Morar em cidade de veraneio é meio estranho. Por exemplo: todo mundo nesta época está no maior clima de praia, de férias, menos quem tem que trabalhar em janeiro e fevereiro, como é o meu caso. Na rua dá pra ver bem quem é turista e quem está indo ou voltando do serviço. São duas tribos bem diferentes.

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O mais esquisito é morar na praia (ou nos caminhos que levam a elas) e sair de casa para ir trabalhar enquanto está todo mundo se dirigindo para a beira da praia. Você ali, de calça jeans, camiseta e sapatinho, no maior calorão (maquiagem nem pensar, derrete em cinco minutos), e o pessoal de roupa de banho e chinelos, com o guarda-sol e cadeirinha, à caminho do mar…

– Você parece um alienígena, que caiu da nave direto naquele cenário de praia – comenta uma colega, que mora no Campeche e sai de lá todas as manhãs para bater ponto no jornal.

O assunto logo dá margem a vários comentários. Percebo que não sou a única a estranhar a cidade nos meses de verão.

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– Pra mim, o mais difícil é manter a calma no trânsito. É que a gente, que não pode tirar férias agora, está sempre atrasado e cheio de compromissos a cumprir. O turista, ao contrário, tem todo o tempo do mundo para curtir a cidade, e fica passeando de carro, sem se importar se está formando uma longa fila de gente estressada atrás dele – lembra outro colega.

E isto é fato. Dia desses eu subia o elevado do Rita Maria em direção ao centro da cidade, quando tive que frear subitamente. É que, na minha frente, uma turista de Belo Horizonte (pelo menos era isso o que mostrava a placa do carro) decidiu filmar a ponte Hercílio Luz (realmente, a visão dali é linda), e o marido dirigia o carro a, no máximo, 20 quilômetros por hora, para ela conseguir enquadrar o visual. Eu já ia tacar a mão na buzina quando decidi relevar. Afinal, eles estão curtindo a cidade, de férias, e não ia adiantar nada eu me estressar. Na avenida Beira-Mar Norte é a mesma coisa: quem vem veranear, não está nem aí pra congestionamento. Aproveita quando tem fila para fotografar a cidade ou paquerar as meninas que estão praticando sua corrida. E nós ali, suspirando fundo, loucos para chegar em casa, trocar de roupa e encerrar mais um dia de trabalho.

Quem mora na praia e não tem férias no verão raramente consegue aproveitar a mais alegre estação do ano, porque a diversão tem hora marcada para acabar.

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Dia desses eu tinha que trabalhar à tarde, mas topei participar de um churrasco na casa de amigos, que estão veraneando numa praia no Norte da Ilha. Estava marcado para o meio-dia. Chegamos pouco depois deste horário. A casa vazia.

– Eles estão na praia, me disse a vizinha.

Chegaram por volta das 13h30min, e só então começaram a dar jeito na comida. Uma hora e algumas caipirinhas depois, finalmente alguém grita:

– Pessoal, o salsichão tá na mesa!

Foi este o meu almoço. Salsichão, pão e Coca-Cola. E saí correndo, pra não perder a hora no trabalho. Todos me olharam com cara de pena.

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– Puxa, você vai perder o melhor da festa!

Fazer o quê? Entrei no carro e saí ligeiro, ainda sentindo o cheirinho bom que vinha da churrasqueira…