Ah, não. Até o André Rieu?
Aprendi com meu pai a admirar este grande maestro holandês, que mistura pop com erudito como ninguém. E agora que está fazendo uma série de shows no Brasil, ele e sua grande e brilhante orquestra seguidamente aparecem em programas de televisão.
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Dia desses vi André Rieu fazer uma homenagem especial ao nosso país. Ele tocou Aquarela do Brasil (tá, tá, não tem nada de original em estrangeiro tocar essa música, mas ficou bonito). E reservou para o final a grande surpresa: os músicos tocaram – e o coro feminino da orquestra cantou e dançou – uma música ainda mais “típica” brasileira: Nossa, nossa, assim você me mata, ai, ai se eu te pego, delícia, delícia, assim você me mata, ai, ai…se eu te pego…
Ah não, Rieu, até você?
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Claro que o público, no auditório, delirou. Cantou junto, dançou, gritou…Michel Teló também deve ter adorado a homenagem, se bem que ele já está acostumado a ouvir sua música sendo cantada por muita gente famosa. Mas, convenhamos, temos tantas músicas brasileiras – e bem populares – mais bonita do que essa… De quem será que foi a ideia de escolher justo esta para o repertório?
Nunca fui fã do Michel Teló, mas também não pertenço ao grupo dos que ficam malhando o cara o tempo todo. Cada um na sua, esse é o meu lema. Só que esta música parece ser onipresente. É incrível, ela tem o dom de estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Quando você menos espera, lá vem o nossa… nossa… assim você me mata, ai, ai…
Ai Ai digo eu. Chega!
Estávamos no Peru, em abril. Depois de um dia inteiro de visita a Machu Picchu, a van nos deixou próximo ao hotel. Era só atravessar uma praça. Exaustos e com muito frio, caminhávamos rápido, loucos para chegar no quarto quentinho. Aí, uma menina se aproximou, devia ter uns 10 anos, no máximo. Na sacola, várias bonequinhas de pano, vestidas com roupas típicas peruanas.
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– Compra uma senhora?
– Não, obrigada. Estamos com pressa – respondi, em português.
– Vocês são brasileiros?
Respondi afirmativamente, e aí começou a minha surpresa. A menina sabia mais sobre o Brasil do que muita gente nascida e criada aqui.
– O Brasil é o maior país da América do Sul. A população é de 194 milhões de habitantes. Todos lá falam português. Pela primeira vez na história o Brasil tem uma mulher presidente. O nome dela é Dilma.
Ah, me apaixonei pela menina, claro.
– Como você aprendeu tudo isso?
– Na escola. E decorei, pra poder conversar com os turistas brasileiros. Agora a senhora compra a boneca?
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Comprei, lógico. Duas.
Antes de dar tchau, a menina me sai com essa:
– Sei mais uma coisa sobre o Brasil. Lá, existe um cantante muito famoso…
Puxa, ela sabe até sobre o Roberto Carlos… Pensei.
E ela me sai com essa:
– Ele canta assim ó: nossa, nossa, assim você me mata, ai, ai, delicia….
Me deu vontade de pedir meu dinheiro de volta.
Chegamos finalmente no hotel. Ligo a TV, na esperança de encontrar alguma coisa diferente pra ver. Começa um programa de auditório, que passa no país todo. Nem lembro o nome. Meninos e meninas competem para ver quem canta melhor. Era o dia da final da competição.
O apresentador cumprimenta o público, os telespectadores e anuncia:
E agora, os finalistas nacionais da competição “Ai se eu te pegooooo”. Juro. Era a música do Michel Teló, em diversos ritmos e danças diferentes. Mas era ela.
Isso já é perseguição.