Apesar da aproximação iniciada há um ano entre Estados Unidos e Cuba, as restrições vigentes pelo embargo impedem falar de “uma verdadeira relação comercial” – estimou a diretora da Política Comercial cubana para América do Norte, María de la Luz B’Hamel.
Continua depois da publicidade
Em entrevista exclusiva à AFP, B’Hamel aponta “avanços positivos” na vontade dos dois países de normalizar suas relações.
Entre eles, menciona o restabelecimento do diálogo diplomático, a exclusão de Cuba da lista de países terroristas e as medidas para flexibilizar o embargo, que Havana sempre denunciou como um “bloqueio” imposto há mais de cinco décadas.
AFP: As relações comerciais entre Cuba e Estados Unidos progrediram no último ano?
B’Hamel: Achamos que houve avanços, avanços sobretudo em termos de trocas, em termos de nos conhecer. Somos dois países vizinhos que, depois de mais de 50 anos de ruptura das relações diplomáticas, com todo o peso do bloqueio, iniciam um processo de aproximação.
Continua depois da publicidade
É incrível o desconhecimento que ainda há do alcance das medidas do bloqueio (pela parte norte-americana). Aqui, nós negociamos em ocasiões com contrapartes que se surpreendem: ‘mas isso não é possível!’, ‘mas isso está em vigor?’. É uma situação muito complexa, muito ampla, muito enredada.
Nesse ano, recebemos uma infinidade de visitas de distintas entidades dos Estados Unidos. O tema tem sido identificar os interesses comuns, descobrir potencialidades de coisas que poderíamos fazer.
Mas não é possível falar de relações normais enquanto existir o bloqueio econômico, comercial e financeiro que os Estados Unidos impõem à Cuba e que, na verdade, não tem tido modificações substanciais.
AFP: Além da suspensão do embargo, que é prerrogativa do Congresso, Cuba pede mais medidas executivas para limitar seus efeitos. A senhora poderia nos dar exemplos?
Continua depois da publicidade
B’Hamel: Há uma série de competências, de prerrogativas, que ainda estão na esfera do Poder Executivo, que poderiam ser aplicadas e contribuir para avançar em um clima mais favorável nas relações na área econômica e comercial.
As medidas adotadas até agora, entre janeiro e setembro, são positivas, vão em um sentido positivo, mas até esse momento, por exemplo, Cuba não pode utilizar o dólar em suas transações internacionais.
Isso afeta não só a relação entre Cuba e Estados Unidos, mas impacta também as relações de Cuba com o resto do mundo, com os parceiros comerciais que temos no mundo todo.
Por que a suspensão de restrições que foi estabelecida para o setor das telecomunicações não pode ser estabelecida em outros setores, como o de energia, onde há tantas possibilidades, de turismo, de agricultura?
Continua depois da publicidade
AFP: Mas, em julho, Cuba conseguiu ser tirada da lista negra americana de “Estados que apoiam o terrorismo”, o que paralisava a ajuda econômica dos Estados Unidos e os avanços comerciais e financeiros…
B’Hamel: Supostamente essa era uma das razões para toda a perseguição bancária e financeira à Cuba.
Entretanto, nenhuma medida foi aplicada para dar confiança aos bancos e dizer: ‘bom, esse país, esse Estado (…) não tem por que ser alvo do temor dos bancos para trabalhar com ele’. Mas, não, depois disso veio a multa ao Banco Crédit Agricole da França. Isso foi muito recente (por ter violado os embargos americanos ao Irã, ao Sudão e a Cuba, ndlr).
Quando Cuba saiu da lista, no mesmo dia foi adotada a disposição de que bens produzidos em diferentes países com até 25% dos componentes de origem americana poderiam ser exportados para Cuba. Por que manter um limite e não eliminá-lo?
Continua depois da publicidade
Esse foi um passo positivo, mas realmente esses são temas sobre os quais é necessário continuar dialogando com base na vontade das duas partes de avançar para a normalização das relações bilaterais, que não será conseguida sem a suspensão do bloqueio.
ag/cb/vel/fj/cc/tt