Há apenas cinco dias, a possibilidade de a Síria admitir a existência de armas químicas sob seu controle e aceitar transferi-las a representantes estrangeiros pertencia ao reino da fantasia.

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Ontem, o ditador Bashar al-Assad fez exatamente isso durante entrevista a um canal de TV russo: disse que colocará seu estoque de armas químicas sob guarda internacional, acatando a proposta de Moscou. Em seguida, a Organização das Nações Unidas (ONU) anunciou ter recebido correspondência de Damasco na qual o regime manifesta intenção de aderir ao tratado que proíbe essas armas.

– A Síria está colocando suas armas químicas sob controle internacional por causa da Rússia. As ameaças dos Estados Unidos não influenciaram a decisão – garantiu Al-Assad, em entrevista traduzida para o russo.

O ditador condicionou sua aceitação da proposta russa à desistência dos EUA de ajudar os rebeldes na guerra civil que já dura dois anos e meio:

– É um processo bilateral. Quando constatarmos que os Estados Unidos querem efetivamente a estabilidade na região, que deixam de ameaçar, de tentar atacar e de entregar armas aos terroristas, então consideraremos que podemos realizar os procedimentos até o final e que serão aceitáveis para a Síria.

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As declarações de Al-Assad foram feitas pouco antes do início da reunião entre EUA e Rússia, em Genebra, sobre a proposta para a Síria abrir suas portas aos inspetores e eliminar armas químicas. A entrega do arsenal por Al-Assad foi proposta pela Rússia como solução para evitar um possível ataque americano e europeu contra a Síria. O envolvimento das potências estrangeiras passou a ser debatido depois que mais de 1,4 mil pessoas morreram num suposto ataque químico no subúrbio de Ghouta, perto de Damasco.

A rapidez com que Al-Assad aderiu ao plano russo e se dirigiu às ONU contrasta com a atitude americana, que oscila entre a cautela e a incredulidade. Nos últimos dias, o presidente Barack Obama e alguns de seus principais assessores expressaram reservas quanto à sinceridade de Damasco.

O jornal russo Kommersant revelou ontem que o plano de Moscou para resolver a crise síria tem quatro partes. A proposta inclui, em primeiro lugar, a adesão de Damasco à Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq), declarar a localização do estoque, permitir o acesso de inspetores e enviar o arsenal para destruição.

A oposição síria denunciou o plano, alertando que só provocaria mais mortes em um conflito que já tirou 110 mil vidas desde março de 2011. O comandante do Exército Sírio Livre, Selim Idriss, afirmou que os rebeldes rejeitavam categoricamente a iniciativa russa. O grupo de oposição Coalizão Nacional Síria disse que o plano é uma “manobra política que tem por objetivo (fazer Al-Assad) ganhar tempo” e que daria luz verde para outros regimes utilizarem armas químicas.

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