Uma advogada que trabalha em Tubarão, Sul do Estado, apontada como mensageira de presos e criminosos nas ruas, está entre as nove pessoas acusadas pelo assassinato da agente penitenciária Deise Alves, em São José, na Grande Florianópolis, há três meses.
Continua depois da publicidade
Fernanda Fleck Freitas, 28 anos, aparece em uma lista divulgada na tarde de quarta-feira pelo Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), em que constam os denunciados à Justiça por homicídio e formação de quadrilha.
O promotor Geovani Tramontin afirma que, no dia 26 de outubro, ela visitou os líderes da facção criminosa Primeiro Grupo Catarinense (PGC), na Penitenciária de São Pedro de Alcântara, e levou para criminosos que estavam nas ruas a ordem para matar o então diretor da cadeia, Carlos Alves.
Deise, que era mulher dele, acabou sendo morta por engano em seu lugar com um tiro, quando chegava na casa de familiares dentro do carro do marido.
Continua depois da publicidade
A denúncia é assinada por quatro promotores da área criminal de São José, com base no que apuraram policiais da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic).
De acordo com o MPSC, a advogada, valendo de sua inscrição na OAB, tinha livre acesso à penitenciária e teria contribuído para o crime ao transmitir a ordem dos mandantes aos executores.
A sua suposta participação no crime não constava na relação de indiciados divulgada pela Deic, na semana passada.
Continua depois da publicidade
A Polícia Civil afirma que isso ocorreu em razão do sigilo da investigação que se refere a advogada.
O pedido de sua prisão preventiva foi negado pela Justiça e Fernanda está em liberdade.
O DC tentou contatá-la ontem por telefone, mas ela não atendeu as ligações feitas para o seu celular nem deu retorno. No escritório de advocacia, em Tubarão, ninguém atendeu os telefonemas.
Foram denunciados como mandantes Evandro Sérgio Silva, o Nego Evandro, Rudinei Ribeiro do Prado, o Derru, Adílio Ferreira, o Cartucho, e Gian Carlos Kazmirski, cujo nome também não constava na lista da Deic. Outros cinco presos listados pela Deic como mandantes não foram denunciados.
Os executores, conforme o MPSC, foram Rafael de Brito, o Shrek, único foragido, Oldemar da Silva, Fabrício da Rosa e Marciano Carvalho dos Santos, este teria atirado em Deise, segundo a polícia.
Continua depois da publicidade
A denúncia está na 1ª Vara Criminal de São José. Ainda não há decisão do juiz. O magistrado poderá aceitá-la ou não. Em caso positivo, os denunciados transformam-se em réus e serão processados pela morte, devendo ir a júri popular.
ENTREVISTA: Geovani Tramontin, Promotor de Justiça.
No dia da morte de Deise Alves, a advogada visitou os mandantes na cadeia, revelou o promotor Geovani Tramontin em entrevista por telefone na tarde de quarta-feira.
Diário Catarinense – Qual é a participação da advogada Fernanda Fleck Freitas?
Geovani Tramontin – Ela seria a pessoa que no dia do crime teria conversado com os quatro chefes do primeiro ministério (da facção PGC) e teria saído com a encomenda da missão.
Continua depois da publicidade
DC – Então ela esteve na penitenciária de São Pedro de Alcântara?
Tramontin – No dia do homicídio da Deise. Ela não é advogada de nenhum deles.
DC – Ela teria repassado a ordem do assassinato para os executores?
Tramontin – Essa foi a conclusão que nós chegamos.
DC – Vocês têm indícios ou provas disso?
Tramontin – São os indicativos de que ela fazia, porque o PGC, a facção, tem que ter um contato fora. Porque uma missão dessa natureza, como a de queimar ônibus, como eles fizeram aqui, eles precisam ter gente que faça a comunicação. Ela seria a pessoa encarregada disso. Porque ela não era advogada deles, não tem nenhuma procuração deles, então fazia esse contato. Inclusive, ela visitou outros membros do PGC em outras penitenciárias. Fazia essa intermediação de comunicação entre a facção e as pessoas fora também.
DC – Qual o motivo do envolvimento dela com esses criminosos?
Tramontin – Na verdade ela deu um álibi de que teria sido contratada por uma pessoa. Essa pessoa negou que teria contratado ela para fazer contatos. Na verdade, ela alega que foi contratada por um familiar para atendê-los, mas essa família nega.
DC – Ela está denunciada também pelo homicídio?
Tramontin – Sim. Por ser interlocutora de uma missão, ela foi determinante para o resultado.