Simuladores veiculares desenvolvidos em uma parceria do Denatran com a UFSC serão obrigatoriedade para quem for tirar a carteira para carros a partir do ano que vem. A coordenadora-geral de qualificação do fator humano no trânsito, Maria Cristina Hoffmann conversou com o Diário Catarinense por telefone sobre a expectativa da redução de acidentes no país com o uso dos equipamentos.
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Diário Catarinense – Como foi o processo para definir o uso dos simuladores?
Maria Cristina Hoffmann – Em 2009, o Denatran fez um termo de cooperação técnica com a UFSC, por meio da Fundação Certi, a fim de que eles preparassem um estudo para simulador de direção, para complementar a formação do condutor. Foi acompanhado como o protótipo ajudava para os alunos. Depois, a equipe apresentou um documento final, que nos dizia como deveria ser o simulador, o que seria importante ter, quantas aulas tinha que ser. Foram definidos blocos de conteúdo de aulas, de conceitos básicos a situações de risco. O aparelho simula situações para o aluno aprender a ter controle dos veículos. Um estudo dos EUA comprova que o uso do simulador pode reduzir em até 50% os acidentes. O aparelho já é usado na Noruega, na Índia. Em alguns países, o uso é obrigatório, em outros, não.
DC – Por que não se decidiu para o uso opcional no Brasil?
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Maria Cristina – Porque tudo o que é opcional, pode não ser considerado. No estudo feito pela universidade, o aparelho vai contribuir muito no processo de formação. São 43 mil mortos por ano no país e a formação dos condutores aqui é muito deficitária. O interesse dos alunos tem sido primeiro tirar a habilitação e não o processo educacional. Estamos tentando deixar melhor também as provas práticas, teóricas, a formação e educação do condutor. O uso do simulador é uma das tentativas de se dar resposta à sociedade e a Organização Mundial da Saúde para que se consiga diminuir as mortes no trânsito.
DC – Aqui em SC, as associações apontam que ainda não foi adquirido nenhum simulador. Como a senhora vê esse processo de implantação?
Maria Cristina – Temos ficado com contato com as autoescolas e eles apoiam os simuladores. Claro que tem alguns lugares que precisarão se estruturar mais do que hoje. Mas agora temos três empresas homologadas e mais três em análise. Em mais um mês, devemos ter seis empresas fornecendo o aparelho. O CFC espera também ver se consegue um negócio melhor. O simulador tem o mesmo preço de um carro mas um carro tem um desgaste muito maior. O simulador acaba sendo um investimento.
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Pelo que vemos, o aumento para os motoristas será insignificante. O INSS gasta R$ 10 bilhões por ano com pessoas que sofreram acidente de trânsito. Se for comparar, o gasto de R$ 10 a mais na habilitação não é tão importante. Quando alteramos o processo de formação, implementamos educação no trânsito nas escolas, fazemos uma mudança de cultura e, com veículos e vias mais seguras e ação do Estado com fiscalização, acreditamos que é possível diminuir a quantidade de acidentes e mudar o quadro. É um processo que tem que ser contínuo.
DC – Como funcionará a fiscalização, para se conferir as autoescolas que utilizam o simulador?
Maria Cristina – A autoescola trabalha com biometria. Quando o aluno abre o processo para conseguir a habilitação, o CFC só consegue abrir o processo se estiver tudo certo. E o simulador é controlado via online. Então, o CFC será obrigado a se adequar até essa data, senão, não poderá abrir o processo para novos condutores.
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DC – Todos os CFCs precisam comprar o simulador?
Maria Cristina – Não, abrimos a possibilidade para o uso compartilhado, que pode ser adotado em cidades menores, com menos alunos. O instrutor e o aluno colocam a biometria e quando fecharem a aula, outro abre, é um controle operacional.
DC – Vocês preveem a implantação de simuladores para alunos que tentam tirar carteira de moto?
Maria Cristina – Sim. A UFSC está desenvolvendo um projeto para moto. Mas ainda está só na parte inicial de análise. A gente sabe que é importante, para nós é um absurdo a quantidade de acidentes com motociclistas. O projeto de cooperação técnica começou em janeiro e o resultado parcial esperamos que saia até outubro, novembro.
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