Ofendida profissionalmente e pessoalmente. Este foi o sentimento da advogada de Santa Catarina, Malu Borges Nunes, repreendida por um desembargador por estar com a filha durante uma audiência do Tribunal de Justiça do Amazonas (TJ-AM). Ela conta que chorou por conta da atitude, principalmente por ter tido a ética profissional questionada pelo colega. Em nota, o magistrado envolvido alegou que o pedido foi feito como forma “de respeito aos colegas”. As informações são do g1 SC.

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— Eu me senti primeiro ofendida como mulher, como mãe, como advogada também. Ele questionou a minha ética profissional em relação eu estar com ela no colo, ou amamentando, ou de estar no home-office e ela estar perto de mim. Eu fiquei muito mal, chorei bastante depois. Eu me viro aqui nos 30 para dar conta de tudo que eu tenho que fazer. Bebê, casa, trabalho — contou Malu em entrevista ao Bom Dia Brasil nesta quarta-feira (24). 

A advogada contou, ainda, que pediu para ser ouvida primeiro durante a audiência da 2º Câmara Cível do TJ, por estar amamentando. Mas ela teve a solicitação negada. 

O caso ocorreu na segunda-feira (22) durante uma audiência da 2º Câmara Cível do TJ. Na sessão, o desembargador Elci Simões repreendeu a advogada, por alegar que a filha dela, que estava no colo, atrapalhava os colegas. 

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— Eu queria pedir para a advogada Malu…que quebra o silêncio das sessões do tribunal, interferências outras na sala que a senhora está. Isto prejudica os colegas. Não deixe que outras interferências, barulhos venham atrapalhar a nossa função, porque uma sessão do tribunal não pode ter cachorro latindo e criança chorando. Se a senhora tiver alguma criança, coloque no modo adequado para não atrapalhar a realização. São barulhos que nos atrapalham, tira a concentração e eu acho que isso, é preciso ver a ética da advogada — alegou durante a audiência. 

Veja o vídeo da audiência: 

Entidades se manifestam 

Diversas entidades se manifestaram contrárias a atitude do desembargador. A Ordem dos Advogados de Santa Catarina (OAB/SC) se mostrou solidária a advogada e alegou a importância de manter o respeito dos direitos das mulheres.

Já a Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas (Abracrim) salientou a falta de sensibilidade do desembargador durante a audiência ao repreender Malu pelo choro da criança. 

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Em nota, o desembargador Elci Simões alegou que pediu “educadamente” para que a magistrada evitasse barulhos durante a sessão, em respeito aos demais colegas: 

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“Em atenção a notícia ora colocada, foi realizada a devida ponderação sobre o cabimento da preferência pleiteada pela nobre advogada. Nesse ponto, em decisão colegiada, entendeu-se por indeferir o pleito, não se considerando que houvesse necessidade de priorização na pauta, ainda mais pelo fato de que a nobre causídica encontrava-se no regime de home office. Recomendou-se educadamente e com todo o cuidado evitar barulhos durante a sessão, ainda mais em respeito a presença de outros advogados em audiência pública complexa e extensa”, diz. 

O episódio ocorreu na mesma semana em que a cena de um advogado catarinense com o filho no colo em uma sessão do Superior Tribunal de Justiça (19) chamou atenção. Como precisava trabalhar, o homem levou a criança na sessão afim de cuidar do pequeno. 

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