“Na fronteira greco-macedônia, soubemos que os afegãos não poderiam passar, só os sírios. É uma grande discriminação, a política europeia não é justa”, queixou-se Jamshid Azizi, que trabalhou como tradutor para o exército americano em Cabul.

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“Tentamos cruzar, éramos uns trinta, os policiais macedônios nos detiveram, nos agrediram (…) e depois nos enfiaram em um caminhão. Disseram que nos deixariam na fronteira sérvio-macedônia”, em direção ao norte da Europa, “mas assim que chegamos, compreendemos que estávamos de novo na fronteira greco-macedônia”, contou.

Jamshid faz parte dos milhares de afegãos que tiveram negada a entrada domingo na Macedônia, um país que decidiu reforçar seus controles na fronteira com a Grécia.

As autoridades gregas os levaram a 20 km de Atenas, 500 km mais ao sul, ao novo centro de Schisto.

A mudança se deve a que Macedônia, Sérvia, Eslovênia, Croácia e Áustria acordaram aceitar migrantes com passaporte, do qual carece a maioria dos afegãos. Os sírios e os iraquianos continuam capazes de entrar porque têm documentos.

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“Nem mesmo revisaram nossos documentos, nos perguntaram nossa nacionalidade e quando respondemos que éramos afegãos, proibiram nossa entrada”, explicou Mohamad Sareer, um engenheiro de 22 anos de Cabul, que aparece ao lado de Jamshid entre os 1.300 afegãos do centro de Schisto.

“Meu problema é a segurança, tenho dinheiro, mas quero viver em segurança”, explica Mohamad.

O centro de Schisto, um antigo quartel militar restaurado, “tem atualmente capacidade para 1.500 pessoas e no futuro poderia receber até 4.000, se necessário”, reforça o coronel Michalis Klouvas, responsável por sua construção.

Klouvas espera que “o problema nas fronteiras se resolva rapidamente para que as pessoas não tenham que ficar por muito tempo”.

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Ponto zero

Centenas de famílias vivem em dezenas de barracas de camping. As crianças, sentadas no chão, brincam com pedras. Um grupo de adolescentes joga vôlei e os homens caminham de um lado para o outro, sem ter o que fazer.

As mulheres, cobertas com véus, ficam sentadas com o olhar perdido sobre colchões infláveis. Estão acompanhadas de suas filhas.

“Um terço das 1.300 pessoas deste acampamento é de crianças”, diz o coronel Michel Klouvas.

Na entrada, tremulam a bandeira grega, a europeia e a do Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur). Mais ao longe, um prédio restaurado faz as vezes de “centro de administração” e de “primeiros socorros”. Mulheres, com crianças nos braços, fazem fila para ir ao médico, para pedir uma garrafa d’água ou papel higiênico.

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Atrás, se alinham outros edifícios: o de oração, o restaurante, a casa para crianças não acompanhadas. Um migrante limpa o chão em um dormitório com 20 pessoas. Do lado de fora, uma mulher ajuda um inválido, sentado, cabisbaixo, em uma cadeira de rodas.

Karim Mandi, com o filho Emran, de 5 anos, nos braços, lamenta a falta de medicamentos. “Meu filho não consegue andar, o médico nos disse que esperássemos porque não há medicamentos”, disse. Sua mãe, octogenária, está caída em uma tenda.

“Aqui estamos no ponto zero, não sabemos o que vai acontecer amanhã”, diz Mohamad, desesperado.

Jashmid o interrompe. “Na Síria há uma guerra há cinco anos; no Afeganistão, há mais de três décadas. Na Síria está o EI, mas também há um Estado Islâmico no Afeganistão. A que se deve esta diferença entre afegãos e sírios?”

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* AFP