Belezas naturais, potencial turístico, hospitalidade e temperaturas baixíssimas para fazer qualquer um tremer de frio a Serra Catarinense tem, e de sobra.

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Neve, geada, cachoeiras, cânions, trilhas, lagos, enfim, muita coisa mesmo. O que falta, então, para que a viagem seja tudo aquilo que o turista desejou? O DC esteve em quatro cidades da Serra para saber o que as cidades oferecem de infraestrutura para receber os visitantes do chamado turismo de inverno, onde o que importa, mesmo, é sentir frio. Mas só isso? O turista quer mais. Com uma clientela cada vez mais exigente, as cidades tentam se desdobrar para recebê-la, mas ainda engatinham quando o assunto é bons locais para dormir, comer, se divertir.

A Serra te espera, sim, com inúmeras belezas, mas se você demorar um pouquinho a decidir o que quer fazer na cidade, além de esperar pelo rigor do inverno, ou deixar os planos para depois, pode ter de esperar a neve de dentro do carro.

Mais atividades em São Joaquim

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São Joaquim é conhecida Brasil afora por suas baixas temperaturas. Parada obrigatória de quem gosta do clima frio da Serra Catarinense. Quando a natureza colabora e a neve cai na cidade, então, hotéis, praças, ruas, restaurantes e cafés lotam. O frio em São Joaquim é sinônimo de turismo. Porém, ainda falta muito para a cidade assumir uma identidade turística. Segundo a secretária de Turismo do município, Maria Goreti Oderdenge, em julho de 2010, cerca de 70 mil pessoas visitaram a cidade para sentir o frio e ver a neve. Para ela, nem é preciso apostar em marketing nessa época do ano:

– O frio é nosso marketing.

É provável que a estratégia tenha lá sua vantagem, mas São Joaquim perde muito em diversidade. O turista se limita a passar pela cidade apenas para sentir e ver o frio. Fora isso, há pouco que fazer por lá. Atualmente, a cidade conta com apenas 730 leitos, incluindo hotéis, pousadas e casas alternativas, de moradores que se cadastram na Secretaria de Turismo para alugar quartos aos turistas. Há um esforço para que a situação seja mais favorável. O setor de alimentação recebeu novos investimentos para este ano. Cerca de cinco novos estabelecimentos abriram suas portas para o inverno 2011. O diferencial que a prefeitura tenta dar ao turismo local, segundo Goreti, é um atendimento especial para quem chega à cidade:

– Nossa cidade é tão fria, então, é preciso receber quem chega com muito calor humano.

Além disso, os horários no setor de informações, que fica na Praça Cezário Amarante, mudam nesse período. Ao invés de atender das 9h às 20h, fica aberto até as 2h. Restaurantes, bares e cafés também entraram na onda. Uma novidade para este ano é o Festival de Inverno, que ocorrerá nos finais de semana de julho. O evento contará com apresentações culturais e gastronomia típica.

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Há projetos em andamento que têm o objetivo de atrair mais turistas. Um deles é a cobertura do calçadão, no Centro da cidade. A ideia é de que o espaço seja ocupado por bares, cafés, restaurantes e artesanato. Outro projeto é a reforma da Praça João Ribeiro, em frente à catedral. Esse projetos, porém, ainda não saíram do papel e os turistas não poderão contar com essas novidades neste ano. Obras estão sendo realizadas no belvedere, e foram colocadas lixeiras, floreiras, bancos e bonecos de neve em toda a cidade, com o intuito de dar uma cara nova e agradável ao município.

Mas quem quer desfrutar das melhorias, tem de se apressar. A maioria dos estabelecimentos já está completamente reservada. O empresário Ivanildo Barros, diretor-sócio de um dos maiores hotéis da cidade, acredita que São Joaquim precise de algo que faça o turista dizer: “cheguei!”

– O que falta, principalmente, é a “maquiagem” – diz Ivanildo.

Segundo ele, a cidade não é visualmente atrativa e sofre carência em criatividade comercial e turística. O casal de turistas de Antônio Carlos Adilson e Joelma Schmitz escolheu três cidades para curtir o frio: São Joaquim, Urubici e Bom Jardim da Serra. Ao chegarem a São Joaquim, segundo eles, não se empolgaram com o que viram.

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– Não tínhamos opções de pontos turísticos para visitar. A visita ao museu, que estava em nossos planos, não deu certo porque ele estava com as portas fechadas – disseram.

Além disso, Adilson falou que turistas não estão apenas em busca do frio. Até pode ser o chamariz, mas é preciso que estas cidades invistam para que sejam ofertadas opções e roteiros, e, mais do que isso, que despertem o desejo de voltar.

Menos quanto em Urupema?

A cidade de Urupema emancipou-se, há 22 anos, do município de São Joaquim, e há quase 11 anos tem as menores temperaturas do Brasil. Em termos de registros, não há o que discutir: o município segue em primeiro lugar no ranking. Este ano, por exemplo, já registrou a menor temperatura do país, -7,9ºC.

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Mas, por outro lado, a pequena cidade ainda tem muito o que investir no ramo turístico. Com aproximadamente 200 leitos e apenas três locais para alimentação, o turista que quiser visitar o município praticamente não tem onde ficar. Segundo o prefeito Amarildo Gaio, a cidade vem investindo em obras de infraestrutura para dar subsídio a novos investidores. Enquanto isso, a iniciativa privada se vira como dá.

O biólogo Ari Fernando Raddatz é proprietário de uma pousada. Uma novidade que aumentou cerca de 70% das reservas, no mês de maio, na pousada de Fernando foi a implantação do observatório de aves.

– O pessoal daqui tem medo de arriscar em turismo e estão completamente errados, porque quem investir aqui, com certeza se dará muito bem.

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Urubici, terra das cachoeiras

Urubici é mais do que abençoada pela natureza. Em termos de opções turísticas, os visitantes têm roteiro para vários dias de parada na cidade. Mas o turista precisa vir preparado para um turismo exclusivamente de aventura e contemplação. O secretário de Turismo interino, que também é vice-prefeito da cidade, Antonio Carlos de Oliveira, afirma que quer a cidade recebendo 90 mil no inverno deste ano, e já aponta o problema:

– A demanda é muito grande, nós não conseguimos atender a todos.

Atualmente, a cidade conta com 1,5 mil leitos, entre hotéis, pousadas e casas alternativas. Hélio Antunes de Souza é produtor de truta. Ex-professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), trocou as salas de aula pela criação do peixe na cidade. Investiu em Urubici pela qualidade da água e pelo crescimento turístico que a cidade pode ter:

– Urubici é um lugar maravilhoso para se fazer turismo de aventura, mas falta essa informação “lá fora”.

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O prefeito Adilson Jorge Costa admite que ainda faltam atrações culturais para atrair o fluxo turístico, mas garante que há empenho em mudar a situação.

Potencial em Bom Jardim

Com apenas 210 leitos e 17 locais para alimentação, Bom Jardim da Serra ainda corre atrás no quesito infraestrutura.

Proprietário de uma pousada-resort na cidade e também presidente da Associação Bom-Jardinense de Turismo, Ivan Antônio Bertoncini Cascaes fala que o que pode alavancar o turismo será a implantação do Parque Eólico, que já está em andamento.

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Porém, o empresário acredita que falta muita consciência por parte dos dirigentes – e até mesmo dos moradores – de que o turismo é a indústria que mais divide e fixa a renda no município e na região.

– Falta vontade política de tratar o turismo como uma grande indústria – afirma Ivan.

O secretário de Planejamento municipal, Áureo Ribeiro Cassettari, afirma que o poder público irá, a partir deste ano, focar mais sua atenção o turismo.

– Precisamos preparar nossa cidade e nossas pessoas para receber e acomodar os turistas, para que eles fiquem na cidade e possam conhecer todas as nossas atrações turísticas – diz o secretário.

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No RS, o exemplo que deu certo

Sempre foi o clima que atraiu turistas para a Região das Hortênsias, na serra gaúcha. Mas o frio só se tornou o maior atrativo depois que houve baixa na procura pelo verão de temperaturas amenas. Investimento e marketing aplicados pelo menos nos últimos 90 anos sustentam as cidades entre os principais destinos de frio do Brasil. Atualmente, Gramado e Canela têm mais de 17 mil leitos distribuídos em 189 hotéis e pousadas. Distantes apenas sete quilômetros uma da outra, as duas receberam, no ano passado, quase 3 milhões de visitantes.

Os milhares de turistas movem, em Gramado, 90% da economia da cidade. Além de hotéis e da rede gastronômica, a infraestrutura turística também contempla parques e museus temáticos. Só para a divulgação da cidade são realizadas pelo menos, 50 ações por ano para fortalecer o destino turístico, que ganha evidências além do frio. Hoje, o foco, além da beleza da cidade, está mudando para o turismo de negócios. O frio, para eles, já foi superado.