Sábado, depois das 16h, a ala sul do Mercado Público de Florianópolis será fechada para que se iniciem as obras de revitalização. É o início da segunda etapa de um projeto que pretende aumentar a qualidade de um dos cartões postais de Florianópolis.

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É na ala sul que ficam as lojas mais tradicionais do Mercado: as peixarias, bares, quitandas e empórios. Será a primeira vez desde 1928 que o local será fechado completamente. Serão seis meses de obras.

A ala sul foi erguida em 1928 e é um dos primeiros prédios construídos sobre um aterrro em Florianópolis. Ela foi construída 29 anos depois da ala norte, que funcionava onde hoje é a rua Conselheiro Mafra. Junto da ala sul foram erguidas as torres e o vão central, consolidando a atual forma do Mercado Público.

Será a primeira vez em 67 anos que o Bazar Mansur – loja mais antiga do Mercado Público – não vai atender nos apertados 16 metro quadrados apinhados de panelas, bules, caçarolas e outras coisas.

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A proprietária, Marlene Mansur de Moraes, 75 anos, alugou duas salas em um prédio da rua Jerônimo Coelho para não fechar durante os meses de reforma:

– Tem que se adaptar ao que a vida traz – afirma Marlene.

Para se previnir de uma queda no movimento, ela distribui panfletos para todos os clientes com o endereço do local onde atenderá provisioriamente nos seis meses de fechamento da ala sul.

Mas nem todo mundo vai continuar aberto durante os seis meses. É o caso do tradicional Box 32, que vai privar seus clientes do presunto Pata Negra – o melhor do mundo – até dezembro. O proprietário, Beto Barreiros, vai fazer palestras sobre a história de seu comércio e vai focar os negócios na expansão da sua marca própria para outros cantos do Brasil.

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– Quero colocar os produtos do Box 32 em 4.500 pontos do país – diz Beto.

Para Beto, a revitalização será um marco para Florianópolis, que terá “o melhor Mercado Público da América Latina”. Para corroborar essa opinião, o empresário diz que os novos boxes terão uma estrutura melhor, permitindo aumentar a qualidade dos produtos e o atendimento:

– Quem viaja bastante sempre vai primeiro ao Mercado Público local. É ali onde está a alma da cidade, onde todos os tipos de pessoa têm acesso – afirma Beto.

O entusiasmo de Beto também é compartilhado por Marcelo Jaques, dono da Peixaria do Chico. Ele vai investir na modernização de seu comércio e acredita que os seis meses fora da ala sul não trarão nenhum tipo de prejuízo. As 10 peixarias ficarão temporariamente em tendas no terminal Cidade de Florianópolis, em instalações autorizadas pela vigilância sanitária.

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– Quem quiser tainha com certeza vai vir até as peixarias. Vai ser uma novidade para Florianópolis, pois será como uma feira de rua, assim como acontece no Rio de Janeiro e São Paulo – diz Marcelo.

O Bazar Mansur, a Peixaria do Chico e o Box 32 estão entre as 36 lojas que ocuparão os espaços na ala sul a partir de dezembro. Na nova estrutura, o Box 32 ocupará o box 4, mas manterá o mesmo nome.

“Nasci no Mercado”

– É a promoção dos calçados, tem por R$ 5,95, tem por R$ 9,95 – anuncia aos gritos Amarildo Alberto Elias, de 52 anos enquanto tenta vender os cerca de 500 pares que ainda possui em seu estoque.

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É o único que fez liquidação na ala sul do Mercado Público. Por isso é a loja onde mais gente fica aglomerada nas últimas semanas. Os gritos de vendedor fazem parte da vida de Amaril, que afirma ter “nascido no Mercado Público”:

– Na verdade nasci no Carmela Dutra, mas depois que a mãe saiu de lá, voltou ao trabalho – conta Amarildo.

Ele e outros oito irmãos foram criados no box da mãe. Amarildo não conseguiu deixar o Mercado e abriu uma loja de calçados – a única que fez liquidação na ala sul – e outra de caldo de cana.

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No dia 2 de junho larga definitivamente a venda de calçados e muda de endereço. Vai para a ala norte, onde continuará vendendo o suco doce da cana-de-açucar.

– Minha história no Mercado não termina aqui – diz Amarildo antes de voltar a anunciar “é a promoção dos calçados, tem por R$ 5,95, tem por R$ 9,95”.

A simpatia do vendedor Marlene é uma senhorinha que fica sentada em frente do balcão em meio de um monte de panelas. Atende os clientes como velhos amigos e recebe pessoas de todo o Estado que vêm especialmente procurar seus produtos – com a qualidade do tempo da vovó, quando as coisas eram produzidas para durarem décadas.

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– Panelas, caçarolas, temos todas – diz Marlene a uma cliente que procura um presente para o irmão.

A proprietária do Bazar herdou do pai, Gedeão Mansur o conhecimento dos utensílios de cozinha e a simpatia no atendimento. Gedeão fundou a loja em 1947 e nunca tirou férias. Faleceu em 1999 quando Marlene assumiu os negócios do pai.

Ela era cirurgiã dentista aposentada e teve que se acostumar com o comércio. Hoje parece um daqueles personagens que só o comércio é capaz de produzir. Pessoas aparecem simplesmente para dar um “oi” para Marlene ou para comprar uma canequinha pelo simples prazer de pedir um desconto.

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– Pagando em dinheiro, tudo tem desconto – brinca Marlene.

O Bazar Mansur – que Marlene jura ter o “maior estoque de panelas fora das fábricas” – vai voltar em dezembro para o mesmo box 29 onde atendeu durante os primeiros 67 anos de sua história.

Ala norte reabre na segunda-feira, mas maioria dos lojistas não têm alvará Aparentemente sem atrasos, a ala norte do Mercado Público deve ser reaberta no dia 2 de junho, próxima segunda-feira. Faltam apenas detalhes na parte externa do prédio para a liberação.

Porém, dos 77 boxes, apenas 11 já possuem alvará para o início das atividades. Segundo a Secretaria de Administração da prefeitura, existe a expectativa de abertura no primeiro dia de liberação do prédio com um número mínimo de lojas. Os outros 66 boxes devem abrir gradualmente ainda no mês de junho.

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