O telefone toca na casa do superintentende do Grêmio Antônio Carlos Verardi. É noite de 25 de junho e a Argentina, horas antes, havia vencido a Nigéria por 3 a 2, dentro de um Beira-Rio pintado de azul e branco, como se fosse Monumental de Nuñez em dia de jogo da seleção. Do outro lado da linha, com a habitual voz baixa, fala Alejandro Sabella.

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– Somos amigos até hoje, mesmo passados 28 anos de sua passagem pelo Grêmio – comove-se Verardi.

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Na ligação, Sabella conta sua surpresa com o fraco desempenho do Brasil na Copa. Sincero, deixa escapar que não confia em um melhor desempenho da seleção que dirige.

O andamento da competição se encarregaria de levar a Argentina à decisão contra a Alemanha, neste domingo. Quando a partida se encerrar, o treinador poderá realizar o sonho de dar a volta olímpica no Maracanã, cultivado desde a época de jogador, numa carreira que também inclui River Plate, Sheffield e Leeds United, da Inglaterra, e Estudiantes de La Plata.

Mais de uma vez, esse desejo foi relatado por Sabella a amigos, em longas conversas na sala de visitas de sua casa, no bairro de Tolosa, em La Plata, a menos de 60 quilômetros de Buenos Aires. Quem faz a revelação a Zero Hora é Maximiliano Benozzi, repórter do Clarín, diário de maior circulação da capital argentina, uma das fontes consultadas para se traçar o perfil do treinador.

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A vontade de dar a volta olímpica no Maracanã se explica pela forte admiração de Sabella pelo futebol brasileiro. O que o levou, aos 31 anos, a trocar o Estudiantes pelo Grêmio, em janeiro de 1985. O clube gaúcho buscava um armador, para abastecer o ataque em que brilhava Renato Portaluppi.

– Querem um criador? Tragam o Sabella, do Estudiantes – sugeriu Hugo de León, ainda impressionado com a performance no argentino na Batalha de La Plata de 1983, um dos jogos-chave da conquista da primeira Libertadores pelo Grêmio.

Foto: Ricardo Duarte / Agência RBS

Encarregado de fechar a negociação, Antônio Carlos Verardi logo impressionou-se com o estilo cordato do jogador, temperamento que contrastava com o de outros jogadores argentinos, um tanto quanto arrogantes.

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O cidadão exemplar se misturava com o jogador qualificado. Verardi recorda uma excursão feita pelo Grêmio a Espanha na metade de 1985, para disputar o Torneio de Palma de Mallorca. A final foi contra o Barcelona.

– Sabella jogou tanto que levou uma voadora do alemão Schuster (volante do Barcelona), que foi expulso na hora. Ganhamos por 1 a 0, gol do Bira, e fomos campeões – suspira o dirigente.

Sabella deixou o Grêmio no final de 1986. Brincou, na época, que se ficasse mais “morreria” nas mãos do preparador físico Gilberto Tim, conhecido por tirar o máximo dos jogadores.

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Depois da Copa, seja qual for o resultado, Sabella encerrará sua passagem pela seleção argentina. Aos 59 anos, fluente em três línguas, quer ter tempo para leituras de livros de História, um de seus maiores prazeres. Outro é reunir-se com amigos em pizzarias para explicar táticas. Ou para falar no ex-presidente Juan Domingo Peron, ídolo da época em que estudava Direito na Universidade de Buenos Aires e fazia militância política.

– Ele é encantado por La Plata. Um homem que não se incomoda em ser reconhecido enquanto faz compras no bairro – conta Maximiliano Benozzi.

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