No globo de bolas com números, milhares de pais depositam a esperança de uma educação de qualidade para o seus filhos. Ansiedade, alegria e frustração se misturam no sorteio de vagas para ingresso, em 2017, no Colégio de Aplicação da UFSC, realizado nesta quinta-feira.

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Do lado de fora do auditório, o sentimento é de tensão pela ocupação da escola por estudantes contrários à PEC 241. Do lado de dentro, antes do início do sorteio, o clima é dividido entre a esperança de conseguir uma das vagas e o nervosismo por saber o quão acirrada é a disputa. A única turma a ser aberta é do 1º ano do Ensino Fundamental. São 60 vagas, sendo que três delas são reservadas para crianças com deficiência. Para 2017, foram 1.086 inscritos disputando 57 vagas, ou seja, mais de 19 candidatos por vaga. No total, foram 6.329 inscritos, porém para os outros anos o sorteio é para cadastro de reserva. Qualquer família pode inscrever o filho no edital para participar do sorteio universal, que não impõe critérios socioeconômicos ou de bairro, por exemplo.

O primeiro sorteio que acontece é para o 1º ano, e o auditório fica lotado. São mães, pais, avós, de todos o bairros e cidades da Grande Florianópolis, que veem no Colégio de Aplicação a possibilidade de seus filhos terem estudo gratuito em uma instituição de referência, o que nem sempre é possível na rede pública.

— A heterogeneidade da nossa escola é única. Atendemos pessoas de todos os lugares, até de cidades como Santo Amaro da Imperatriz, que vêm em busca de ensino de qualidade. Mas para continuar assim, o número de alunos deve ser compatível com o recurso que recebemos. Infelizmente não temos como abrir mais vagas, mas ficamos sensibilizados ao ver a situação das famílias — explica a diretora Josalba Ramalho Vieira. 

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Logo no início dos trabalhos, a diretora pediu a participação de quatro pessoas da plateia para ajudar no sorteio das bolas. Ela explicou as regras e deu início ao procedimento. Os primeiros sorteados não estavam no auditório, até que, por coincidência, o número do filho de uma das que giravam o globo saiu. Comemorações e abraços na colega ao lado, que pouco tempo depois também teve a filha sorteada:

— Estou emocionada. Fiquei a noite toda sonhando com ela, e hoje de manhã minha filha ainda perguntou: mamãe, você não vai fazer a minha matrícula na escola? É a realização de um sonho. Senti vontade de estar ali participando, pensei que, quem sabe, ela conseguiria uma vaga pelas minhas mãos. O coração foi a mil na hora que vi que formou o número dela. Eu tenho uma filha de 27 anos, outro de 21 e outro de 13, sempre tentei vaga aqui e nunca consegui, mas agora pra minha caçula finalmente deu certo e ela vai entrar no primeiro ano. Isso representa muita coisa, um aprendizado melhor, o colégio é muito bom. Daqui sei que ela vai dar seguimento e entrar na Universidade, que é o sonho de todos os pais: ver seu filho estudando, que a gente sabe que educação é tudo —  falou Célia Inocêncio dos Santos, mãe da pequena Agnes, de seis anos. 

 A dona de casa Damaris Raquel Stein, mãe de Mateus, não segurou a emoção quando ouviu o nome do filho ser falado no microfone. Ele começa no primeiro ano em 2017:

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— É uma tranquilidade para a gente, estou muito feliz. Ele é meu único filho, e agora sei que vai ter um ensino muito bom. Hoje ele vai à creche na Tapera, mas a gente sabe que o 1º ano é muito importante. Estou muito feliz que deu certo — comemorou.

dAMARIS Foto: Diorgenes Pandini / Agencia RBS

Com o fim das 60 vagas, o auditório já começou a esvaziar. A maior parte não quis ficar para ver se conseguiria uma das vagas para cadastro de reserva. De mãos dadas com a filha, Tatiana Augustin disse que não ia desanimar enquanto deixava o local:

— Dessa vez não deu. Queria muito que ela estudasse aqui, eu tinha um sonho de infância de estudar no Aplicação, eu morava na Trindade e sempre via, e hoje tá muito difícil de conseguir escola boa. Mas, Deus é que sabe — falou.

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Pai pretende entrar com recurso

O professor de matemática e estatística, Eduardo Jara, também inscreveu a filha para tentar uma vaga no primeiro ano, mas logo que as regras do sorteio foram explicadas ele não concordou com a metodologia adotada. Ele chegou a se manifestar e uma professora foi chamada para explicar ao pai, porém não convenceu:

— Infelizmente é uma deficiência matemática de toda a população. Com o sorteio do jeito que estava, aqueles que tinham os números de zero ao 86 e do mil ao 1086, tinha 50% menos chance de ser sorteados. Fiz a probabilidade e expliquei para a professora. Educação é uma coisa séria, são 12 anos de educação para os nosso filhos, tem que ser justo para todos — falou.

 Eduardo disse que pretende entrar com recurso escrito nos próximos dias. A direção do Colégio de Aplicação informou que não é comum acontecer contestações no sorteio, mas que o pai tem o direito de fazer e a situação será analisada. 

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