A insatisfação pode levar à desistência ou à mudança. No caso de Alberto Ferreira e Gisele Becker, 47 e 33 anos, a escolha pela segunda opção foi inevitável. Contribuir para mudar um sistema de ensino tradicional passou a ser um sonho assim que perceberam que poderiam fazer algo em favor de suas carreiras como professores – da filha, na época prestes a frequentar o maternal, e da educação de Joinville de uma maneira geral.
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Alberto, natural de Minas Gerais, era um experiente analista de sistemas em uma empresa de software de Joinville quando resolveu retornar à universidade, atendendo a uma vontade pessoal de conhecer uma nova área. Apesar da aptidão pelas ciências exatas, optou pelo curso de história, no qual conheceu Gisele, veterana de turma.
O encontro acadêmico que rendeu casamento e uma filha também reuniu dois profissionais inquietos que enxergaram, a partir da experiência em sala de aula, que o modelo tradicional de ensino não se encaixava na educação que ambicionavam enquanto estudantes.
– Na faculdade, eu me assustava com a maneira com que relatavam a experiência dos professores. Eu mesma, apesar de sempre ter sido uma boa aluna na escola, me sentia insatisfeita com a forma de ensino que havia recebido – conta Gisele.
Durante o estágio profissional, Alberto também se deparou com o mesmo problema:
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– Na verdade, existe uma falta de interesse de ambas as partes, tanto dos alunos quanto dos professores.
Os dois buscaram entre os sistemas alternativos já conhecidos um formato mais eficiente de educação até Gisele conhecer a Waldorf, filosofia de educação livre em que os saberes são repassados a partir de experiências e considerando as diferenças e desenvolvimento de cada aluno. As aulas baseadas no legado do austríaco Rudolf Steiner, fundador da antroposofia, oferecem aos alunos mais do que conteúdos: cada encontro é sempre uma nova descoberta.
Até então, Joinville não contava com uma instituição guiada pela pedagogia Waldorf, e o casal, ao invés de buscar uma instituição nas cidades da região onde já pudessem atuar, decidiu implementá-la no próprio quintal. A Escola Relicário de Luz nasceu em 2014 na casa deles, em Pirabeiraba, atendendo ao maternal e, depois, ao jardim de infância. No ano passado, a iniciativa cresceu e ganhou uma nova sede no bairro Vila Nova, onde passou a contar também com ensino fundamental.
O casal não se considera dono da escola. Os dois atuam em modelo de associação, em que os pais dos alunos ajudam a gerir a escola.
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– Sabíamos que seria muito mais fácil trabalhar com uma pedagogia inovadora fora de Joinville, nas cidades onde ela já é conhecida, mas acreditamos que a cidade e as crianças que nela vivem merecem ter esta oportunidade.
Texto: Rafaela Mazzaro, especial