Adaptação de “O Tempo e o Vento” para televisão é uma versão ampliada da trama exibida nos cinemas

Nem de perto a versão cinematográfica de O Tempo e o Vento, vista por 707 mil pessoas nos cinemas, apresentou tudo o que foi escrito pelos roteiristas Letícia Wierzchowski e Tabajara Ruas e filmado pelo diretor Jayme Monjardim. Os trechos suprimidos reaparecerão na versão estendida da adaptação da obra de Erico Verissimo, que será apresentada em forma de microssérie em três capítulos, entre quarta e sexta-feira, na RBS TV.

Uma geração inteira da família Terra-Cambará que foi praticamente limada na edição levada ao cinema vai compor um dos núcleos da nova narrativa, que vai ao ar após Amor à Vida. É a geração de Bolívar (Igor Rickli), o filho de Rodrigo Cambará (Thiago Lacerda) e Bibiana Terra (Marjorie Estiano/ Janaína Kremer/Fernanda Montenegro), e mais a sua mulher Luzia (Mayana Moura) e o seu primo Florêncio (Rafael Cardoso). Licurgo (Marat Descartes), filho de Bolívar e Luzia, é outro que aparecia brevemente nos cinemas – e vai ganhar mais espaço na televisão.

– O Jayme tinha de fazer escolhas – diz o ator Rafael Cardoso, por telefone, desde o Rio, sobre a não aparição de seu personagem na versão cinematográfica. – Ele falou comigo, foi um ótimo papo. Quando filmamos, disse que ainda não sabia ao certo o que ficaria no longa-metragem e o que seria guardado para a TV. Mas deixou todos nós cientes de que muita coisa teria de ser cortada, porque era impossível condensar tudo em um filme. No fim, acho que ele fez escolhas acertadas.

A estrutura narrativa seguirá a mesma: em seu leito de morte, uma Bibiana envelhecida recebe a visita do fantasma do amor da sua vida (o Capitão Rodrigo) e, ao lado dele, relembra a saga de seus antepassados desde o século 18, com a união da sorocabana Ana Terra (Cléo Pires) com o índio mestiço Pedro Missioneiro (Martín Rodríguez), simbólica da mistura que marcaria as futuras gerações de gaúchos. A divisão da história em três capítulos permitiu a Monjardim fracionar a produção em três fases históricas, que serão apresentadas em cada noite em que a microssérie for ao ar.

Em entrevista concedida por e-mail a Zero Hora, o diretor identificou cada uma das três partes da trama pelos seus personagens-chave:

– Serão três momentos: Ana Terra, Capitão Rodrigo e Bolívar. Todos os três costurados pela Bibiana no sobrado cercado. É como se viu no filme, com a diferença de que o núcleo do Bolívar ganhará corpo.

Exibido nos cinemas entre setembro e novembro, o longa foi visto por muito menos espectadores do que o projetado por seus distribuidores (a produtora Rita Buzzar sonhava com 3 milhões de ingressos vendidos). Mas a performance é bem-vista pelo diretor.

– Para um épico, gênero quase não explorado pelo cinema nacional, ainda mais hoje, uma época de muitas comédias, podemos dizer que o resultado nas bilheterias foi excelente – define Monjardim. Na televisão, é certo que o número de pessoas a assistirem a uma das mais badaladas adaptações de O Tempo e o Vento vai ser multiplicado.

ELES ESTAVAM DE FORA

Atores gaúchos como Carlos Cunha e Fernanda Carvalho Leite, que praticamente não eram vistos na versão do longa-metragem, devem aparecer mais na microssérie O Tempo e o Vento. Mas o espectador que assistiu ao filme vai sentir diferença mesmo no desenvolvimento dos conflitos do núcleo encabeçado por Rafael Cardoso, Igor Rickli e Mayana Moura – os três ficaram de fora da edição para o cinema. Eles representam a geração dos Terra-Cambará imediatamente posterior à de Rodrigo e Bibiana, que por sua vez sucedeu a de Pedro Terra, o filho de Ana Terra e Pedro Missioneiro. Na trama, uma Bibiana envelhecida narra a saga familiar e vê os mais jovens vislumbrarem os novos tempos para seus descendentes.

Confira a entrevista completa com o diretor Jayme Monjardim

QUEM É QUEM

BOLÍVAR (Igor Rickli) – Filho de Bibiana e do Capitão Rodrigo, viveu entre 1830 e 1856.

LUZIA (Mayana Moura) – Carioca, chegou com o avô a Santa Fé e lá se casou com Bolívar em 1853.

PEDRO MISSIONEIRO (Martín Rodríguez/ Matheus Costa) – Nascido nas Missões, filho do estupro de uma índia por um bandeirante. É morto por Maneco após engravidar sua filha Ana.

AGUINALDO SILVA (Carlos Cunha) – Agiota de passado obscuro, apareceu em Santa Fé em 1845 com a neta Luzia. Lá, tomou a casa de Pedro Terra como pagamento de uma dívida e, no terreno, construiu o sobrado onde é narrada a história.

LICURGO (Marat Descartes) – Filho de Bolívar e Luzia, cresce ligado à lida campeira. Vira abolicionista. Adepto do governo de Júlio de Castilhos, resiste ao cerco do sobrado em 1895, momento em que Bibiana relembra a saga de seus antepassados.

BIBIANA (Fernanda Montenegro/Janaína Kremer/Marjorie Estiano) – Filha de Pedro Terra, casou-se com o Capitão Rodrigo Cambará contra a vontade do pai. Viúva, incentivou o filho Bolívar a se casar com Luzia para recuperar a antiga propriedade da família.

CAPITÃO RODRIGO (Thiago Lacerda) – Forasteiro fanfarrão, chegou a Santa Fé em 1828, depois de participar de várias guerras. Conquistou Bibiana e se casou com ela. Morreu na Guerra dos Farrapos.

JUVENAL TERRA (Cris Pereira) – Irmão de Bibiana, é o primeiro a aceitar Rodrigo em Santa Fé. Os dois se tornam amigos e, depois, sócios em um armazém.

MANECO TERRA (Luiz Carlos Vasconcellos) – Filho de um tropeiro paulista vindo de Sorocaba, se estabelece com a família em um rancho no pampa no século 18, duas gerações antes de Juvenal e Bibiana.

ANA TERRA (Cleo Pires/Suzana Pires) – Filha de Maneco, apaixonou-se por Pedro Missioneiro, índio mestiço acolhido por sua família no rancho. Pedro e ela têm um caso. Ela engravida. Ao saber disso, Maneco mata o forasteiro em 1778. Ana batiza o filho de Pedro Terra.

PEDRO TERRA (Eduardo Correa/Cacá Amaral) – O filho de Ana Terra e Pedro Missioneiro foi acolhido com sua mãe em Santa Fé no alvorecer do século 19. Juvenal e Bibiana são filhos de Pedro Terra, netos de Ana.

ALICE TERRA (Elisa Volpatto) – Mulher de Licurgo, de quem também é prima (é neta de Juvenal). Sua irmã Maria Valéria (Vanessa Lóes) também é se apaixona por Licurgo, sentimento que mantém oculto.

RICARDO AMARAL (José de Abreu) – primeiro povoador de Santa Fé, coronel mandachuva do local, avô de Ricardo Amaral Neto e bisavô de Bento Amaral (Leonardo Medeiros).

RICARDO AMARAL NETO (Paulo Goulart) – Ele e seu filho Bento são os principais antagonistas dos Terra-Cambará. Na Revolução Farroupilha, quando Rodrigo tenta tomar o casarão dos Amaral, as desavenças chegam a um desfecho trágico.