Ao invés de revólveres, as forças de segurança precisam se acostumar com novas armas para combater a ameaça mais urgente do momento. Para enfrentar o novo coronavírus, Polícia Militar, Bombeiros, Guardas Municipais e outras entidades lutam contra o “criminoso” com utensílios e abordagens diferente. Ao invés da algema, a máscara de segurança. Ao invés da perseguição, a orientação para que todos fiquem em casa.

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Em Santa Catarina, o dia a dia de quem trabalha com a segurança precisou ser realinhado após o decreto de emergência do Governo do Estado: novas condutas, novos protocolos de segurança, possibilidade de trabalho em casa para quem precisa ser protegido e inserção de máscaras e luvas. Para entidades como o Corpo de Bombeiros e a Guarda Municipal, este é o momento de valorizar a interferência educativa na vida das pessoas.

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De acordo com o comandante dos Bombeiros em SC, Coronel Charles Vieira, o trabalho educativo já faz parte da rotina da corporação. Mas, agora, deve ser ainda mais respeitado pelos catarinenses e servir de exemplo para outras situações. Ao elogiar a população de Santa Catarina, que tem respeitado o decreto, ele também comentou que o combate da epidemia deve entrar no histórico da entidade.

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– Tenho 30 anos na corporação, já passei por enchentes, furacão, situações bem diferentes. Esse é um evento diferente. Não vemos o perigo, por isso vamos aprender muito e saberemos ainda mais como agir lá na frente – disse sobre as consequências dessa rotina de orientação para o trabalho dos bombeiros de SC.

Quem também enxerga esse combate da pandemia com os olhos no futuro é comandante da Guarda Municipal de Florianópolis (GMF), Ivan Couto. Para ele, os guardas municipais poderão ser mais lembrados pela população através do seu caráter educativo e podem deixar de serem lembrados apenas como “fiscalizadores do trânsito”. E para que o diálogo ficasse sempre em primeiro plano neste período de enfrentamento do covid-19, até uma cartilha para os guardas foi divulgada pelo comandante. “Reforçar o diálogo” está entre as recomendações, além da orientação para a segurança de quem está trabalhando nas ruas.

"Nunca mais seremos os mesmos”, diz comandante da PM em Santa Catarina

A certeza de que os policiais e os catarinenses nunca mais serão os mesmos é presente na fala do comandante geral da Polícia Militar em Santa Catarina, Carlos Alberto Gomes Júnior. Policial há 35 anos, ele comenta que este é o momento de a polícia reforçar o papel de mediação de conflitos, atuando com foco na educação e orientação.

Como exemplo das ações que buscam frear o novo coronavírus, o comandante recorre aos dados para mostrar que há mais iniciativas de orientação do que de repressão por parte da PM. Até o dia 24 deste mês, foram 7.800 ocorrências para fechar estabelecimentos, 946 ocorrências gerais, 72 interdições, 768 notificações, 106 termos circunstanciados e apenas 7 prisões. De acordo com a polícia, as prisões são geralmente necessárias quando a abordagem de orientação recomendando o isolamento não basta e há desacato ou outro tipo de resistência.

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– Nesta crise estamos reforçando esta estratégia, de orientação, educação e mediação de conflito. Somos parceiros da comunidade e neste momento esta relação fica ainda mais clara – analisa o comandante, Carlos Alberto Júnior.

Policiais atuam para evitar aglomerações
Policiais atuam para evitar aglomerações (Foto: Diorgenes Pandini)

Instituições colocadas à prova

Como pesquisador de segurança e também como coronel da Polícia Militar, o professor Giovani de Paula comenta que este é o momento em que todas as forças de segurança são questionadas quanto ao seu papel de orientação. É o momento em que a sociedade pede para que os policiais e outros agentes vão além do controle social.

– As instituições se deparam com um contexto em que são postas à prova no sentido de reafirmarem seu papel preventivo, de proteção das pessoas, e educativo – analisou o especialista.

Ainda segundo o pesquisador, o enfrentamento à pandemia faz com que o “exercício da justiça” ganhe novas faces e que as polícias possam comprovar os seus atos através dos valores universais dos direitos humanos. É o momento, para Giovani, de as forças de segurança retomarem a credibilidade junto da sociedade.

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