A Justiça alemã decretou nesta quinta-feira (5) a liberdade sob fiança para o ex-presidente catalão Carles Puigdemont, e desconsiderou que possa ser extraditado à Espanha por rebelião, um revés para as autoridades espanholas.

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“Nos vemos amanhã. Muito obrigado a todos!”, reagiu no Twitter Puigdemont, que está preso em Neumünster, no norte da Alemanha.

O tribunal do estado de Schleswig-Holstein, onde o líder independentista ficou preso por 10 dias, decidiu continuar analisando o pedido de extradição da Espanha, mas rejeitou a principal acusação que aparece na ordem de detenção europeia recentemente ativada por Madri.

O tribunal alemão considera que os feitos de rebelião pelos quais Puigdemont é acusado, por ter organizado o referendo da independência da Catalunha, não podem se manter em virtude do Direito alemão, pois isso implicaria que Puigdemont fosse diretamente culpado por atos violentos.

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A corte “considera que uma extradição por motivo de rebelião não é admissível”, indicou em comunicado.

Somente o crime de desvio de recursos públicos, que supostamente teriam sido destinados a organizar o referendo ilegal, pode ser retido para uma possível entrega à Espanha, explicou o comunicado judicial.

O governo espanhol reagiu à decisão da Justiça alemã dizendo que “respeita sempre” as decisões judiciais, “quando lhe agradam e quando não”.

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“O governo espanhol desconhece os termos exatos com os quais o tribunal alemão se pronunciou e, portanto, não pode fazer nenhuma avaliação”, declarou à AFP uma fonte do governo.

“Além disso, o governo nunca opina sobre decisões judiciais. Mais ainda quando se tratam de decisões de um tribunal de outro país. As respeita sempre; quando lhe agradam e quando não”, acrescentou.

– Fiança –

A jurisdição considerou que essas acusações são muito fracas para justificar sua continuação na prisão, pelo qual ordenou a colocação em liberdade de Puigdemont sob controle judicial, condicionando-a ao pagamento de uma fiança de 75 mil euros.

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O tribunal solicitou à Justiça espanhola que lhe dê mais elementos para realizar uma análise mais detalhada da solicitação de extradição por desvio de recursos.

Segundo fontes da prisão na qual está o líder separatista catalão, Puigdemont não será colocado em liberdade antes de sexta-feira durante o dia. Depois ficará proibido de sair da Alemanha, à espera de uma decisão final sobre seu caso, e deverá se apresentar uma vez por semana em uma delegacia.

Com esta decisão judicial, “a acusação escandalosa de rebelião fica descartada”, comemoraram em um comunicado seus advogados alemães.

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A sentença também supõe um revés para a Procuradoria alemã, que na terça-feira pediu a manutenção de Puigdemont na prisão e havia reconhecido a validade no Direito alemão das acusações de “rebelião” e “malversação de fundos”.

– Alta traição –

A Procuradoria considerava que o fato de ter organizado o referendo de independência apesar do risco de cenas de violência se aproximava da acusação de “alta traição” inscrita no Código Penal alemão, pela qual permitia extraditá-lo por rebelião.

Mas o revés é, sobretudo, para as autoridades espanholas. Se a Alemanha entregar Puigdemont à Espanha por malversação de fundos, cairá a principal acusação de Madri e, em virtude da legislação europeia, ele não poderá ser julgado por rebelião no país. O delito de malversação pode ser punido com penas de quatro a oito anos de prisão em média.

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A Justiça espanhola o acusa de “malversação de fundos” públicos por ter organizado o referendo considerado ilegal por Madri, cujo custo é calculado em 1,6 milhão de euros, mas principalmente por “rebelião”, após a declaração de independência pelo Parlamento catalão.

Para evitar sua entrega à Espanha por “rebelião”, passível de até 30 anos de prisão, Puigdemont havia apresentado um recurso na segunda-feira na Espanha contra esta acusação, destacando a ausência de violência em suas ações.

Com sua ida ao exterior, Puigdemont e outros seis líderes separatistas fugiram da Justiça espanhola e tentaram “internacionalizar” sua causa ao envolver outros países europeus.

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Nove independentistas estão atualmente em prisão provisória na Espanha, incluindo seis membros do Executivo e a ex-presidente do Parlamento catalão.

* AFP