Brasileiros que foram deportados dos Estados Unidos depois da posse de Donald Trump como presidente relataram condições desumanas durante todo o processo de deportação, como agressividade dos agentes de imigração, problemas com o avião e medo de morrer na viagem de retorno ao Brasil. Eles chegaram algemados e com os pés amarrados.
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A primeira leva de deportados trouxe 158 pessoas e pousou primeiro em Manaus, na sexta-feira (24). Eles deveriam ser levados direto para Belo Horizonte (MG), mas problemas no avião fizeram com que o voo para Minas Gerais fosse cancelado. No sábado, um avião da FAB levou o grupo para o Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins, na Grande BH.
Sandra Pereira de Souza, de 36 anos, o marido Alisdete Gonçalves dos Santos, de 49, e os dois filhos pequenos estavam entre os passageiros. Sandra contou que viveu momentos tensos, desde o tratamento que receberam até a falta de estrutura do avião.
“Um inferno, uma tortura desde que saímos da Louisiana. Deu para perceber que o avião tinha algum problema. Acho que foi uma falta de compromisso deles com os seres humanos, a gente estava morrendo de medo de morrer”, afirmou a brasileira.
Segundo Sandra, eles saíram de casa acreditando que iriam para uma reunião com a imigração, mas não retornaram. Levando apenas os pertences que tinham em mãos, não tiveram tempo de pegar nem mesmo uma fralda para o filho. Apesar de terem imigrado ilegalmente, o casal disse que cumpria com todas as obrigações com a imigração, há três anos e meio, desde que chegaram. Eles construíram uma empresa nos Estados Unidos e a deixaram para trás, além da casa e o carro que tinham.
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Sandra e Alisdete, que nasceram em Itambacuri, na Região do Vale do Rio Doce, em Minas Gerais, disseram que não estava nos planos voltar ao Brasil, mas depois dessa experiência, querem somente reconstruir a vida no Brasil.
Algemas, agressões e ameaças
Entre os 158 passageiros, 88 são brasileiros, e vários foram algemados pelos agentes de imigração dos Estados Unidos. Entretanto, no voo de Manaus para Belo Horizonte, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, determinou a retirada das correntes e solicitou um voo da Força Aérea Brasileira (FAB) para que completassem a viagem com dignidade e segurança.
Em nota, a Polícia Federal confirmou que os 88 brasileiros que estavam a bordo da aeronave norte-americana com outros deportados dos Estados Unidos chegaram a Manaus algemados.
“Os brasileiros que chegaram algemados foram recebidos e imediatamente liberados das algemas pela Polícia Federal, na garantia da soberania brasileira em território nacional e dos protocolos de segurança em nosso país. A Polícia Federal proibiu que os brasileiros fossem novamente detidos pelas autoridades americanas.”
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“Os passageiros foram acolhidos e acomodados na área restrita do aeroporto. No local, receberam bebida, comida, colchões e foram disponibilizados banheiros com chuveiros”, detalha a nota.
“Foi terrível, vim preso nos braços, nas pernas e na cintura, eles não respeitaram a gente. Bateram em nós. Disseram que iam deixar derrubar o avião e que o nosso governo não era de nada”, contou o brasileiro Carlos Vinícius de Jesus, de 29 anos.
Natural de Vespasiano, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, Carlos tentou imigrar ilegalmente pelo México, em 2023. Ele foi pego durante a travessia e estava preso desde então. Ele teria gasto cerca de 30 mil dólares para imigrar, mas agora afirma estar aliviado de voltar ao próprio país.
Vários homens brasileiros que estavam no voo relataram que foram agredidos durante todo percurso, com empurrões, tapas, murros e que também foram agredidos com as próprias algemas. Segundo eles, apenas mulheres, crianças e os pais que estavam com crianças foram poupados.
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Primeiras deportações após decretos de Trump
Durante o trajeto dos Estados Unidos para o Brasil o avião parou no Panamá, por problemas técnicos. Apesar disso, a tripulação decidiu continuar a viagem sem trocar de aeronave.

“O avião estava em condições precárias, teve que viajar com o mecânico dentro do avião, eu nunca vi isso. O avião não queria funcionar”, contou Kaleb Barbosa, de 28 anos, que migrou para os Estados Unidos há seis anos para dar uma vida melhor aos filhos.
Ele retornou apenas com um saco com algumas roupas e objetos pessoais e contou que, nos últimos dias, durante a deportação, enfrentou momentos aos quais jamais pretende se submeter novamente.
“O momento mais difícil foi quando o ar-condicionado estragou no ar, as pessoas começaram a passar mal, alguns desmaiaram e as crianças estavam chorando. As turbinas estavam parando durante o voo, foi desesperador, coisa de filme mesmo”, disse.
Depois do pouso em Manaus, Kaleb contou que que as turbinas do avião chegaram a soltar fumaça enquanto tentavam continuar a viagem para Belo Horizonte. As saídas de emergência foram abertas e ele pediram socorro.
Kaleb afirma que se não fosse a intervenção do governo e a mudança para um avião da FAB, todos poderiam estar mortos.
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*Com informações do g1 e Agência Brasil
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