Realismo ou fantasia? Nem uma coisa nem outra. Realismo fantástico é o dom de dar verossimilhança a elementos mágicos. É fazer com que os personagens daquela história vejam com normalidade seres e acontecimentos sobrenaturais.

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Aguinaldo Silva bebeu da fonte do mestre Dias Gomes (1922 – 1999) e, a partir daí, levou o público a altos voos pelo realismo fantástico. Relembre algumas das maiores fantasias que saíram da mente fértil do autor direto para a TV.

Por falar em fonte, a atual novela das nove, O Sétimo Guardião, de sua autoria, tem um aquífero capaz de operar milagres. Como diria dona Milu (Miriam Pires), em Tieta (1989), “Mistéééério!”

Cuidado com a florzinha

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Ninguém resistia às lentes de Jorge Tadeu
Ninguém resistia às lentes de Jorge Tadeu (Foto: Divulgação / Divulgação)

Em Pedra Sobre Pedra (1992), a pequena cidade de Resplendor nunca mais foi a mesma depois da chegada de Jorge Tadeu (Fábio Jr.). O fotógrafo esbanjava charme e seduzia boa parte das mulheres da região, com predileção pelas casadas.

Com tantos maridos traídos, era de se esperar que o bonitão tivesse um fim trágico. Porém, mesmo depois de morto, Jorge Tadeu aparecia para as suas amadas, desde que elas comessem uma certa flor mágica.

A trama tinha ainda o enigmático Sérgio Cabeleira (Osmar Prado), que sentia uma forte atração pela lua cheia. Tanto era assim que acabou sendo puxado por ela no final da história.

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No último capítulo, outra cena emblemática: o vilão Cândido Alegria, interpretado por Armando Bógus (1930 – 1993), virou uma estátua. De pedra, é claro.

Nem tudo o que reluz é ouro

Flamel viu o feitiço virar contra a amada
Flamel viu o feitiço virar contra a amada (Foto: Viva / Divulgação)

Um misterioso forasteiro chegou a Tubiacanga prometendo transformar ossos humanos em ouro. Em Fera Ferida (1994), Aguinaldo inseriu elementos lendários como a pedra filosofal, atribuída a Nicolas Flamel (1330 – 1418), alquimista real que buscava o “Elixir da Longa Vida”.

Não à toa, Nicolau Flamel (Edson Celulari) seguia os passos de seu xará ilustre, mas com o intuito de enganar os poderosos de Tubiacanga. Como castigo pelas suas armações, Flamel começa a transformar tudo o que toca em ouro, incluindo a sua amada, Linda Inês (Giulia Gam).

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Outra personagem peculiar na novela era Camila (Claudia Ohana). A jovem passava meses, até mesmo anos, em um sono profundo. E só acordava ao sentir o cheiro de sua comida favorita: estrogonofe de bacalhau.

Realista, mas não muito

Personagem Cora sumiu interpretada por Drica Moraes e retornou como Marjorie Estiano (direita)
Personagem Cora sumiu interpretada por Drica Moraes e retornou como Marjorie Estiano (direita) (Foto: Isabella Pinheiro / Gshow/Divulgação)

Depois de A Indomada (1997), Aguinaldo investiu em tramas mais realistas, como Senhora do Destino (2004) e Duas Caras (2007). Até mesmo Império (2014) tinha tudo para ser uma novela comum, até que as circunstâncias chamaram o autor de volta ao mundo fantástico que tanto o consagrou.

Drica Moraes, intérprete da vilã Cora, precisou se afastar da trama por problemas de saúde. A solução encontrada foi trazer de volta Marjorie Estiano, a vilã da primeira fase.

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Cora rejuvenesceu, sem explicações reais ou fantásticas para o fenômeno. Talvez, a megera tenha bebido algum elixir criado por Raimundo Flamel, ou, quem sabe, se banhou na fonte da juventude de Serro Azul. Pouco importa: mergulhamos de cabeça na fantasia, sem questionar.

O último capítulo também deixou no ar um pouco do velho Aguinaldo do realismo fantástico. José Alfredo (Alexandre Nero) morreu – duas vezes, para ser mais exata – e apareceu na janela da sua mansão, para a surpresa do público. Fantasma? Mais um blefe do Comendador? Jamais saberemos…

Do outro lado…

Emanuel ganhou asas
Emanuel ganhou asas (Foto: Ver Descrição / Ver Descrição)

Greenville era uma cidade cheia de esquisitices, a começar pelo sotaque dos moradores, uma mistura de inglês com nordestino. “Well” (“bem…), em uma das divertidas situações de A Indomada, o delegado Motinha (José de Abreu) caiu em um buraco e foi parar no… Japão!

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Emoção e fantasia permearam as últimas cenas de Emanuel (Selton Mello). Depois de sofrer com visões e sensações estranhas por toda a trama, ele se revelou um anjo, com direito a asas enormes e uma aura de luz. Mesmo depois de subir aos céus, o personagem celestial voltou com frequência para visitar a sua amada, Grampola (Karla Muga) – afinal, “era anjo, mas não era de ferro”, como o danadinho mesmo dizia.

O final da vilã Maria Altiva Pedreira de Mendonça e Albuquerque (Eva Wilma) também teve um quê de sobrenatural. Após tentar matar Helena (Adriana Esteves), a megera morreu queimada em uma cabana. Seu espírito sobrevoava a cidade ameaçando: “I’ll be back – Eu voltarei!”

Inspirado no “pai” do realismo fantástico

Astromar virava lobisomem
Astromar virava lobisomem (Foto: Reprodução / Reprodução)

Popularizado por Dias Gomes (1922 –1999), o gênero surgiu na teledramaturgia em meados dos anos 70, com Saramandaia (1976), obra na qual o autor, literalmente, deu asas à imaginação. No universo criado por ele, homens voavam, mulheres pegavam fogo de tanto desejo ou explodiam de tanto comer.

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Tudo era possível! E, bem contadas, as histórias ganhavam vida diante dos telespectadores.

Em 1985, em parceria com Aguinaldo, Dias apostou em uma pitada de fantasia em Roque Santeiro, fenômeno que marcou a história da teledramaturgia. Na trama de Porcina (Regina Duarte), a “viúva que foi sem nunca ter sido”, o grande mistério era a dupla identidade do professor Astromar (Rui Resende), que virava um lobisomem nas noites de lua cheia. “Mistérios da meia-noite que voam longe…”. Aliás, o ser metade homem, metade lobo, já havia mostrado suas garras em Saramandaia, na figura sinistra de Aristóbulo (Ary Fontoura).

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