Alexandre José (PRB) quer mostrar que sabe ouvir. Acostumado a falar aos microfones do rádio e da TV, meios que lhe deram proximidade com muitos blumenauenses, o apresentador agora tenta passar de flecha a alvo. Ele concorre a vice-prefeito na chapa de Jean Kuhlmann (PSD) na primeira eleição em que o cargo não terá mais salário. Disputa também depois de um impeachment que fez muita gente escorregar o olhar com mais cautela para a foto de baixo que aparece na urna eletrônica.

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Mas Alexandre está longe de almejar um posto de vice decorativo. Está mais para um vice midiático. Se o cargo não é garantia de um polpudo contracheque, não tem problema. Vencendo ou perdendo, ele pretende continuar à frente dos microfones – convicto de que não haverá nisso conflito ético ou de interesses. Nos mais de 60 dias de campanha até aqui, muito de seu discurso gira em torno de que quer “ouvir” e “ser a voz” da população na prefeitura.

A capacidade de escutar a todo instante é algo que lhe garante carisma e infinitos pedidos de fotos junto à população dos bairros. É também uma das virtudes admiradas por quem convive com ele, citam também o bom coração e a disposição para resolver problemas de gente que, às vezes, nem conhece. Como se a sua vida fosse o quadro “Me chama que eu vou”. Ah, tem também a franqueza.

– Ele é italiano, tem esse negócio de ser uma pessoa que fala tudo na hora que tem que ser dito, não mede muito. Isso é algo bom, mas em certos momentos pode prejudicar – pondera a filha Caroline Piaz, 20 anos, a mais nova dos três filhos.

Alexandre está mais longe de seu habitat. No segundo turno trocou o protagonismo de âncora para aparições especiais nos programas eleitorais. Em casa, onde costuma ficar nas horas vagas, o Alexandre que “põe na tela a cara dos vagabundos” que andam “na contramão da lei” gosta de assistir a filmes de ação. A TV, aliás, precisa estar sempre ligada. Quando não exibe filmes, dá espaço para debates esportivos ou noticiários. Como vice, um dos desafios será levar informações e soluções ao meio político, onde a complexidade dos temas precisa de mais do que a inocuidade de um bordão.

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Alexandre vai além da faceta popular. Há alguns anos passou a aprimorar o conhecimento de vinhos. Adora postar fotos e responder a amigos no Instagram. Uma vez por semana mantém o visual em uma das barbearias retrôs de Blumenau. Quem trabalha com ele garante que a vaidade não atrapalha o clima com colegas. Equilíbrio a ser mantido em um ambiente indigesto como a política.

O namoro com o universo partidário era antigo, mas só virou compromisso com o PRB este ano, com aval de empregadores da mídia e o incômodo com os escândalos nacionais. A aliança com Kuhlmann foi buscada para agregar a experiência administrativa que falta ao apresentador.

Alexandre se movimenta nas ruas pedindo voto mais como um aprendiz de radialista nos anos 1980 do que com a leveza na qual hoje é capaz de trocar o enquadramento da câmera 1 pela 2. O futuro político pode estar em quatro anos como vice, em caso de vitória, ou em uma candidatura a deputado estadual em 2018 – “algo bem maduro”, segundo dirigentes do PRB. Exemplos de figuras que cruzaram as fronteiras entre comunicação e política não faltam: João Rodrigues, César Souza, Sérgio Zambiasi, Wagner Montes, Celso Russomano. A maior influência, no entanto, tem sotaque blumenauense: Rodolfo Sestrem.

As respostas para saber se o futuro de Alexandre José estará em mares políticos, no arenoso meio jornalístico ou como um anfíbio a transitar por esses dois ambientes aparecerão no dia 30. Não no botão do dial do rádio ou do controle remoto da TV, mas na tecla verde do Confirma das 714 urnas de Blumenau.

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