na Justiça suíça o desbloqueio dos US$ 7 milhões, que ainda mantinha numa conta numerada em banco de Genebra.

A Justiça suíça negou o pedido. Mas também não liberou o recurso para que retornasse aos cofres públicos brasileiros. E baseou sua decisão numa informação da Justiça de São Paulo: “Da decisão condenatória brasileira ainda cabe recurso”.

Pronto. Se cabe recurso, ninguém pode ser condenado a nada no Brasil. Muito menos a devolver dinheiro roubado.

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Preso em casa, o juiz teve saúde suficiente para brigar pelo dinheiro que roubou com toda a honestidade.

Na minha infância, “baleiro” era apenas um tabuleiro de vime, pendurado no pescoço de um vendedor ambulante, tendo por espaço comercial uma sala de cinema – no meu caso, o Cine Ritz ou o Cine São José.

A expressão “mão no baleiro” ganhou transcendência e um sentido muito mais amplo: passou a designar todos os alcances sorrateiramente perpetrados contra o dinheiro público.

O baleiro nacional continua exposto ao assalto de todos os espertos e de todos os finórios. Criaram uma Controladoria Geral da União para fiscalizar os 5 mil municípios brasileiros. As estatísticas são alarmantes: de cada 10 prefeituras, sete (!) cometem algum tipo de irregularidade contábil, alguma forma de “alcance”.

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E o mais fantástico acaba de ser descoberto pela própria repartição fiscalizadora. Descobriram “mão no baleiro” no cofre da própria Controladoria.

Quer dizer: no Brasil, só falta roubarem o “r” do verbo roubar.

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