O trabalho em uma revista feminina nos faz pensar, por vezes, que o mundo já é um lugar bom o suficiente para as mulheres, cheio de opções e escolhas possíveis. E eis que o jornalismo nos impõe uma verdade pouco confortável: ainda temos muito o que fazer para tornar o planeta um local aprazível para todas do nosso gênero. Durante alguns meses, a fotógrafa americana Jill Peters retratou as “Sworn Virgins“, ou “Virgens Juradas” (em livre tradução), as mulheres que tornam-se homens no interior da Albânia para garantir os direitos básicos que acreditam merecer.
Continua depois da publicidade
Em um passado nada distante, nas pequenas aldeias escondidas nos recônditos do país dos Balcãs, a sociedade era dividida em clãs. E neles imperava uma espécie de lei tribal, conhecida como Kanun, com preceitos rígidos e, diga-se, bastante desfavoráveis às mulheres. Conforme Jill conta em seu site, a Kanun determinava que as mulheres eram propriedade de seus maridos, sem direito a votar, dirigir, ter um negócio, ganhar dinheiro, beber, fumar ou usar calças. Isso tudo, por lá, era coisa de homem. Só de homem.
Para driblar essa legislação degradante, algumas mulheres decidiam tornar-se uma Virgem Jurada, ou seja, representar socialmente o papel de um homem. Desde cedo, a virgem jurada – ou burnesha, no idioma local – optava por assumir a aparência do sexo oposto: cabelos curtos, roupas masculinas e até mudança de nome. A fala e os gestos masculinizados eram treinados até que se tornassem parte da personalidade da mulher. E, importante, uma das principais premissas de uma burnesha é manter-se casta por toda a vida.
Tudo isso para exercer direitos básicos e para fugir de pesadelos como o casamento arranjado. As Virgens Juradas também cumpriam um papel importante em famílias sem filhos homens, que por não terem um varão em sua linhagem corriam o risco de perder todas as propriedades. Com uma burnesha, esse risco deixava de existir.
Continua depois da publicidade
Premiada pelo trabalho relacionado às questões de gênero, Jill Peters afirma que ainda existem algumas poucas mulheres que seguem essa tradição. Mas, com a modernização chegando aos cantos mais remotos da Albânia, a prática vem caindo em desuso. Felizmente.