O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin concretizou nesta quarta-feira (15) a saída do PSDB, em movimento ensaiado há meses. Ele é fundador do PSDB e tucano há mais de 30 anos. Aliados apostam, porém, que a decisão sobre a nova filiação deve ocorrer apenas no ano que vem.
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A mudança do ex-governador tem relação com seus planos eleitorais para 2022, que não poderiam ser viabilizados no PSDB. Alckmin avalia duas opções. A primeira é a filiação ao PSD, de Gilberto Kassab, para concorrer ao governo de São Paulo e tentar novamente sentar na cadeira que já ocupou por mais de 12 anos.
A segunda é integrar a chapa do ex-presidente Lula (PT) como candidato a vice-presidente – nesse caso a filiação mais provável seria ao PSB. A aproximação com o petista, confirmada por ambos, tem torcedores e detratores no mundo político.
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Em encontro com dirigentes de centrais sindicais, no dia 29 de novembro, Alckmin obteve apoio para a dobradinha e disse que a hipótese caminhava.
Alckmin lidera as pesquisas para o governo de São Paulo, algo que rivais minimizam atribuindo a recall. Mas, se migrasse sua candidatura para o plano nacional, abriria espaço, no estado, para Márcio França (PSB) e Fernando Haddad (PT), que tentariam buscar alguma composição.
Depois de sofrer, em 2018, a pior derrota do PSDB em eleições presidenciais, terminando com 4,76%, Alckmin pretendia retomar o Palácio dos Bandeirantes em 2022. Viu seus planos frustrados em maio, quando o atual governador, João Doria (PSDB), filiou seu vice, Rodrigo Garcia, ao PSDB, para ser o candidato tucano a sua sucessão.
Desde então, Alckmin abriu conversas com diversas siglas e, em paralelo, tornou-se opção de vice para Lula.
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Agora rival de Doria, de quem foi padrinho político, Alckmin decidiu só se desfiliar do PSDB após as prévias presidenciais tucanas para dar seu voto a Eduardo Leite (RS), a quem ajudou na campanha, articulando apoios em São Paulo.
Parte dos tucanos trabalhou para manter Alckmin no partido – inclusive Doria afirmou que preferia sua permanência. Para isso, porém, o ex-governador teria que concorrer ao Senado ou à Câmara, algo que descartou.
Nesta quarta, em rede social, Alckmin diz que é hora “de traçar um novo caminho” após 33 anos no partido. “Um soldado sempre pronto para combater o bom combate com entusiasmo e lealdade. Agora, chegou a hora da despedida.”
Alckmin, que costuma lembrar ter sido a sétima assinatura na fundação do PSDB, confirmou em agosto que estava de saída do tucanato, diante da escolha de Doria por Garcia.
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A ironia é ter sido Alckmin o responsável por colocar Doria na vida pública. Embora a relação entre padrinho e afilhado já estivesse deteriorada há mais tempo, a saída do PSDB consolida a rivalidade entre eles. Doria, que já é visto com muitas ressalvas entre tucanos, terá que arcar com mais um desgaste interno.
A filiação de Garcia agravou a oposição entre simpatizantes de Doria e Alckmin no partido e ocasionou o rompimento do presidente do DEM, ACM Neto, com o governador de São Paulo, que tenta conquistar aliados para sua candidatura ao Planalto.
Alckmin, que já foi governador por mais de 12 anos em quatro mandatos, lidera a corrida eleitoral com 26% das intenções de voto, segundo o Datafolha.
Em seguida aparecem Haddad (PT), com 17%; França (PSB, com 15%, empatado tecnicamente com o petista) e o líder de movimentos de moradia Guilherme Boulos (PSOL, com 11%).
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Em um cenário sem Alckmin, Garcia aparece em quinto lugar, com 5%. A pesquisa foi realizada de 13 a 15 de setembro com 2.034 pessoas em 70 cidades do estado. A margem de erro do levantamento é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
Alckmin tem até abril de 2022 para se filiar a alguma sigla com o objetivo de concorrer na eleição. Aliado de França, que foi seu vice-governador e também é pré-candidato ao governo de São Paulo, Alckmin pode repetir essa chapa em 2022.
Aliados de Doria afirmam que foram dadas opções a Alckmin – a de concorrer em prévias estaduais contra Garcia ou de disputar uma vaga no Congresso.
O prazo de inscrição nas prévias estaduais se encerrou em 20 de setembro, com apenas Garcia inscrito, o que consolidou o processo de saída de Alckmin do PSDB. A candidatura de Garcia foi homologada em novembro.
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Parte dos tucanos aliados de Alckmin chegou a estimular o ex-governador a concorrer nas prévias, mas ele se recusou, argumentando que a disputa seria desleal e que não tinha confiança no processo – já que Doria e Garcia têm usado recursos de programas do estado e filiações para ampliar sua base política.
A decisão de concorrer em 2022 marca o fim de uma espécie de período sabático de Alckmin, que se dedicou à medicina desde a derrota de 2018.
Alckmin faz curso de acupuntura no Hospital das Clínicas e, por isso, atende no ambulatório semanalmente. Ele também dá aulas na Uninove, onde faz doutorado.
Mesmo assim, o ex-governador não parou completamente sua atividade política. Conforme as eleições se aproximam, Alckmin tem intensificado suas visitas ao interior, reuniões com sindicatos e cafezinhos com políticos para afinar uma coligação de apoio.
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* Por Carolina Linhares
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