Eram cerca de 19h de segunda-feira quando Michaeli Gonçalves dos Santos, de dois anos, estava de roupinha para jantar. A vontade dela, porém, era continuar na piscina, onde passou a maior parte do dia. Os avós não deixaram. Por volta das 20h, a criança não estava mais por perto. Foi encontrada boiando desacordada na piscina. Este foi o segundo afogamento deste tipo registrado em pouco mais de 24 horas em Florianópolis.
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Michaeli, que morava no Bairro Rio Vermelho, Norte da Ilha, chegou a ser levada à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da região. Os esforços para tentar reanimá-la não adiantaram. Ela morreu.
O outro acidente foi no último domingo. Saía muita água da bebê de um ano e um mês, enquanto os socorristas tentavam reanimá-la. A lembrança é do bombeiro João Batista Cordeiro Jr., que estava presente quando a criança chegou ao aeroporto, levada pelo tio.
Ele relembra que a menina estava sem batimento cardíaco e a equipe ficou cerca de 40 minutos tentando trazer o coração de volta à vida. Não adiantou. De acordo com relato do tio, ela estava com os pais, que almoçavam na casa dos vizinho, no Bairro Carianos, Sul da Ilha. Depois de sentirem falta da filha, eles a encontraram desacordada na piscina.
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Segunda causa de morte
O afogamento é a segunda causa de mortes por acidente entre crianças a adolescentes de até 14 anos no Brasil. A primeira é acidente de trânsito. O levantamento é da ONG Criança Segura e foi feito com base nos números de mortalidade de 2009 do Ministério da Saúde.
Naquele ano, foram 1.376 mortes por afogamento. Dos óbitos, 45% ocorreram em águas naturais. A piscina representa o segundo principal perigo. Foi responsável por 7% das mortes.
Prevenção sempre presente
A coordenadora de mobilização da ONG, Lia Gonsales, ressalta que as crianças sempre estão expostas aos acidentes. Uma lâmina de 2,5 centímetros de água já é o suficiente para elas se afogarem. Por isso, é preciso cuidado até mesmo com baldes, que devem ficar vazios e virados para baixo e com o vaso sanitário, que precisa estar sempre fechado. O importante é prevenir.
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– O afogamento é um acidente silencioso e muitas vezes fatal. A ONG trabalha com três eixos: o da informação, que é conhecer os perigos; o da modificação do ambiente, que seria arrumá-lo com segurança; e modificação do pensamento, que é ter sempre o olhar preventivo – ressalta Lia.
Nos dois casos registrados na Capital, será aberta investigação policial, para apurar as circunstâncias da morte. Ainda que os responsáveis sejam indiciados por negligência, o advogado Diogo Machado Ulisses explica que o juiz pode dar o perdão judicial.
– Ele está previsto no código penal para aqueles casos onde a situação já é a pena em si, onde não há penalidade maior do que o ocorrido. Neste caso, a perda do filho.
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Piscina cercada
Na casa de Rachel Nicolazzi Carvalho, a piscina só foi instalada com uma grade, fechada à chave. O espaço para se refrescar foi um pedido dos netos que, na época, tinham oito, dez anos. A avó foi resistente para começar a obra.
– Uma pessoa amiga perdeu o filho afogado na piscina e a gente sempre ouviu falar disso. Mas eu já tinha adiado antes e eles estavam querendo muito – conta.
Para evitar qualquer acidente, a piscina foi cercada por uma grade, há oito anos. O alvo principal dos cuidados é a neta mais nova, Laura, que hoje está com sete anos. Mas, na casa vive cheia de netos e amigos dos netos, mesmo quem sabe nadar não escapa aos olhares atentos de Rachel. Em dias de aproveitar a água, as crianças ficam sempre com coletes flutuantes e com a vigilância da dona da casa, que fica na beirada da piscina. Quando ninguém vai tomar banho, além da grade, fica fechada uma porta que dá acesso à área de lazer. Nem assim Rachel fica tranquila.
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– Tenho medo de eles terem um mal-estar, caírem sem querer. Criança está sempre surpreendendo – ressalta a notária.
A avó ainda fica com medo dos pequenos se esquecerem que estão sem os coletes e acharem que vão flutuar, caso se joguem na piscina. Por isso, para ela, todo cuidado é pouco.
Os netos maiores, que têm entre 16 e 20 anos, já se acostumaram com as preocupações contínuas da avó.
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– Os cuidados aconteciam desde quando eles eram pequenos para a piscina. Hoje, a piscina que é pequena para eles – brinca Rachel.
Colaborou: Gabrielle Bittelbrun