O motorista acusado de causar um acidente na Beira-Mar Norte e matar uma jovem de 20 anos em agosto de 2006 foi sentenciado, na tarde desta quarta-feira, a dois anos e quatro meses no regime aberto.Após quase nove horas de júri popular, por uma decisão de 4 votos a 3, os jurados entenderam que o cirurgião-dentista Walter Duart Pereira deveria ser condenado por homicídio culposo (sem intenção de matar) – e não com dolo eventual, como pedia a promotoria. A pena poderá ser substituída por 12 cestas básicas e prestação de serviço à comunidade.?

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Walter também ficará sem habilitação por sete meses. Familiares do réu comemoram a decisão após o fim do julgamento, mas não quiserem dar entrevistas. O réu e o advogado também saíram sem se pronunciar. Já a família da jovem saiu bastante abalada do julgamento. A irmã de Mariana, Carolina Costa Bento, disse todos estão inconformados com o resultado:

– Não sei os motivos que levaram os jurados a não entenderem isso, mas com certeza vamos recorrer e buscar justiça para o que aconteceu com a minha irmã. A sociedade também precisa desta resposta. Está mais do que claro que ele sabia das consequências, furou dois sinais, parou no carro em que eles estavam, mas poderia ter sido qualquer outro – lamentou.

O promotor de justiça, Daniel Paladino, que comandava a acusação, adiantou que irá analisar novamente os fatos e pretende recorrer da decisão:

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– É um caso muito complicado, esta discussão em torno do dolo eventual em acidentes de trânsito. Apesar de não ter tido o resultado esperado, foi uma decisão alentadora, poucos casos deste tipo são levados a júri – explicou.

Julgamento marcado pela emoção

O julgamento iniciou por volta das 9h da manhã de quarta, e o primeiro a depor foi Andrei Damasceno, namorado de Mariana na época e condutor do veículo em que os dois estavam. Ele relatou que os dois namoravam há quatro anos, e que Mariana tinha recém começado a faculdade de Administração. No dia do acidente, os dois foram a uma festa na Lagoa da Conceição, e na volta ele pediu o Kadett de um amigo emprestado para levar a namorada em casa. Em seguida, o casal resolveu fazer um lanche em um local próximo à Ponte Hercílio Luz e passaram o sinal na Beira-Mar para entrar em uma travessa, quando sentiram o impacto. Depois disso, Andrei recorda somente ter acordado no hospital.

O jovem ainda relatou que ficou oito dias em coma, precisou colocar 12 parafusos no fêmur, seis no braço e sofreu uma embolia pulmonar. Na recuperação, Andrei ficou oito meses de cadeira de rodas e quatro de muletas, até conseguir voltar a andar.

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– Ainda tenho sequelas emocionais. A última coisa que me lembro é do sorriso dela – falou em depoimento.

Testemunhas relataram que homem atravessou o sinal vermelho

Em seguida, um casal que testemunhou o acidente depôs sobre aquele dia. Eles relataram que estavam em seu veículo parados no semáforo quando viram pelo retrovisor a caminhonete de Walter vir em alta velocidade e colidir com o Kadett na frente deles. Contaram ainda não ter visto o condutor no local, somente duas mulheres.?

A irmã de Walter, Mariana Pereira dos Santos, que estava no carro no momento do acidente, disse não ter visto a cor do semáforo, pois estava no banco de trás do veículo.? Ela relatou que permaneceu com o irmão no local durante cerca de 45 minutos, e teria o aconselhado a pegar um táxi para procurar um médico – Walter é cardíaco e estava com arritmia após a colisão

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Réu pediu perdão à família

Às 10h30min o réu começou a ser inquirido pelo juiz. O homem relatou que vinha constantemente a Florianópolis para ministrar cursos na área de odontologia. Disse que naquele dia havia saído para uma danceteria com a irmã e duas amigas em São José, e voltava para a casa dos pais, em Jurerê, quando aconteceu o acidente. Questionado por que saiu do local, afirmou que estava passando mal e que ficou com medo:

– Começaram a gritar que o carro poderia explodir. Eu estava com uma arritmia e as pessoas começaram a falar palavrões – disse.

No final de seu depoimento, Walter se emocionou, afirmando que é um homem comum, e que jamais teve a intenção de machucar qualquer pessoa:?

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– Foi uma fatalidade. Imagino a dor da família, mas só posso pedir perdão.

Embate entre acusação e defesa

No momento da explanação da defesa, o promotor Daniel Paladino mostrou fotos do momento do acidente, tiradas pelo radar que existia no semáforo na época. Paladino destacou para os jurados os quatro pontos que, segundo sua tese, comprovam que o réu assumiu o risco por seus atos: Walter havia ingerido álcool; estava dirigindo em alta velocidade; ultrapassou o sinal vermelho e se evadiu do local sem prestar socorro às vitimas.

O advogado de defesa, Fábio Trad, rebateu afirmando que o Walter não estava embriagado e permaneceu no local até a chegada do socorro. Ele ainda ressaltou que seu cliente é um homem de bem, e pediu que os jurados o condenassem por homicídio culposo – quando não há intenção de matar.

Um dos momentos de maior tensão foi por volta das 16h, quando Andrei Damasceno foi retirado do plenário após se manifestar. O rapaz não se conteve quando o promotor disse que era muito duro ele ter que reviver aquele momento, e ainda ouvir que também teve culpa por não ver a Ford Ranger, conforme disse o advogado de defesa momentos antes.

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Relembre o caso:

Fotos de radares mostram que o veículo cruzou o semáforo no vermelho e atingiu o Kadett em que estavam Mariana e o namorado Andrei Damasco, então com 24 anos. O carro dos jovens atravessava a Avenida Beira-Mar Norte para entrar numa travessa. A colisão ocorreu por volta das 5h de sábado, dia 5 de agosto de 2006.

Mariana morreu no local e o namorado que dirigia o carro se feriu gravemente, mas conseguiu se recuperar. O motorista da caminhonete, Walter Duart Pereira, não prestou socorro no local e se apresentou à polícia na segunda-feira. Na época, ele negou ter ultrapassado o sinal vermelho, mas sim passado no amarelo.