A alta do dólar não é um fenômeno exclusivo do Brasil e o repasse desse movimento à inflação brasileira será limitado. A avaliação é do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, que não demonstra preocupação com o preço da moeda que atingiu o maior patamar em quatro anos na última sexta-feira.
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– A subida do dólar é um movimento global, não é um tema específico do Brasil. A alta vista no Brasil é semelhante e comparável ao movimento registrado em outros países – disse Tombini neste domingo, após participar de seminário organizado pelo Banco Central da Turquia.
O argumento é que a subida da moeda ao longo dos últimos meses é comparável à observada em outros mercados emergentes, como África do Sul e Colômbia. Sobre o impacto da alta recente do dólar na inflação brasileira, Tombini mantém um discurso tranquilo.
– O repasse da alta do dólar para a economia brasileira é limitado e caiu ao longo do tempo – afirmou, sem citar números.
O presidente do BC também foi questionado, mas não comentou a alta de preços que começa a ser vista em alguns setores da economia, como nos aparelhos eletrônicos – segmento com alta porcentagem de peças importadas. Apesar de não demonstrar preocupação com o tema, Tombini reafirmou que a estratégia da casa para o câmbio continua a mesma e, portanto, novas intervenções podem acontecer.
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– Se há excesso de volatilidade e o mercado está disfuncional, o BC atua – garantiu.
Na sexta passada, a instituição atuou com operação que equivale à venda de dólares no mercado futuro, mas a estratégia não impediu a subida da moeda para R$ 2,147. O dólar futuro para julho fechou a sexta-feira em R$ 2,155.
Tombini – responsável pelo aumento de 0,5 ponto porcentual na taxa Selic, para 8%, em uma economia que resiste em ganhar ritmo – fez ainda uma análise relativamente otimista do crescimento da economia. Para ele, os números do Produto Interno Bruto (PIB) conhecidos na semana passada “mostram que o Brasil está em ritmo gradual de recuperação”.
O mandatário da instituição financeira não comentou, porém, se o crescimento da atividade em ritmo aquém do esperado – de 0,6% no primeiro trimestre – pode reduzir as previsões do BC para a expansão do PIB. Disse apenas que, no mais recente Relatório de Inflação, a autoridade monetária previa crescimento “em torno de 3%” para o ano de 2013.
– A parte boa do PIB é a evolução do investimento na economia que cresceu pelo segundo trimestre seguido – disse, ao comentar que a alta do investimento de 4,6% no trimestre é “bastante considerável”.
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A previsão oficial do BC para o crescimento da economia será atualizada no fim do mês, na nova edição do Relatório de Inflação.
Durante a apresentação no seminário do BC turco, Tombini falou sobre a experiência brasileira na gestão dos fluxos de capitais estrangeiros. País que iniciou as reclamações contra a chamada “guerra cambial”, o Brasil conseguiu, segundo Tombini, “estabilizar o fluxo de capital de maior risco com a adoção de medidas”.
Entre os exemplos, foram citados o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e o requerimento de capital para bancos operarem no mercado futuro. Em nenhum momento, porém, ele citou que essas medidas poderiam ser revertidas em caso de saída de capitais e consequente alta da moeda.