Os reflexos da pandemia de coronavírus atingiram em cheio famílias que vivem da produção de alimentos em Santa Catarina. Principalmente os pequenos produtores da agricultura familiar, que entregavam a produção de hortaliças, frutas e verduras para escolas, fechadas desde março em todo o Estado.

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– Do dia pra noite tudo parou.

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A frase, dita em tom de quase desespero, é do presidente da Cooperativa dos Produtores Rurais de Campo Alegre, cidade no Planalto Norte catarinense. As 44 famílias que fazem parte da cooperativa plantam verduras, legumes, frutas e faziam a venda para a rede municipal de educação de Campo Alegre. Tinham inclusive vencido uma nova licitação para o ano de 2020.

– Estávamos com licitação ganha, terra preparada, sementes compradas e muitos produtos sendo colhidos. Do dia para a noite as escolas fecharam e nós estávamos com os caminhões carregados prontos para as entregas. Foi desesperador. Acabamos vendendo tudo em feiras, a preços bem baixos para não ter que jogar fora. Mas a falta de um mercado certo deixa todo mundo apreensivo – explicou o produtor Lucimar Hoff.

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Segundo o agricultor, ainda não foi feito levantamento para saber o volume do prejuízo. A situação só não ficou pior porque algumas famílias da cooperativa acabaram indo para feiras, ou vendendo na internet. Hoff lembra que como a mão de obra é escassa – feita apenas pelos membros da família – nem sempre são alternativas possíveis para a realidade deles.

Para tentar reverter a situação, uma parceria entre a Epagri e Associação Catarinense de Supermercados (Acats) quer tentar fazer com que esses produtos cheguem até a mesa dos catarinenses através dos supermercados. A Epagri mapeou os produtores já habilitados no Estado e com a qualificação necessária (qualidade, preço, prazo). Nesta primeira etapa foram listados 517 empreendimentos.

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Com dificuldades para comercializar os produtos por conta da pandemia, muitos produtores da agricultura familiar participaram de pequenas feiras (Foto: Lucimar Hoff, Arquivo Pessoal)

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O projeto está agora na segunda fase, que segundo o presidente da Acats, Paulo Cesar Lopes, visa fazer a negociação entre supermercados e produtores.

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– Este apoio a produtores familiares já acontece de forma espontânea por parte de várias empresas supermercadistas, principalmente as que têm lojas em regiões de forte demanda agrícola. O que vai acontecer a partir de agora com essa parceria é que as possibilidades de conexões entre os produtores e os profissionais compradores das empresas serão ampliadas e poderão acontecer o ano inteiro. E a deflagração da campanha certamente vai atrair atenção de novos produtores que buscam mais varejos para as demandas de produção – afirma o presidente.

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Ainda segundo Lopes, o consumidor catarinense será beneficiado com oferta de produtos locais ou regionais com aproveitamento pleno das safras de hortifrutigranjeiros, produtos frescos e com melhores preços. Contudo, ainda não há um prazo para que a parceria comece a surtir efeito na prática, com os produtos chegando ainda mais à mesa dos catarinenses.

A Cooperativa de Campo Alegre, liderada por Hoff e os produtores aguardam que essa negociação aconteça o quanto antes.

– Ainda não recebi nenhuma ligação efetiva, mas estamos aguardando. Tomara venha logo, muita gente está parando de plantar porque não tem para quem, ou como vender. Poucos estão segurando as pontas, viria numa ótima hora – pontua o agricultor.

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Texto de Eveline Poncio*