A voz embargada ao atender o telefone revela a tristeza pelo momento. Depois de participar de seis Paraolimpíadas seguidas, o golpe de não ser convocada para ir a Londres-2012 mexeu com os sentimentos de Ádria Santos, uma das mais vencedoras atletas do País em atividade, e levou a campeã aos prantos. Educadamente, a mineira que escolheu Joinville para viver disse que gostaria de alguns dias antes de falar sobre o assunto que machuca seu coração. O silêncio se rompeu há três dias, com a convicção de que sua força de vontade fará com que dê a volta por cima.
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A convocação da delegação paraolímpica brasileira para Londres saiu no dia 20. A atleta, que mora e trabalha em Joinville, disputava com outras três mulheres três vagas. O índice para a prova dos 200 metros ela atingiu, mas o tempo não foi o suficiente para superar as adversárias.
– É um sonho que infelizmente não consigo realizar: o de chegar à sétima Olimpíada consecutiva -, lamenta. Mas para quem imagina que o ciclo vitorioso de Ádria está perto do fim aos 38 anos, ela faz questão de garantir que vai continuar no esporte.
– Gosto do que faço. Tenho paixão pelo atletismo -, completa.
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Por enquanto, Ádria continua treinando, mas sem um objetivo definido. Vivendo um dia após o outro e mais conformada com a não classificação, ela procura novo rumo. A vontade para se superar e conseguir disputar as Olimpíadas no Brasil, em 2016, é grande. Para não perder a motivação, ela se agarra a uma frase repetida por Amauri Veríssimo, seu treinador.
– É melhor a dor de não ter conseguido do que a dor de não ter tentado -, diz.
Lesão atrapalha
Uma lesão mal diagnosticada no início do ano minou as chances de Ádria conseguir a vaga para as Paraolimpíadas de Londres. Em um dos treinamentos na pista da Univille, pisou em um buraco e machucou o joelho.
A princípio, tratava-se de uma torção, mas como as dores persistiram após o tratamento, ela foi buscar a opinião de um segundo médico, que deu o mesmo veredito. Quando não conseguia mais treinar, foi a vez de visitar um especialista, que constatou uma ruptura parcial do menisco.
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Ádria passou por uma artroscopia e se recuperou, mas os dias perdidos de treinamento atrapalharam seu planejamento.
Mesmo assim, voltou às pistas e chegou perto. Em menos de um mês, diminuiu o seu tempo nos 200 metros de 30s12 para 28s90. Não foi suficiente.
Menos vagas
Em 2008, em Pequim, a delegação brasileira nas Paraolimpíadas era composta por 48 atletas. Para esta edição dos jogos, o número diminuiu para 35. As vagas para o feminino passaram de 17 para 11. A diminuição é em proporção ao número de medalhas conquistadas nas Olimpíadas e nos jogos Pan-americanos.
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Doença
Ádria Santos tem retinose pigmentar, uma doença degenerativa que leva a pessoa à cegueira. Por causa de sua condição, ela compete na classe T11, que é reservada para os atletas com cegueira total.
Tocha
Ádria não irá participar das Paraolimpíadas da forma como queria, mas sua presença em Londres é garantida. Ela será uma das três brasileiras a fazer parte do revezamento da tocha olímpica e vai conduzir o símbolo olímpico pelas ruas da capital inglesa. Na cerimônia de encerramento, ela também participará do evento que marcará o início do ciclo dos jogos no Rio, em 2016.
Joinville
A maior cidade catarinense entrou na vida de Ádria dos Santos em 2003, quando a já multicampeã se mudou do Rio de Janeiro em busca de tranquilidade e segurança. Em 2007, entrou para o quadro de funcionários da Tupy, que a apoia e investe em suas viagens. Na empresa, ela atua como agente motivacional, dando palestras quando convidada.
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