Em resposta à carta divulgada por Marina Silva (PSB), na qual diz que só manifestará apoio formal a Aécio Neves (PSDB) se ele se comprometer com algumas de suas bandeiras, o candidato tucano à Presidência indicou que não abrirá mão da proposta de redução da maioridade penal em casos de crimes graves. O tucano afirmou que uma aliança deve ser feita tendo como base “o essencial”.

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– O caso não é de abrir mão de propostas. É de aprimorarmos. Se formos reconstruir o projeto desde o início, não estamos fazendo uma aliança. Aliança tem que acontecer em torno do essencial. O essencial hoje é a mudança. E eu, pela vontade de grande parte dos brasileiros, tenho a responsabilidade de conduzir essa mudança – disse Aécio, em coletiva de imprensa no fim da tarde desta quinta-feira, no Rio.

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Sobre a defesa da redução da maioridade penal, o candidato disse que a alteração atingiria apenas 1% das infrações cometidas por jovens entre 16 e 18 anos. Contudo, afirmou ver mais convergências do que divergências entre seu plano de governo e o de Marina:

– Nosso programa tem muita inserção social, educação e sustentabilidade. Mas, quando se busca um apoio, isso não pode nos levar a abdicar daquilo que acreditamos que seja essencial para o país.

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Aécio comparou a expectativa de apoio de Marina ao contexto político que culminou com a eleição de seu avô, Tancredo Neves, à Presidência em 1985 – ele morreu antes de tomar posse.

– As mudanças não são uniformes. As pessoas que esperam mudanças se distinguem em determinados aspectos ou temas. Mas a união no segundo turno é para um objetivo maior. Na articulação em torno de Tancredo Neves, havia desde partidos comunistas à frente liberal, considerados por alguns de direita conservadora. Fizeram isso porque Tancredo representava a possibilidade de reencontrarmos a democracia no Brasil. Uma aliança no segundo turno é para um governo eficiente e ético – afirmou.

O tucano ressaltou já ter obtido o apoio de partidos adversários no primeiro turno, como o PSC, PV e o PSB – sigla pela qual Marina se candidatou. Aécio disse que está em contato com o deputado e senador eleito Romário (PSB) e que não vê problemas em incorporar propostas do ex-jogador. E agradeceu ainda o apoio do candidato ao governo do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori (PMDB).

– Não sou mais o candidato do PSDB, mas das forças da mudança, que quer acabar com esse ciclo perverso de governo e colocar outro que faça o Brasil crescer e avançar nos seus indicadores sociais – disse Aécio.

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Ele criticou declarações da presidente Dilma Rousseff (PT) de que o PSDB não foca suas políticas públicas nos mais pobres.

– De que adianta termos uma política de aumento real do salário mínimo se o país parou de crescer? Em 2016, sabe qual será o ganho real do salário mínimo? O crescimento deste ano, praticamente nulo.

Propostas serão levadas nesta sexta ao tucano

Marina Silva decidiu adiar o anúncio de apoio a Aécio Neves. Em lugar do pronunciamento que faria nesta quinta, em Brasília, a ex-candidata apresentou uma carta endereçada aos partidos que compuseram a sua base. Ela afirma que sua adesão dependerá da resposta que o tucano der às sugestões apresentadas por seu grupo político. A coligação de Marina deve encaminhar um conjunto de propostas a Aécio sexta pela manhã.

Em duas páginas, ela pediu que, neste segundo turno, as siglas se recusem a participar da “guerra suja da destruição” e não abram mão do debate de “alto nível”. A carta foi lida ontem, na reunião dos partidos coligados, em Brasília, da qual Marina não participou. Apenas o PPL não se pronunciou sobre o apoio ao tucano. PSB, PPS, PRP, PHS, PSL sinalizaram a preferência por Aécio.

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O porta-voz da futura sigla Rede Sustentabilidade, deputado Walter Feldman, disse que não há negociação com Aécio ainda e que não haverá discussão de pontos programáticos e sim de propostas:

– Esperamos que o Aécio assuma a ideia da nova política.

O coordenador de mobilização da campanha de Marina, Pedro Ivo Batista, informou que a Rede considera fundamental a revisão da defesa da redução maioridade penal, o desengavetamento da política de demarcação de terras indígenas e o estabelecimento de metas para reforma agrária.

A Rede recomendou em sua nota que os eleitores não votem em Dilma Rousseff (PT) e optem pelo voto branco, nulo ou em Aécio Neves. O manifesto lamenta que a “polarização entre PT e PSDB” tenha mais uma vez prevalecido, “dificultando a escolha de uma alternativa real de mudança”.