No primeiro balanço do ano, a Comissão Nacional da Verdade (CNV) informou nesta segunda-feira que dezenas de agentes da repressão, ocorrida durante a ditadura militar, já estão identificados e serão convocados para depor, entre militares, policiais e civis.

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Entre estes estariam também empresários que financiavam a repressão, cediam imóveis para torturas ou até participavam de ações.

Até agora, a comissão tomou 40 depoimentos, entre vítimas e acusados de autoria de crimes. Cerca de 50 mil pessoas, segundo a comissão, teriam sofrido algum tipo de abuso durante a ditadura (1964-1985).

Entre os próximos convocados a depor estão os supostos autores do assassinato do ex-deputado Rubens Paiva, desaparecido em janeiro de 1971: três militares do Exército, segundo relatório do ex-coordenador da comissão, Cláudio Fonteles.

O atual coordenador da comissão, Paulo Sérgio Pinheiro, não quis confirmar que os três sejam de fato suspeitos do crime e, em tom duro, criticou o “exibicionismo” e “busca de notoriedade” de membros da comissão:

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– Fique bem claro que não estamos participando de nenhum campeonato de protagonismo, nem queremos ter o monopólio da luta pela verdade.

Ele disse que sua crítica era genérica e não se referia especificamente ao trabalho de Fonteles, ausente da reunião. Mas censurou iniciativas de conselheiros que, como ele, dão entrevistas para antecipar conclusão de investigações:

– Não dá para sermos como aquele que abre a porta da geladeira, vê luz e começa logo a dar entrevista. Muitas vezes o açodamento em divulgar um documento, um depoimento, uma suspeita, põe por terra o trabalho cuidadoso de investigação, de coleta de indícios e identificação de depoentes.

Durante a reunião, foi feita explanação sobre as comissões temáticas da CNV, como a de mulheres vítimas da repressão, a metodologia de trabalho e a convocação dos próximos depoentes. A ideia é fechar o relatório parcial, com todos os depoimentos tomados, em dezembro deste ano. Até lá, 30 milhões de páginas documentos também serão analisados. A comissão se extingue em 16 de maio de 2014, quando será entregue o relatório final à presidente Dilma Rousseff.

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Lupa no passado

A Comissão da Verdade foi instalada em maio de 2012 pela presidente Dilma Rousseff para esclarecer

as graves violações de direitos humanos (casos de tortura, desaparecimentos e mortes) ocorridas durante a ditadura militar (1964-1985) e para apontar os responsáveis por esses atos.

O PRAZO

O grupo tem dois anos para trabalhar, ouvindo depoimentos e analisando documentos que ajudem a esclarecer os crimes. Ao final do prazo, apresentará um relatório sobre as investigações, mas, em razão da Lei da Anistia, não poderá propor punições aos envolvidos.

OS INTEGRANTES

A comissão tem sete integrantes: Claudio Fonteles (ex-procurador-geral de Justiça), Gilson Dipp (ministro do Superior Tribunal de Justiça), José Carlos Dias (ex-ministro da Justiça), José Paulo Cavalcanti Filho (ex-secretário-geral do Ministério da Justiça), Maria Rita Kehl (psicanalista e escritora), Paulo Sérgio Pinheiro (ex-ministro de Direitos Humanos) e Rosa Maria Cardoso da Cunha (advogada e ex-defensora de presos políticos).