Adolescentes aprendem a história com idosos de lar no Ribeirão da Ilha

Com olhar atento nas expressões, sensibilidade para ouvir as histórias e paciência para repetir a mesma pergunta várias vezes, os estudante do 9º ano da Escola Batista Pereira, no Ribeirão da Ilha, em Florianópolis, tiveram aulas de história um pouco diferentes na última semana.

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Os adolescentes deixaram a sala de aula e caminharam algumas quadras até o Lar de Idosos São Francisco, também no Ribeirão, para aprender sobre a Ditadura Militar com aqueles que vivenciaram o período. Porém, mais do que história do Brasil, os alunos aprenderam valiosas lições de vida com os mais experientes.

Na primeira visita, no dia 12 de novembro, os estudantes foram até o asilo para conhecer os idosos e quebrar o gelo, e juntos assistiram a um filme sobre a Novembrada – grande manifestação que ocorreu no Centro de Florianópolis em 1979 contra a Ditadura. No dia seguinte, voltaram até o lar, desta vez para realizar uma série de entrevistas em vídeo com os idosos.

A estudante Yasmine Bueno, 15, conta que gostou muito da experiência:

– Eu convivo bastante com minha bisavó, mas aqui foi uma experiência diferente. Asilo geralmente remetia a uma coisa ruim, mas vi que muitos são felizes vivendo aqui. Eles gostam de conversar, alguns não se sentiram bem falando da época da Ditadura, disseram que não gostam de lembrar, mas contaram outras histórias – disse.

Para o aluno Lucas Édmo, 15, o aprendizado foi diferente:

– Achei muito legal, a gente aprendeu muito mais assim. Nunca tinha visitado o Lar São Francisco, foi bom ouvir os idosos falando de coisas que viveram, bem diferente do que passamos hoje.

Além de ouvirem os idosos, os alunos entrevistaram uns aos outros para saber os que acharam da experiência, e aprenderam um pouco sobre cinema com a equipe da produtora Filmes Que Voam, que registrou o contato para um documentário.

O professor de história Bruno Ziliotto foi parceiro da iniciativa, que acredita ser de grande aprendizado:

– Já tínhamos a ideia de vir no lar, que é muito perto da escola, e juntou o convite do projeto com o conteúdo que estávamos trabalhando. Esta interação é muito boa, para os alunos e para os idosos.

Idosos gostaram da visita

Para os moradores do lar, a visita dos jovens foi um passatempo. Mesmo com os ouvidos um pouco ruins, e a memória que às vezes insiste em falhar, muitos toparam participar das entrevistas. A residente Leia Ramos, de 84 anos, revelou brilho nos olhos ao contar de sua juventude no Rio de Janeiro:

– Eu brindei os grandes carnavais do Rio de Janeiro, me casei, fui muito feliz. Achei muito bom conversar com os jovens, contar um pouco da minha vida, e falei para eles aproveitarem bastante, com responsabilidade – conta.

Mesmo gostando de conversar, a moradora Ana Maria Silveira, 85, ficou um pouco envergonhada na frente das câmeras, mas logo se soltou e contou histórias para os alunos:

– A juventude é ótima. Gostei bastante que vieram aqui, alegra o nosso dia.

Para a Irmã Esther, orientadora espiritual do Lar São Francisco, a iniciativa foi excelente:

– Os idosos adoram quando vem gente de fora, traz uma alegria diferente. Esta ideia foi muito boa – disse.

Documentário vai ser lançado em 2016

O resultado desta interação entre gerações vai virar documentário em 2016, dirigido por Chico Faganello, da produtora Filmes que Voam. O diretor conta que conta que viu trabalhos semelhantes em outros países, com um valor pedagógico inestimável, e a escola de Educação Básica Batista Pereira aceitou o convite para participar do projeto em Florianópolis.

– Ainda vamos voltar algumas vezes, e em 2016 vamos lançar o documentário “Entre Gerações” na internet e festivais – finalizou.