Fazia um dia quente e abafado, típico dos verões joinvilenses. Arif Mohamen Aboobakar, 54 anos, passava mais uma vez por Joinville, destino recorrente por causa do seu trabalho. Desta vez, vinha acompanhado da esposa em um fim de semana.

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– Estávamos passeando próximo à (rua) João Colin quando vi um caminhão da Prefeitura regando as flores. Falei para a minha esposa: “Se esta cidade trata tão bem as plantas, que dirá seus habitantes”.

O cuidado que Arif observou naquela tarde nutriu a vontade de criar raízes em uma cidade depois de anos de mudanças constantes desde que imigrou com os pais para o Brasil quando ainda era criança. A família saiu de Moçambique em 1975, ano em que o país africano se tornou independente de Portugal. Outras famílias também tomaram a mesma a decisão, motivadas pela transição política.

– Nós tínhamos a opção de ir para a Austrália ou para o Brasil. O idioma e o clima tropical pesaram na escolha. Além disso, o Brasil facilitava a imigração.

As mudanças constantes entre o Sudeste e o Sul brasileiros desde então marcaram a vida de Arif. Joinville ficava em uma posição estratégica, entre São Paulo e Rio Grande do Sul, locais atendidos por uma empresa de equipamentos industriais na qual ele trabalhava. Isso acontecia em 1988, mas a imagem da cidade vista da BR-101 não saiu da memória do moçambicano.

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Por diversas vezes, Joinville esteve presente no vai-e-vem que precisou fazer em favor da profissão.

– Eu saía de Joinville, mas Joinville parecia não sair de mim.

Quando teve a oportunidade de montar o próprio negócio, em 1998, na mesma área, o cenário econômico da maior cidade do Estado também lhe parecia atrativo. Mas foi só em 2001 que Arif firmou filial na cidade, importante centro metalmecânico do país. Hoje, os papéis se inverteram: a unidade de Joinville é a matriz e a de São Paulo, filial.

– A casa que alugamos quando chegamos aqui não tinha grades. Minha esposa até brigou comigo porque não estávamos acostumados a ficar tão vulneráveis. Tanto que não conseguimos dormir a primeira noite por causa da sensação de insegurança. Depois é que percebemos que aquilo não era tão necessário como em São Paulo.

A possibilidade de uma vida tranquila, com qualidade, foi determinante para a fixação de Arif. Aqui, os dois filhos do casal nasceram e, mais recentemente, ele criou o Centro Islâmico de Joinville. O espaço para oração voltado aos muçulmanos chegou a receber 40 pessoas, a maior parte de senegaleses que vivem em Joinville.

Textos: Rafaela Mazzaro, especial