A adoção de uma criança após os oito anos, como foi o caso de Lucas, que reencontrou o irmão mais velho por acaso, praticando atletismo, ainda é um dos principais desafios no Estado, afirma o juiz Rodrigo Tavares Martins, da Corregedoria do Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Isso porque há um abismo entre o perfil desejado pelos pretendentes e as crianças e adolescentes em abrigos. Ele estima que cerca de 350 adolescentes estão disponíveis para adoção imediata no Estado, mas 80% das famílias que aguardam na fila querem crianças até três anos.

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– Quanto mais restritivo o perfil, a tendência é ficar mais tempo na fila. Quanto maior o tempo de espera, menos tempo vai ter com seu filho. A motivação (por bebês) gira em torno da vontade de passar por todas as fases da infância daquela criança. Também pelo ideal que a criança pequena traria menos problemas ou teria mais tempo para ajustar sua conduta. A gente procura desmitificar isso, o fato da idade da criança não é por si um problema. Eu sempre falo nos cursos: se você não quer ter problemas, não seja pai e mãe – aponta.

Hélio Antunes é a prova que a adoção tardia, considerada a partir dos oito anos, está longe de ser um problema. O pai do Lucas diz que o importante é a criança ter o amparo de um lar para então se desenvolver:

– É muita pretensão nossa querer moldar alguém. Com esse pensamento, podemos adotar qualquer criança independente da idade. Esse preconceito com a idade, eu tenho experiência e posso dizer, não tem o porquê de existir. O Lucas é um filho maravilhoso. Eu tive muita sorte.

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O juiz Martins reforça que foram adotadas algumas estratégias para incentivar a adoção tardia. Além de fazer um trabalho de conscientização no curso de pretendentes, oferecido durante o processo de habilitação dos interessados, neste ano foi criado o sistema de Busca Ativa. A ferramenta, que pode ser acessada por pretendes, tem informações sobre crianças e adolescentes acolhidos, que estão aptos, mas sem perspectiva de adoção. Os acessos começaram em novembro e cerca de 300 pessoas manifestaram interesse em conhecer mais detalhes dos perfis expostos. Outra estratégia é incentivar o apadrinhamento afetivo no Estado.

– O objetivo não é a adoção, é a convivência familiar e comunitária desse adolescente para que possa desfrutar do contato. Mas o que a prática nos mostra é que do apadrinhamento nasce o interesse pela adoção – explica.