Valmor Raul de Farias se dedica à plantação de bananas há 30 anos, em Corupá, no Norte catarinense, sempre preocupado com o preço pago ao produtor, o valor dos insumos e do diesel e as condições climáticas. Mas neste mês, o sorriso sempre estampado no rosto de Valmor e a euforia do dia a dia têm outro motivo, bem distante dos bananais.

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As frutas produzidas por ele e pelas 27 famílias associadas à Cooper Rio Novo ganharam um QR Code, código que permite rastrear a localização e o produtor responsável por cada cacho da fruta.

>> VÍDEO: Confira como é o novo processo para embalar as bananas

No início, o comprador achou que era mais uma invenção boba, com custos extras. Contudo, pouco tempo depois, ele teve outra impressão, pois os Estados passaram a exigir a rastreabilidade dos produtos agrícolas.

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Antes do QR Code, a cooperativa já havia recebido um logotipo, embalagens personalizadas com a marca e até caixas de papelão estilizadas para o transporte das bananas do tipo premium.

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O trabalho realizado pelo Núcleo de Gestão de Design (NGD) da UFSC com a Cooper Rio Novo e outros 50 empreendimentos rurais busca valorizar a produção e dar uma imagem mais profissional ao produto da agricultura familiar, a começar pelo registro das marcas.

– Faltava uma identidade para aquelas pessoas, que são tão unidas para produzir e buscam o mesmo objetivo. O que fizemos foi mostrar o potencial do projeto, mas esse é um processo gradativo – explica o professor Eugênio Merino, que é coordenador do NGD e responsável pelos 15 pesquisadores envolvidos no projeto.

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A pesquisa explora agora a ergonomia dos trabalhadores da bananicultura. Recentemente, foram implantados sensores nos braços e nas mãos dos agricultores para acompanhar todo o trajeto do plantio até a fase de embalagem.

As informações coletadas alertam para os problemas de saúde mais comuns da profissão, principalmente a artrose reumatoide causada pelo esforço repetitivo.

A equipe de pesquisadores já desenvolveu ferramentas adaptadas para minimizar os danos e, em dois meses, elas chegarão à cooperativa para os primeiros testes.

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Enquanto isso, na Cooper Rio Novo, os agricultores lavam, classificam e embalam – o que garante um preço 30% maior por caixa do que o valor pago pelas frutas sem beneficiamento – e estudam uma forma de reduzir os 2% ou 3% de perdas registradas na produção.

As frutas menores, que hoje são descartadas, são vendidas em embalagens voltadas para as crianças; as bananas que se desprendem do buquê podem ser oferecidas em bandejas com cinco unidades, por exemplo.

União gerou frutos inesperados

Com o objetivo de manter os jovens no campo e incentivar o empreendedorismo deste segmento, o Programa SC Rural, do governo do Estado, já destinou mais de R$ 3 milhões para 135 projetos. E foi com R$ 142 mil deste programa que a Cooper Rio Novo, de Corupá, conseguiu comprar tratores e uma esteira para agilizar o beneficiamento da banana, além de um computador para o serviço administrativo.

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Depois, outros recursos vieram por meio de emendas de parlamentares e garantiram a compra de um gerador de energia e uma câmara frigorífica para climatizar a banana.

– Quando estamos separados, ninguém enxerga o produtor, mas quando nos juntamos, conseguimos até o que a gente nem esperava alcançar – diz, emocionado, Valmor Raul de Farias, presidente da cooperativa.

Depois de experiências de cooperativismo malsucedidas e que deixaram rastros de dívidas de mais de R$ 1 milhão, não foi fácil para os produtores no Norte de SC acreditarem que dessa vez ia dar certo.

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Eles só aceitaram se reunir porque se tratava de uma associação e, em 1994, surgiu a Associação dos Bananicultores de Corupá (Asbanco). Desde então, o objetivo maior do grupo, que hoje reúne 418 associados, é a compra coletiva de fertilizantes e defensivos agrícolas, reduzindo os custos para os agricultores.

O frio ajuda e também atrapalha

Os cinco mil produtores catarinenses colocaram o Estado como o terceiro maior produtor nacional ao colher 689 mil toneladas de banana em 2012. São quase 30 mil hectares dedicados ao cultivo das variedades prata e nanica.

A produtividade é de 23,3 toneladas por hectare, volume muito abaixo das 27,7 toneladas colhidas pelo Rio Grande do Norte e das 37 toneladas da Índia, país que é o maior produtor da fruta no mundo.

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A geografia responde por muito desta diferença, já que a banana é natural de clima tropical. Líder na América Latina, o Equador tem ciclos de seis meses para o amadurecimento da fruta, enquanto o Sul do Brasil precisa de 10 a 13 meses.

Mas se o frio reduz a velocidade de maturação, ele também espanta grande parte dos parasitas, que exigem a pulverização de agrotóxicos 40 vezes ao ano por lá. Em SC, são apenas seis.

Corupá sedia congresso

Os métodos de prevenção de doenças como o TR4, fungo encontrado em plantações de banana na Ásia e na África, serão assunto no Congresso Latino-americano e do Caribe de Bananas e Plátanos, que ocorre entre os dias 18 e 20 de agosto, em Corupá, no Norte de SC.

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O evento acontece pela primeira vez no Brasil e terá a presença de 500 participantes, sendo 50 pesquisadores de 16 países.

Além das pragas, o congresso aborda ainda a produção não convencional, a falta de água e os reflexos na irrigação e as mudanças climáticas. Após as discussões técnicas, Corupá sedia ainda a festa catarinense da banana, que se estende até dia 23, com exposições e cursos de alimentos à base de banana, concurso e desfile.