Tinha tudo para ser uma segunda-feira comum na vida do advogado Marco Antonio André, morador de Blumenau. Mas logo pela manhã ele se deparou com um cartaz colado na porta de casa e outro em um poste da rua onde mora, no bairro Ponta Aguda. Os cartazes, com símbolos de um grupo supremacista americano, faziam uma ameaça por ele ser negro e praticante do candomblé.
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— Um amigo meu foi o primeiro a ver, passando pela rua da minha casa, e me mandou mensagem mostrando. Depois o pai de um cliente da minha esposa, que é psicopedagoga, a alertou que o mesmo cartaz estava colado na nossa casa. Sou negro, praticante do candomblé e da umbanda e sempre milito a favor da diversidade. Foi assustador ser vítima de tanto ódio— explica o advogado.
Diante da situação, Marco Antonio publicou um desabafo nas redes sociais, que viralizou na segunda-feira e nesta terça-feira pela manhã já contava com mais de 1,4 mil compartilhamentos.
— Estamos preocupados pelo ataque e pela repercussão que o caso teve. Recebi ligações de apoio, tenho parentes que moram na Europa com medo da gente aqui, fora as muitas mensagens de indignação pelo fato e vou tomar todas as providências legais cabíveis. Sei, como advogado, que este cartaz configura três crimes: racismo, crime de ódio e ameaça. — diz Marco Antônio.
Procurado pela reportagem, o delegado Egídio Ferrari, da DIC de Blumenau, contou que é amigo de Marco Antônio e que falou com ele sobre o caso na segunda-feira. Ele foi orientado a registrar ocorrência — atitude que o profissional deve tomar ainda nesta terça-feira. Assim que o B.O. for registrado, a Polícia Civil deve começar a investigar o caso.
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Em nota, a diretoria da OAB em Santa Catarina diz que “aqui há reflexos da verdadeira marcha da insensatez que vemos em outras partes com o surgimento de movimentos xenófobos e extremistas, as seguidas manifestações de intolerância, os casos de violência, racismo, sexismo e perseguição de minorias. Também aqui esses são movimentos inaceitáveis, que não podem ser admitidos ou vistos como algo “menor”, mas exigem o enfrentamento corajoso”.
Eles definem que a colocação dos cartazes foi um “ato bárbaro, covarde, praticado às escondidas por indivíduos que não ousam mostrar a cara, por certo cientes do caráter abominável do que fazem. Atos, além disso, que de forma alguma refletem o espírito da maioria da população”.
A nota diz ainda que “é inadmissível que num espaço público pessoas continuem sendo desrespeitadas e tendo sua dignidade ofendida. A OAB se une às inúmeras manifestações de repúdio e pede que os órgãos competentes investiguem os fatos a fim de que sejam punidos exemplarmente os autores”
Para Marco Antônio, além de descobrir quem são os autores da mensagem, o caso deveria servir como exemplo para que situações como esta não se repitam em Blumenau. Ele diz que foi aconselhado inclusive a não desfilar na Oktoberfest para evitar provocações, mas que não vê motivos em se esconder.
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— Eu ficaria muito mais feliz se isso tudo servisse como um alerta. Ninguém é mais do que ninguém. Há desigualdades e eu vivo isso por ser negro, mas nem por isso a gente precisa parar de viver em sociedade. A gente tem que ser maior do que isso e eu realmente espero que quem quer que tenha feito isso não tenha a dimensão do que isso pode ser. Ou que se tem a dimensão, ela entenda que está completamente fora do contexto dos nossos dias atuais.