O réu André Vargas, de 28 anos, pegou 47 anos e sete meses de prisão em regime fechado pelo assassinato de Thiago Polucena e pela tentativa de homicídio do irmão dele Leonardo Polucena, no Morro do 25, em 2014, em Florianópolis. David Beckhauser Santos Herold, o Americano, que também é acusado pelos crimes, não foi levado a julgamento porque a sua defesa conseguiu desmembrar o processo e marcar uma sessão em separado para o dia 17 de maio.
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A sentença foi lida às 19h30min no Tribunal do Júri da Capital pelo juiz Marcelo Volpato de Souza e causou revolta a familiares do réu André, que protestaram no plenário e avaliaram o tempo de condenação como “palhaçada”. Os crimes pelos quais houve a condenação foram homicídio, tentativa de homicídio, disparo de arma de fogo, maus tratos a animais, simulação da qualidade de servidor público, posse de arma ilegal e organização criminosa. O juiz negou o direito ao réu de recorrer em liberdade.
Responsável pela acusação, o promotor Wilson Paulo Mendonça Neto sustentou, a partir de depoimentos de familiares, policiais, relatórios de investigação, interceptações teletônicas e a arma encontrada com André, que ele está diretamente envolvido com a execução. Thiago foi morto na manhã do dia 26 de março de 2014 a mando da facção Primeiro Grupo Catarinense (PGC), conforme a promotoria.
O julgamento evidenciou mais uma vez em Florianópolis a imposição do crime organizado nas comunidades, o medo delas em virar vítima e a lei própria dos bandidos que impera sobre a população refém da violência.
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O crime
Eram 6h30min quando criminosos armados, vestidos de pretos, encapuzados e se dizendo policiais, chegaram atirando contra a casa da família Polucena, na Servidão Antônio Monteiro. Mais de 100 tiros foram disparados. As mulheres e as cinco crianças que estavam no local, entre elas um bebê, foram colocadas em um banheiro.Thiago Polucena e o irmão Leonardo Polucena, alvos dos bandidos que pretendiam matá-los para tomar o comando do tráfico de drogas, correram para os fundos ou pularam a janela. Thiago levou 13 tiros e morreu em uma casa próxima. Já Leonardo sobreviveu, mas após o fato saiu da cidade com o restante da família.
Para o promotor, a família Polucena também estava envolvida com o tráfico de drogas e virou alvo do PGC porque não aceitou ingressar na facção, pois atuava na oposição ao bando.
— Os policiais relataram um cenário de guerra. A gente acha que isso acontece apenas no Rio de Janeiro, mas lamentavelmente também acontece em Florianópolis – ilustrou o promotor.
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Uma interceptação telefônica reproduzida no julgamento evidenciou a ordem para as execuções dos Polucena em busca da ocupação do Morro do 25, considerado pelos criminosos lugar de renome para a venda de entorpecentes e que deveria ser liderado pelo PGC. Após os crimes, ao cumprir buscas, a polícia localizou na casa em que André e Americano estavam, no Saco dos Limões, uma das armas utilizadas: uma pistola Glock que estava escondida em um travesseiro. No júri, André admitiu que havia comprado a pistola para defesa pessoal em razão de uma dívida de R$ 2 mil que adquiriu por ser usuário de maconha.
Defesa
O advogado Francisco Ferreira, defensor de André Vargas, apontou a negativa de autoria do seu cliente e a inexistência de provas para condená-lo. Ele rebateu o depoimento em juízo da mãe de Thiago, que afirma ter identificado André e Americano como autores.
— Na polícia esta mãe não o fez (a identificação) porque ela não identificou essas pessoas — garantiu o advogado sobre a suposta inocência de André.
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Francisco exibiu duas vezes uma entrevista dada pela mãe dos Polucena logo após os crimes em que ela afirma que não havia identificado nenhum dos atiradores na casa. Após o julgamento, o advogado de André afirmou ainda que irá recorrer da sentença no Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Ele considerou muito desproporcionais as penas aplicadas.