“Na Rússia não tem salada russa/na Grécia não tem arroz à grega/Milão não tem bife à milanesa/na França ninguém sai à francesa”. Ensinamentos de Adriana Partimpim. Quando não mais se esperava, ela apronta outra das suas, três anos depois da segunda travessura e oito da sua aparição na música infantil brasileira, a qual fez crescer, lhe adicionando graça e densidade.

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Presente óbvio para o Dia das Crianças, o CD, gravado em uma semana, se chama Partimpim Tlês e tem duas boas novas de sua irmã mais velha, Adriana Calcanhotto: a espertinha Salada Russa da abertura, parceria com Paula Toller, e a delicada Também Vocês, com João Callado.

Esta segunda é uma das canções de ninar do CD, que recupera o Acalanto de Caymmi para Nana e que conta com a participação de Alice, a neta de Dorival, em início de carreira. Do baiano tem também Tia Nastácia, composta para o Sítio do Pica-pau Amarelo.

– A primeira ideia era que fosse um disco de canções de ninar. A semente é essa – conta Adriana, que segue inventando com a trupe formada por Alberto Continentino, Domenico Lancellotti, Berna Ceppas e companhia, cada um criando seus arranjos, e o coro de crianças amigas.

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Como nos dois CDs anteriores, ela apresenta às crianças músicas “adultas” que poderiam ter sido compostas para elas. Se os primeiros traziam o funk-balada Fico Assim Sem Você, a marchinha Lig-Lig-Lig-Lé, a Ciranda da Bailarina, de Chico Buarque, e o Trenzinho do Caipira, Tlês vem com O Pato, feito um clássico da bossa nova por João Gilberto, e o sem-número de passarinhos de Passaredo, outro Chico.

Os pais vão precisar do dicionário para explicar o que são “tordo, tujo, tuim”. Jabuti, teiú bem-te-vi, águia, sapo – são muitos bichos também em Criança Crionça (Cid e Augusto de Campos) e em Lindo Lago do Amor, de Gonzaguinha, o que dá ao CD uma atmosfera de fábula. Mas aqui não há lições de moral.

Há delicadeza, gatilhos para a imaginação, barulhinhos sintetizados ou orgânicos que merecem ser ouvidos em surround: desentupidor de pia emulando o canto de uma baleia em Por que os Peixes Falam Francês? (Continentino/Domenico), o chamado piston cretino fazendo o “quen quen quen quen” do Pato, os pássaros disfarçados de flauta em Passaredo.

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O tê-tê-tê-rê-tê de Taj Mahal (Jorge Ben Jor) virou dê-dê-dê-dê-rê-dê; De Onde Vem o Baião (Gilberto Gil) sampleia a voz de Gonzagão. São duas faixas festivas colorindo tons menores. Não que Partimpim tenha amadurecido e ficado circunspecta. Ela encolheu, como sinaliza a capa.

– O processo de encolhimento veio como reação do Dois. Eu estava maior, de algum jeito. No Tlês, por causa das canções, eu dei uma encolhida geral – diz Adriana.